Na atualidade, há uma clara relação entre hábitos alimentares não saudáveis e a progressão de diversas doenças fisiológicas, incluindo disfunções imunológicas, cancerígenas, por estresse oxidativo e o envelhecimento precoce (Chandra et al., 2020). A suplementação com carotenóides à dieta fornece benefícios a saúde do organismo que a consume, como por exemplo a ação protetora relatada pela ingestão de vegetais ricos em carotenóides contra o risco do desenvolvimento de câncer. O possível potencial anticarcinogênico deste composto sugere que a suplementação alimentar pode ser uma alternativa de quimioprevenção (Steinmetz e Potter, 1991; Gloria et al., 2014; Holick et al., 2002), também funcionando como anti-inflamatório (Kajiura et al., 2018) e antioxidante (Fiedor e Burda, 2014, Stahl e Sies, 2003).
Dentre os carotenóides, aproximadamente 40 tipos possuem atividade pró-vitamina A (Ollilainen, et al., 1988), como por exemplo o alfa e o beta-caroteno, onde este último possui maior quantidade de pró-vitamina A em relação aos demais (Damodaram, et al., 2010). O beta-caroteno é um pigmento natural de coloração amarelo-alaranjada com diversos efeitos benéficos no metabolismo dos organismos vivos. Este carotenóide é o principal precursor da vitamina A e apresenta propriedades antioxidantes, fornecendo proteção contra vários fatores de estresse como a radiação ultravioleta, espécies reativas de oxigênio e radicais livres (Li, et al., 2020). O beta-caroteno também atua na regulação de genes, no sistema imunológico e na camuflagem, comunicação, interação e especiação de alguns vertebrados, sendo um aditivo nutricional essencial na dieta de tais animais (Sefc, et al., 2014).
O beta-caroteno apresenta outras funções biológicas de suma importância no crescimento e saúde dos organismos aquáticos, como peixes da Família Salmonidae, incluindo o salmão e a truta, bem como crustáceos da Ordem Decapoda, compreendendo o camarão e a lagosta (Carvalho e Caramujo, 2017). Estudos prévios já demonstraram que uma dieta rica em carotenóides aumenta drasticamente a taxa de sobrevivência dos ovos e estágios iniciais das larvas dos peixes, favorecendo assim, sua reprodução (Torrissen e Christiansen, 1995; Fukunishi et al.,2012). Além disso, a pigmentação diferenciada dos animais aquáticos propiciada pela ingestão de beta-caroteno é um dos atributos de qualidade relevante para aceitação do consumidor e valor de mercado, sem contar com o seu enriquecimento nutricional (Carvalho e Caramujo, 2017). Na aquicultura, carotenóides são considerados como requisitos nutricionais importantes na formulação das rações (Bjerkeng 2008 ; NRC, 2011), uma vez que influencia diretamente na coloração da carne do organismo produzido, logo, também no seu valor de mercado (Zeng, et al., 2010; Baron, et al., 2008). Estes organismos aquáticos são incapazes de sintetizar carotenóides, como por exemplo o β-caroteno, o maior responsável pela coloração destes animais, desta forma sendo necessária a suplementação nas dietas (Kelestemur e Çoban, 2016).
Dentre os diversos benefícios da suplementação de beta-caroteno, a atividade pró-vitamina A e a atividade antioxidante se destacam neste grupo de carotenóides. Antioxidantes podem ser definidos como substâncias que inibem a ação de espécies reativas de oxigênio (EROs) e reações de complexação de metais, uma vez que retardam a velocidade de oxidação (Pietta, 2000). O sistema de defesa antioxidante é responsável por equilibrar a formação e consumo de radicais livres no corpo, no entanto quando comprometida esta capacidade antioxidante, há o acúmulo destes EROs, podendo resultar em um estresse oxidativo (Song e Yen, 2002), a aceleração do processo de envelhecimento (Birch-Machin e Bowman, 2016) e o desenvolvimento de diversas doenças degenerativas (Valentão et al., 2002).
Nesse contexto, a busca por alternativas saudáveis, tanto para seres humanos quanto para a aquicultura, seja no tratamento de doenças ou melhoria da qualidade do pescado, levaram ao aumento de estudo abordando novas estratégias a fim de produzir moléculas bioativas para tratamento e prevenção de estresse (Chandra et al., 2020). Desta forma há o interesse de avaliar o potencial antioxidante do beta-caroteno produzido na levedura Yarrowia lipolytica em peixes.