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Atualmente, embora haja uma profusão massiva de discursos – especialmente nas redes sociais –, os espaços de escuta têm se tornado cada vez mais raros. No entanto, podemos pensar na Arte - nas suas mais variadas formas de expressão - como um espaço de resistência em meio ao turbilhão de notícias e postagens diárias pelas quais somos interpelados. Além disso, a Arte pode viabilizar um teor interpretativo diferenciado das narrativas objetivas às quais estamos sujeitos. Ou seja, no sentido da experiência formativa que alcança a consciência, tal qual desejava Theodor Adorno, retomando as palavras de Neuvald (2015), com o intuito de alcançar "uma subjetividade que resista à totalidade genérica" (p. 28).
Considerando, porém, que situações de experiência estética não estão limitadas a objetos de arte (SABISCH, 2009), trago as palavras de Larrosa (2018) no sentido de pensar o quanto processos de narrativa e escrita podem produzir experiências, ou ainda, o quanto experiências podem render produções narrativas, pois sempre temos algo para aprender, para dizer, para contar ou para escrever: “Não se escreve sobre a experiência, mas sim a partir dela. O mundo não é somente algo sobre o que falamos, mas algo a partir de que falamos” (p. 9).
O conceito de experiência é um conceito caro ao campo da Filosofia e tem abarcado discussões de áreas variadas, comumente a experiência é associada ao campo da educação, no sentido da subjetividade, do que experenciamos e como nos constituímos nos sujeitos que somos. E no que diz respeito à experiência enquanto formação, esta tem sido associada ao campo das Artes, mais especificamente da estética.
Os processos formativos de experiência estética podem ser a um só tempo, macro e micro, ou seja, analisados em sua variedade e particularidade. Em outras palavras: ao aprofundar o conceito de formação e pensar este em sua amplitude, é possível compreender elos de encontros com a alteridade, com o que pode auxiliar em processos formativos, pois afinal, o que são as práticas educativas senão encontros com o outro?
A experiência estética tende a constituir-se como momentos atrelados ao campo dos afetos, quanto mais afetados somos em processos de formação, mais potentes tendem a ser os resultados. Compreendendo processos que convocam esteticamente os sujeitos, adentramos também no terreno da ética, tão necessária em tempos que o convívio e reconhecimento do outro precisam ser reiterados.

A presente proposta de pesquisa enquadra-se na abordagem qualitativa. O material empírico da pesquisa será constituído de entrevistas narrativas, as quais serão obtidas a partir de entrevistas semi-estruturadas e/ou relatos escritos, a serem produzidos com pessoas que se disponibilizem a participar da pesquisa a partir de relatos biográficos.
Os relatos biográficos poderão estar associados a espaços educacionais, situações familiares, cenas de situações variadas, mas que em certa medida abarquem elementos de encontro com o outro, no sentido de uma alteridade que envolva processos de formação e experiência estética. Encontros estéticos que podem se caracterizar como estéticos exatamente por possibilitar o encontro ético com o outro. Este outro não precisa estar materializado, no sentido físico do termo, mas no sentido do estranhamento que possibilita o encontro, ou seja, este encontro pode ser dar a partir de uma imagem, de uma cena cinematográfica, de uma obra de arte, de um diálogo, da escuta de um relato, etc.
Com o intuito de entrevistar diferentes pessoas, para atentar às várias nuances que configuram as possibilidades de formação e experiência estética, o público-alvo da pesquisa será vasto, podendo atingir sujeitos inseridos ou não em contextos formais de educação. Inicialmente, a pesquisa será divulgada entre alunos de Cursos da UFPEL e professores da Educação Básica e do Ensino Superior. Este critério tem em vista um dos objetivos do projeto, de analisar os efeitos de formação e experiência estética no âmbito educacional, na relação com o outro.
As narrativas dos sujeitos entrevistados serão, portanto, o material bruto e profícuo de análise de experiências estéticas, no sentido de “reatualizar” fatos passados na definição bergsoniana de retomar o passado, a partir de necessidades do presente. A análise das narrativas será pelo aporte teórico da análise do discurso de Michel Foucault, que compreende a linguagem como constituinte da realidade, de forma a compreender os depoimentos obtidos como fruto de práticas discursivas. O discurso é, segundo Foucault (2007, p. 61), um conjunto no qual “[...] podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos”. Um olhar analítico que pretende contemplar um tempo “estendido”, que considere a multiplicidade, a descontinuidade, enfim, estes elementos ricos de análise de que já tratava Foucault (2007), elementos transbordantes de qualidade como pensava Bergson (2006) e como desejava Benjamin (1987), para manter a riqueza da narrativa e do passado.
A proposta de pesquisa aqui descrita desenvolver-se-á, acima de tudo, para além da coleta de material empírico, por meio de intensa pesquisa bibliográfica, com mapeamento e exploração de pesquisas, livros, artigos, teses e dissertações que abarquem a temática do presente projeto.

Uma das metas deste projeto é atingir um público variado, inicialmente estudantes da UFPEL, professores da Educação Básica e Ensino Superior e se possível, num segundo momento, idosos, pessoas que por vezes carecem de contextos de escuta e interlocução com a universidade.
Considerando os demais pesquisadores da área, durante o desenvolvimento do projeto serão firmadas e fortalecidas parcerias interinstitucionais.
Como amostra inicial, pretende-se coletar relatos de um número mínimo de 20 pessoas, com posterior análise e reorganização de ferramentas e público-alvo, caso seja necessário.
Os resultados buscarão obter dados acerca do que nos afeta enquanto sujeitos e do que pode ser viabilizado em contextos e práticas educacionais, que envolva experiências estéticas com o viés da sensibilização e promoção de encontros com a alteridade, no sentido de potencializar a própria noção de coletividade e de sociedade.
Com os resultados deste projeto de pesquisa pretende-se desenvolver ações extensionistas e de ensino, quais sejam: encontros de formação e reflexão, ciclos de debates e exposições artístico culturais.
A partir da análise dos dados obtidos, estes serão divulgados em eventos científicos e artigos.