Nome do Projeto
Iconografia da música nos vasos italiotas e outros suportes (coroplástica, numismática, pintura mural e glíptica). Estudo do ambiente intercultural greco-indígena da Magna Grécia no contexto dos processos de colonização e descolonização grega
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/08/2021 - 31/07/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
Esta pesquisa, iniciada e renovada duas vezes sob o titulo REPRESENTAÇÕES ICONOGRÁFICAS DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NA PINTURA DOS VASOS ÁPULOS: RELAÇÕES INTERCULTURAIS GRECO-INDÍGENAS NA MAGNA GRÉCIA (SÉCULO V E IV A.C. - COCEPE nº 70502002, trata dos significados da música na cultura e vida diária da Magna Grécia nos séculos quinto e início do terceiro antes da era comum, particularmente na região da Apúlia, formada por três distintas áreas geográficas e culturais (Messápia, Peucécia e Dáunia), que interagiam com a cidade colonial grega de Tarento. As fontes utilizadas são os vasos ápulos de figuras vermelhas, com representações de instrumentos musicais. Desenvolve-se uma análise sistemática deste repertório de imagens através da elaboração de um catálogo, que nos permite interpretar este material de modo a produzir um ponto de vista das relações interculturais entre gregos e populações indígenas do Sul da Itália. Nosso estudo é influenciado pelo debate pós-colonial sobre relações culturais entre colonizadores e colonizados, deslocando-se do conceito de helenização, sob a inspiração dos paradigmas da transculturação e, mais recentemente, da hibridização. Os instrumentos musicais são analisados como indicadores étnicos dos processos de negociações culturais de identidades e memórias entre as populações nativas, com a sua própria herança cultural, e os modelos da Grécia metropolitana, trazidos pelos colonizadores, assim como pelos contatos comerciais diretos com os gregos, principalmente os atenienses.

Objetivo Geral

• Estudo da iconografia da cerâmica ápula do período clássico médio e final e do período helenístico inicial (430-270 a.C.).
• Inclusão do estudo da iconografia dos instrumentos musicais sobre outros suportes iconográficos (figurinhas, estátuas, altares e discos de terracota, moedas, pinturas murais funerárias).
• Alargamento da perspectiva cronológica, indo da segunda metade do séc. VI a.C. à primeira metade do séc. III a.C., de modo a se poderem perceber as mudanças dos sistemas culturais e identitários que impactam sobre as reelaborações por que passa a iconografia dos instrumentos musicais.
• Estudo da música e instrumentos musicais na vida social e cultural da Magna Grécia, considerando o contexto das cidades gregas e povos nativos.
• Debate teórico sobre fronteiras e identidades culturais, considerando a relação entre cultura material e identidades étnicas.
• Relações interculturais no contexto colonial entre povos gregos e não gregos. A representação iconográfica dos instrumentos musicais, seja quanto ao seu aspecto morfológico, seja quanto ao seu contexto – realista ou idealizado – de performance, funciona como um marcador étnico, sendo um instrumento para estudo dos fenômenos da interculturalidade e hibridização, no âmbito das relações ditas coloniais entre gregos metropolitanos, gregos coloniais (o correspondente, guardadas as especificidades históricas, aos nossos criollos latino-americanos) e nativos.
• Inclusão, além da perspectiva étnico-identitária, de eixos transversais interpretativos, relacionados a temáticas como gênero e erótica, crenças funerárias e influência de cultos de mistério, práticas musicais e artísticas, tradições mitológicas, educação e rituais de passagem.
• No âmbito dos estudos temáticos, tanto quanto possível, estabelecer interfaces entre o testemunho iconográfico e os realia (vestígios de instrumentos musicais antigos, encontrados em contexto funerário).
• Desenvolver paralelamente observações e estudos de recepção moderna de temas centrais da pesquisa (recepção moderna da iconografia dos instrumentos musicais antigos; usos identitários, patrimoniais, turísticos e educativos do passado da Magna-Grécia no presente).
• Com base nos resultados de pesquisa, contribuir com debates teóricos e definições metodológicas mais amplas, com referência à intepretação de imagem, metodologia de pesquisa com repertórios imagéticos e processos de colonização/descolonização, em particular Grécia ocidental (Magna Grécia).

Justificativa

A pesquisa segue em curso, dado o grande volume de material coletado e as várias perspectivas de reflexão abertas por este material. Concluídos já os catálogos referentes à cítara ápula e à harpa, no momento, junto aos bolsista de I.C., está sendo confeccionado o catálogo de representações do sistro ápulo nos vasos italiotas, que já totaliza cerca de 200 vasos. Após este, serão realizados os católogos dos demais instrumentos (aulos, lyra, kithara e cítara helenística, tympanon). Todos estes catálogos, uma vez organizados, constituem material para pesquisas temáticas. A exemplo disto, no momento, está sendo
confeccionado catálogo temático sobre as cenas com instrumentos musicais junto à tumba. As temáticas incluem perspectivas variadas, tais como gênero, sexualidade, educação, morte, identidade, relações interculturais, prática música, religião, entre outros.

Metodologia

A análise individualizada dos documentos visuais somente tem alcance quando entendida dentro do seu conjunto, de sua série documental – do contrário, teremos apenas uma análise formal de interesse estético, sem alcance para se pensar o quanto a produção figurativa nos permite entender sobre a sociedade e a cultura de uma determinada época. Para se alcançar, por meio desta análise sistemática, classificações e categorizações, é necessária a decodificação dos vários elementos (signos) que compõem a imagem, permitindo uma descrição de seus elementos (Botti, 2003: 111). A análise sistemática do repertório imagético visto como conjunto permite enxergar as regularidades, os padrões, mas também as rupturas, particularidades, desvios. Ambos, regularidades e desvios, colocam questões relevantes para interpretação.

Compreensão sistemática de registros imagéticos
Efetua-se um estudo sistemático e codificador, entendido como o levantamento, inventário e estabelecimento de um catálogo de vasos ápulos com representações de instrumentos musicais. O catálogo permite formular as classificações que categorizam os repertórios imagéticos em grupos ou séries temáticas, sinalizando suas transformações ao longo do período delimitado e suas variações em cada época. Possibilita estabelecer, no interior do conjunto, séries de testemunhos materiais, em que podemos aferir dados quantitativos, gerar curvas estatísticas, apontar o grau de incidência de elementos pesquisados, indicar regularidades, rupturas, continuidades, tendências (Cerqueira, 2001, p. 9).
O inventário sistemático das representações de instrumentos musicais na iconografia vascular ápula baseia-se na tabulação de dados que permitem organizar a documentação e, por meio de cruzamento, subsidiar interpretações. Portanto, os dados são lançados em uma tabela composta pelos seguintes dados classificatórios: cidade, museu, inventário; proveniência; forma; estilo; fase; atribuição; datação; identificação do instrumento musical; identificação da personagem associada ao instrumento; identificação da ação; identificação da cena; observações; fonte.
Em posse destes dados sistematizados, poderão ser propostas interpretações diversas, tais como: comparar com as abordagens e tendências da iconografia dos vasos áticos; verificar as regularidades em termos de circunstâncias sociais ou imaginárias de uso dos instrumentos musicais; observar o tipo de personagem e ação vinculado ao instrumento representado; observar tendências de permanências e mudanças ao longo do período estudado; analisar o caráter étnico dos instrumentos musicais, no cenário das relações interculturais.

Interface entre dados iconográficos e registro literário.
Após aprofundar o potencial de análise do material visual, em uma etapa subseqüente de pesquisa estes dados são colocados em diálogo com os testemunhos literários, tomando-se toda a atenção necessária, própria da arqueologia histórica (Orser, Fagan, 1995), para não processar de forma ingênua a articulação entre os registros escritos e imagéticos. É preciso, em primeiro lugar, lembrar que esta dualidade tipológica de fontes (material e escrita) é bem mais ampla do que pode parecer à primeira vista (Orser, 1992) . Em segundo lugar, é preciso estar alerta a que “a arqueologia histórica é capaz de alterar as grandes narrativas de poder que são freqüentemente representadas nos documentos, como mostramos no estudo comparativo entre fontes escritas sobre Palmares e cultura material dos sítios arqueológicos” (Orser e Funari, 2004, p. 22). E, por último mas não menos importante, a necessidade de equilíbrio no processamento das diferentes fontes e o caráter profícuo do conhecimento que advém deste jogo (Lima, 2002, p. 12).
Há que se cuidar que os autores da Grécia metropolitana tendem a gerar uma visão etnocêntrica dos acontecimentos e da cultura dos povos não gregos do mundo colonial. Burgers (2004) alerta sobre os riscos da visão “helenocêntrica” de textos gregos tardios, como Estrabão. Neste sentido, as fontes materiais e iconográficas têm um caráter privilegiado no sentido de possibilitar acesso direto às visões de mundo dos colonos gregos e povos não gregos da Itália meridional.
O levantamento de testemunhos literários deverá dar atenção privilegiada à produção textual do mundo grego colonial, em que se destacam autores tais como Xenócrates de Locri, inventor da “harmonia locriana”, Íbico de Régio, Glauco, Alexis de Thurioi, Leônidas de Tarento, Timeo de Locri, Lico de Reggio, entre outros. Autores gregos do período coevo, assim como autores do período imperial, podem trazer contribuições importantes, tais como Aristóxenes, Estrabão, Pólux, Ateneu e Plutarco, nestes dois últimos havendo uma série de referências a músicos, e instrumentistas da Magna Grécia e Sicília (Guzzo, 1990).

SOBRE PERSPECTIVA DA ARQUEOLOGIA DA IMAGEM
A Arqueologia da Imagem, para o estudo das imagens que configuram a iconografia da música, consiste na abordagem que leva “em conta os vários tipos de objetos que serviram de suportes dessas imagens ou que eram eles próprios imagens” (Sarian 1999: 70). Neste sentido, na nossa pesquisa, consiste em desenvolver uma reflexão que se ancora no diálogo entre as imagens pintadas sobre vasos e as imagens registradas sobre suportes os mais variados, tais como figurinhas em terracota, discos ritualísticos, brincos, apliques de sarcófagos, altares, espelhos, elementos arquitetônicos, estelas, moedas e pinturas parietais funerárias.
SOBRE PERSPECTIVA DA ARQUEOLOGIA DA MÚSICA
A Arqueologia da Música está entre os campos epistemológicos que possibilita um olhar para os comportamentos e sons do passado musical a partir de uma perspectiva bastante ampla, que desfruta de diálogos interdisciplinares e ao mesmo tempo busca compreender as experiências musicais pretéritas enfocando objetos ou fontes variadas, sempre se referindo porém ao homem e sua música .

Indicadores, Metas e Resultados

• Elaboração de catálogo sistemático de representações iconográficas de instrumentos musicais na cerâmica ápula.
• Elaboração de mostra representativa de representações iconográficas de instrumentos musicais sobre outros suportes (coroplástica, numismática, pintura mural e glíptica).
• Identificação de regularidades e desvios de padrões na representação de instrumentos musicais, considerando elementos diferentes de análise (gênero, atores sociais, personagens mitológicos, ação, contextos funerários, cenas de vida diária, contextos imaginários, espaço, relação com cultura material associada).
• Identificação de continuidades e rupturas na abordagem iconográfica dos instrumentos musicais e temas correlatos, com seus contextos míticos e cotidianos, considerando o horizonte dos modelos da Grécia metropolitana, as heranças das culturas locais, as influências orientalizantes e as expressões novas resultantes das relações interculturais entre populações gregas e não gregas.
• Interpretação dos significados culturais e sociais dos usos e representação dos instrumentos musicais, de modo a se compreender os fenômenos da transculturação e hibridização na sociedade ápula do período tardo-clássico e helenístico inicial, assim como outras dinâmicas da vida social e cultural (e.g. esfera amorosa, esfera funerária, esfera religiosa, religião).

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Ana Beatriz de Santana Bandeira Santos
CAROLINA KESSER BARCELLOS DIAS
DANIEL INACIO BECKER
FABIO VERGARA CERQUEIRA5
ISABELLE BRANCÃO CHAVES
JOAO PEDRO VITORIANO FABRI
VITOR NAOKI MIKI GOMES

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