Nome do Projeto
Discurso e efeitos do contemporâneo
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/03/2022 - 01/03/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Linguística, Letras e Artes
Resumo
A palavra "contemporâneo"possui significados diferentes de acordo com cada campo do saber. Nos estudos da linguagem, especialmente na área de Análise de Discurso, o contemporâneo precisa ser pensado de acordo com a cultura e a ideologia, tanto como efeito quanto como a causa de um discurso. Assim, a noção de contemporâneo deve ser significada e ressignificada de acordo com as discursividades com as quais se trabalha e as condições de produção em que essas discursividades transparecem, já que é no discurso, e pela linguagem, que a ideologia se materializa. A metodologia e análise do corpus serão os mais variados discursos, desde que tenham, como fio condutor, a "marca" da contemporaneidade. Para isso, são bem-vindos neste projeto corpus que investigam: 1. discursos políticos, que se entrelaçam a discursos de ódio e de falsificação da história; 2. discursos sobre/do corpo que se emaranham a discursos sobre normalização das subjetividades, à discussão sobre gênero e linguagem; e 3. discursos sobre o capital, as novas moedas e a nova forma de circulação do dinheiro, em uma sociedade cada vez mais empobrecida e desigual. Dessa maneira, buscamos compreender como as marcas sociais e ideológicas - notadamente afetadas pelo tempo presente - significam nos estudos da Análise de Discurso e quais são as possibilidades de análise de materialidades discursivas, considerando essa noção como determinante. Pretende-se, com isso, contribuir para a discussão crítica dos conceitos abordados e contribuir para a produção acadêmica na área, ainda carente desse tipo de conceituação.

Objetivo Geral

Compreender as noções de "contemporâneo"e de "contemporaneidade" para a Análise de Discurso e entender sua relação com os discursos que se produzem na atualidade, a partir da seleção e investigação de diferentes corpus discursivos.

Justificativa

Piovezani (2017) realiza uma discussão sobre o fato de uma das áreas mais produtivas de pensamento na área da Linguística, a Análise de Discurso (doravante AD), no Brasil, é denominada Análise de Discurso de linha ou vertente "francesa". O autor afirma que é preciso considerar os deslocamentos que foram e são produzidos desde a concepção dessa teoria, na França, em meados dos anos 1960, e as produções brasileiras, que não cessam e se estendem a inúmeros grupos de estudo e pesquisa nas universidades brasileiras.
Nessa discussão, o autor falará sobre o discurso político contemporâneo, afirmando que é preciso considerar as "metamorfoses" que tal discurso sofreu, considerando os meios e as condições em que esse discurso era/é posto em circulação. Não há, no entanto, uma discussão mais aprofundada sobre o que significa o "contemporâneo" nos estudos discursivos. Podemos dizer que, na chamada Terceira Época da AD, ou quando Michel Pêcheux escreveu o livro "Discurso: estrutura ou acontecimento" (1983), houve um entrelace entre os estudos da linguagem e a psicanálise. Nesse momento, podemos pensar que é possível pensar o sujeito contemporâneo, como um sujeito atravessado por questões inacabadas e próprias de seu tempo.
Muitas mudanças aconteceram desde que Pêcheux publicou seu último livro e a AD foi estabelecida como um campo de estudos no Brasil. E, ainda hoje, a noção de contemporâneo (e de contemporaneidade) não é discutida com profundidade na AD. Por outro lado, na filosofia, encontramos essa discussão nos estudos de Agamben (2009), para quem a ideia de contemporaneidade pode ser traduzida como "uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias (2009, p. 59). Dessa forma, deveríamos pensar, antes de tudo, em quais discursos podem ser considerados efeitos do contemporâneo e como tais efeitos repercutem através da linguagem e das relações sociais.
Para isso, é fundamental que localizemos como esse significante "contemporâneo" se estabelece nos nossos estudos e como pode estar atrelado às materialidades que significam neste momento da nossa história. Nossa hipótese é a de que, atualmente, esse significante está afetado pelo discurso político-ideológico da sociedade ultraliberal (DUFOUR, 2005), que estende a todas as formações discursivas a mesma ideia de tempo, espaço e sujeito. Nesse discurso, o discurso do sujeito "self-made man" irrompe como um desdobramento do dizer utraliberal. A subjetividade, por sua vez, passa a se construir a partir da ideia de que cada um é responsável pela seu sucesso, por seu fracasso, por suas realizações. Se esse é o discurso que se configura na contemporaneidade, como pensar em outras organizações que resistem à formação ideológica capitalista ultraliberal? Seriam essas manifestações de qual época, de qual história? Como se inscrevem na organização disso que chamamos tradicionalmente de contemporâneo? Com qual significado de "contemporâneo" estamos lidando? Em outras palavras, seria possível resistir e produzir outros efeitos fora dessa formação ideológica?
Pretendemos discutir, ao longo dos estudos, o conceito de contemporâneo, estabelecendo as aproximações desse pensamento com a AD. Objetivamos também compreender de que forma os discursos que denominamos contemporâneos podem ser reproduções/ transformações de outros já em circulação. Questionamos se tais discursos inauguram uma nova forma-sujeito ou formação discursiva e se estão se instituindo como uma prática discursiva de resistência frente aos discursos dominantes.
Entendemos, assim, que a área de Estudos da Linguagem, especialmente a AD, é campo fértil para pensarmos essas questões, uma vez que "é na língua que a ideologia se materializa" (ORLANDI, 2012, p. 38). Por isso, consideramos as práticas discursivas desse momento histórico podem ser consideradas como efeito de um momento, ao qual chamamos como "contemporâneo", mas que precisa ser construído e significado em relação à memória e à ideologia, conceitos tão caros ao campo da AD.
Dessa forma, entendemos que é preciso articular as noções de Análise de Discurso com noções caras a outras áreas do conhecimento de forma a melhor formular o conceitos com os quais trabalhamos. Por isso, pretendemos realizar investigação bibliográfica, além de produzir análises e discussões em torno daquilo que chamamos de discursos que são efeitos do contemporâneo e suas articulações com a linguagem. São exemplos desses, corpus discursivos que tratam do discurso político; do discurso sobre/do corpo; do discurso sobre o capital, a circulação de moedas e as novas práticas de subjetivação. Dessa forma, pretendemos pensar na importância da linguagem como característica imprescindível ao estudo das relações sociais.

Metodologia

A metodologia própria dos estudos da Análise de Discurso caracteriza-se pelo movimento pendular, conforme Orlandi (2012). Para pensarmos em um "método", é preciso que possamos estabelecer um corpus de análise. O corpus, para esse projeto de pesquisa, será definido por sua relação com o contemporâneo, conforme expresso e exemplificado na seção de justificativa desse projeto. Para fins de organização do projeto de pesquisa, seguiremos os seguintes passos:
1. Estabelecimento da bibliografia: momento em que alunos e professor(es) farão o mapeamento de conceitos a serem trabalhados, a partir da leitura de trabalhos que aproximem a AD de outras áreas do conhecimento, como a linguística, a filosofia e a psicanálise.
2. Estabelecimento do corpus de análise: momento em que os alunos e professor(es) poderão elencar materialidades discursivas para análise. Para isso, serão considerados discursos que possam explorar a noção de contemporâneo.
3. Socialização dos resultados: Momento em que alunos e professor(es) poderão expor os resultados das análises, socializando conhecimentos e reorganizando-os, se necessário.
4. Produção de artigos, seminários ou minicursos sobre os temas trabalhados.

Indicadores, Metas e Resultados

Espera-se que, no desenvolvimento do projeto, os alunos desenvolvam autonomia para leituras e reflexão crítica sobre os temas estudados, bem como mobilizem conceitos investigados. Ao final, espera-se que os alunos tenham construídos análises sobre o corpus eleito para mobilização dos conceitos, e que tais resultados possam ser socializados por meio de artigos produzidos para revistas científicas como também possam ser alvo de apresentações de trabalhos em eventos internos e externos à universidade.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BRUNA MEDEIROS SILVA DE PINHO
GABRIELA AVILA MACHADO DE MORAES
GABRIELA CHAVES MARRA
LUCIANE BOTELHO MARTINS
MARIA EDUARDA AZEVEDO SOARES
MARIA EDUARDA FATTINI
MÔNICA FERREIRA CASSANA6

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