A produção de conhecimento descolonizado e contra-hegemônico sobre coletivos subalternos, contribui com as atuais reflexões e movimentos autocríticos das ciências humanas e sociais em geral. A pesquisa aqui proposta reconhece a variedade epistêmica e política do mundo, com sua diversidade de histórias locais em relação e conflito com a modernidade européia (Santos 1995, Mignolo 2003). A crítica à normatividade e o reconhecimento da pluralidade e da heterogeneidade são hoje algumas das principais preocupações na academia. Em conjunto, os interesses desta pesquisa são dirigidos pela ideia de trabalhar no mundo e trabalhar a modo de mudá-lo. A pesquisa aqui proposta se relaciona a um conjunto de inferências empíricas que se produzem a partir de uma sensibilidade que tem conseqüências políticas, que reconhece que o trabalho acadêmico é performativo e que o conhecimento é sempre uma interferência no mundo (Law e Singleton, 2013:501).
O projeto em tela favorece a inserção social da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), especialmente seu Depto de Antropologia e Arqueologia, através da comunicação de conhecimentos para públicos não acadêmicos e produção de materiais didáticos e paradidáticos para ensino fundamental e médio. Nesse sentido, o projeto auxilia no atendimento das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tratam da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas. O cumprimento da legislação, entretanto, ainda esbarra tanto na falta de informação quanto na resistência de famílias e, muitas vezes, das próprias escolas, em assumir integralmente o compromisso em dar espaço e visibilizar, nas práticas de ensino, outras narrativas e outros lugares de fala que não o eurodescendente, branco, masculino, heterossexual e cristão. Pra viabilizar o respeito às diferenças culturais é necessário informação de qualidade, informação disponível para acesso amplo e irrestrito.