Ciente das transformações que vinham ocorrendo ao longo do século XX na compreensão do que é dramaturgia, Patrice Pavis, em "Dicionário de teatro", propõe três acepções possíveis para a palavra. Na primeira delas, dramaturgia é explicada em seu sentido original, a partir da definição presente em um dicionário de língua francesa: “arte da composição de peças de teatro” (PAVIS, 2008, p. 113). Essa visão clássica do termo vincula-se à publicação de uma peça teatral (por exemplo, "Vestido de noiva") ou à produção de determinado autor teatral (como a dramaturgia de Nelson Rodrigues, compreendendo-se aí a totalidade de suas peças) ou ainda a um certo conjunto de obras (por exemplo, a dramaturgia marginal ou a dramaturgia renascentista, expressões que abarcam a produção de um conjunto de dramaturgos agrupados por alguma característica em comum). Ainda segundo Pavis: “A dramaturgia clássica examina exclusivamente o trabalho do autor e a estrutura narrativa da obra. Ela não se preocupa diretamente com a realização cênica do espetáculo” (PAVIS, 2008, p. 113). Assim, considerando-se a visão clássica de dramaturgia, um estudo dramatúrgico terá a construção dos personagens, a estruturação dos diálogos em direção ao clímax e o posterior desfecho da trama como os principais focos de análise. Nesse caso, a peça escrita é compreendida como uma estrutura fechada em si mesma, completa, apta para ser transposta para a cena, tendo o conflito como impulsionador das ações, responsável pelo aumento gradativo da tensão dramática.
Para Pavis, a intervenção de Brecht, ao propor a forma épica de representação, conferiu um novo sentido à palavra dramaturgia, que se ampliou, passando a abrigar simultaneamente duas estruturas da peça, a formal e a ideológica. Na verdade, desde a consolidação do trabalho do encenador a partir de nomes como Antoine, Lugne-Pöe e Reinhardt, entre outros, ficou evidente que o texto encenado tem por objetivo produzir um certo efeito no espectador. Por essa razão, a concepção do encenador passou a ser entendida como determinante para a compreensão da dramaturgia do espetáculo. Em função do exposto acima, na segunda acepção de Pavis, a dramaturgia “abrange tanto o texto de origem quanto os meios cênicos empregados pela encenação” (PAVIS, 2008, p. 113).
Na terceira acepção do "Dicionário de teatro", tem-se a visão mais recente sobre dramaturgia, já que a palavra está vinculada à atualização de como é entendida a atividade do dramaturgo, que passa a compreender o trabalho em equipe com os demais criadores do espetáculo. Nessa acepção, dramaturgia designa: O conjunto das escolhas estéticas e ideológicas que a equipe de realização, desde o encenador até o ator, foi levada a fazer. Este trabalho abrange a elaboração e representação da fábula, a escolha do espaço cênico, a montagem, a interpretação do ator, a representação ilusionista ou distanciada do espetáculo. (PAVIS, 2008, p. 113-114).
Considerando essa noção mais larga de dramaturgia identificada por Pavis, agregada ao fato de que ela está presente também em outros formatos além do teatral, como no cinema, nas mídias digitais, na televisão, em produtos publicitários, nas artes visuais etc., o Laboratório de dramaturgia configura-se como um espaço de exploração de criações dramatúrgicas em diferentes formatos. Nesse sentido, ele é entendido como um amplo campo a ser explorado pedagogicamente nas escolas e nas universidades, em distintas áreas.