A área de Português como Língua Adicional (PLA), embora venha sendo ampliada significativamente nos últimos anos devido a diversas ações que envolvem criação de programas bilaterais e multilaterais de intercâmbio, incentivo à internacionalização e desenvolvimento do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) e do programa Ciências sem Fronteiras, ainda é relativamente pequena no Brasil (MARQUES; SCHOFFEN, 2020). De acordo com Schlatter, Bulla e Costa (2020, p. 494), é uma área cuja construção “passou e passa cotidianamente pela criação e institucionalização de espaços que congregam grupos de pessoas sensíveis às demandas do seu tempo e dedicadas a buscar qualificação para a construção de projetos pessoais, quadros profissionais e áreas de formação acadêmica”.
A riqueza e o potencial de exploração e desenvolvimento da área de Português como Língua Não Materna (PLNM), que inclui PLA, podem ser verificados em eventos como o III CIPLíNM e II CIPLíNM em debate (Congresso Internacional de Português como Língua Não Materna), a partir dos eixos temáticos que contemplaram
[...] as diversas modalidade de ensino, de aprendizagem e de avaliação no âmbito de PLNM [...]: 1) Ensino e aprendizagem de PLNM nos diversos contextos; 2) Ensino de PLNM mediado por tecnologias digitais; 3) Análise, elaboração e editoração de materiais didáticos em PLNM; 4) Políticas linguísticas em PLNM no Brasil e no mundo; 5) Teorias linguísticas e práticas pedagógicas no(s) processo(s) de ensino e/ou de aprendizagem de PLNM; 6) Formação de professores de PLNM em contextos diversos; 7) Questões culturais, interculturais e transculturais em PLNM; 8) Práticas avaliativas e exames de proficiência em PLNM; 9) Literatura(s) no ensino de PLNM.
Na área de PLA, identifica-se escassez de estudos sobre ensino de PLA para fins acadêmicos, bem como de recursos e materiais didáticos voltados para esse público específico (CARNEIRO, 2019; STUMPF, 2021). Conforme mapeamento realizado por Marques e Schoffen (2020), a modalidade de extensão é a forma predominante de oferta de PLA na maioria das universidades federais brasileiras e os eixos do ensino e da pesquisa são pouco contemplados nas ações das universidades. Nesse sentido, “é necessário incentivar a inserção da área de PLA também nos eixos de ensino e pesquisa, a fim de consolidar a contribuição da área e garantir fomento e espaço dentro das instituições” (MARQUES; SCHOFFEN, 2020, p. 408). Os dados de Marques e Schoffen (2020) corroboram os de pesquisas anteriores:
[...] apesar de a robustez da extensão ser um indicativo de uma área bastante alicerçada na prática, e, embora isso possa inicialmente ser entendido como positivo, a sobreposição desse eixo aos do ensino e da pesquisa pode acarretar prejuízo ao desenvolvimento proporcional entre teoria e prática e reduzir a visibilidade institucional da área, limitando seu espaço de intervenção em instâncias dentro da universidade e fora dela (FURTOSO, 2015 apud MARQUES; SCHOFFEN, 2020, p. 408).
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) participa desse cenário. É uma das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras voltadas à internacionalização; apresenta uma série de ações em internacionalização articuladas com diversos convênios interinstitucionais firmados e ativos, com extensa mobilidade acadêmica (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, 2018). Em 2016, ocorreu a criação da Coordenação Pedagógica da área de Português para Estrangeiros no programa Idiomas sem Fronteiras. Em 2017, foi criado o Programa Português para Estrangeiros (PPE), com o objetivo de fomentar ações de internacionalização da universidade que, em 2018, aprovou seu Plano de Planejamento Estratégico de Internacionalização, que prevê a expansão e a promoção do estudo de Português para Estrangeiros na universidade por meio de uma série de estratégias que envolvem: 1) a oferta contínua do ensino de Língua Portuguesa (LP) a estrangeiros, 2) a divulgação da aplicação do exame Celpe-Bras para a comunidade acadêmica da UFPel e para as universidades parceiras estrangeiras e 3) a definição da área de Português para Estrangeiros como prioridade institucional e área estratégica da universidade a fim de atrair alunos estrangeiros e difundir a cultura brasileira (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, 2018). Também em 2018, ocorreu o primeiro concurso para docente efetivo na área de PLA na UFPel, no qual a proponente desta proposta de pesquisa foi aprovada, tomando posse no ano de 2021.
Em 2020, há um novo marco na história da universidade que envolve e impacta diretamente a área de PLA, a instituição da Política Linguística da UFPel. Os objetivos da Política Linguística que contemplam a área são: “viabilizar o acolhimento, a formação e o acompanhamento em língua portuguesa para falantes de outras línguas” e “promover ensino, pesquisa e extensão em português como língua adicional”; as ações, por sua vez, envolvem a “oferta de cursos de português para falantes de outras línguas” e o “incentivo à institucionalização do Português como Língua adicional no Centro de Letras e Comunicação” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, 2020, p. 2-3).
No contexto latino-americano no qual a UFPel se insere, Schlatter, Bulla e Costa (2020, p. 495-496) apontam, como especificidades e desafios da área de PLA, as
[...] relações que podem ser estabelecidas entre proximidades linguísticas e sócio-históricas. Isso inclui, por exemplo, refletir acerca dos usos das línguas nesse cenário em diferentes esferas de atuação, da necessidade de distinguir português e espanhol e para quais finalidades, das (im)possibilidades de intercompreensão, das demandas por determinados níveis de proficiência como marcadores de diferenças sociais, como porta de acesso ou barreira à cidadania, a bens culturais e à circulação em diferentes espaços sociais. Como sabemos, as relações de poder associadas ao uso das línguas são complexas e, ao mesmo tempo em que refletem e refratam relações mais amplas, histórico-político-culturais entre os grupos sociais implicados, possibilitam negociações no aqui e agora que demandam esforço e empatia para alcançar metas comuns, se assim for necessário ou desejado. [...] Os desafios, portanto, são iguais para todos: compreender onde os alunos precisam ou querem chegar e, aí sim, estabelecer as metas e compreender os desafios a serem enfrentados. p. 495-496).
A presente pesquisa se insere nesse contexto de promoção de pesquisa em PLA e de internacionalização da UFPel e busca contribuir, a partir do mapeamento das práticas de letramentos acadêmicos em PLA em curso na universidade e da identificação de necessidades e demandas da área, com a produção de conhecimento científico em PLA e com futuras ações de internacionalização subsidiadas pelos resultados da pesquisa.