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Com a crescente utilização da inseminação artificial a demanda por sêmen criopreservado vem aumentando nos últimos anos. Diferentes fatores interferem na qualidade espermática após o descongelamento, dentre eles destacamos o estresse térmico, que prejudica a termorregulação, e consequentemente a espermatogênese, ocasionando alteração das características espermáticas e logo a queda na fertilidade. Neste contexto, a demanda comercial por sêmen criopreservado reforça a busca por alternativas que incrementem a produção e qualidade espermática, e neste ponto, compreender os processos fisiológicos e adequar o manejo dos reprodutores, é fator fundamental no sucesso da produção.
O nosso estudo visa correlacionar o desafio térmico, pela exposição a um THI elevado durante a espermatogênese, com a cinética espermática e taxa de prenhez, bem como as alterações na composição lipídica e consequente produção de espécies reativas ao oxigênio, buscando compreender um possível mecanismo que leve a mudanças na criotolerância após estresse térmico, e então propor alternativas futuras que minimizem os danos.

A presente proposta é composta de uma abordagem retrospectiva, caracterizada pela utilização de partidas de sêmen produzidas pela empresa Renascer Biotecnologia desde 2017, bem como pela utilização de dados meteorológicos obtidos por uma estação meteorológica do INMET ao longo do mesmo período, e dados de prenhez das respectivas partidas de sêmen.
Os reprodutores bovinos foram coletados utilizando vagina artificial, em um sistema de duas coletas por semana. Imediatamente após a coleta, os ejaculados foram avaliados para motilidade total, vigor e morfologia espermática. Ejaculados com desempenho pré-congelamento acima dos padrões utilizados na empresa (> 70% morfologia total, 3 de vigor e < 20% de espermatozoides anormais), eram diluídos para obter a concentração de 20 x 106 espermatozoides/dose, utilizando o diluente comercial OptixCell (IMV® Technologies). Após a diluição, o sêmen é mantido em balcão refrigerado por 4 horas, para posterior envase em palhetas de 0,25 ml, previamente identificadas e então criopreservadas em congelador Digitcool (IMV® Technologies). Após o congelamento, as palhetas foram submersas e armazenadas em nitrogênio líquido (N2).
• A avaliação da cinética espermática foi realizada imediatamente após o descongelamento (20 segundos à 36°C), sendo realizada de maneira objetiva pelo sistema de análise de sêmen computadorizado (CASA; Hamilton Thorne Research Ivos II, Beverly, USA), onde foram obtidos os valores de Motilidade Total (MT, %), Motilidade Progressiva (MP, %), Células Rápidas (Rap, %) Velocidade curvilínea (VCL- μm/s), velocidade linear progressiva (VSL- μm/s), velocidade média da trajetória (VAP- μm/s), amplitude de deslocamento lateral da cabeça (ALH - μm), frequência de batimento flagelar cruzado (BCF- Hz), Retilinearidade (STR - %) e linearidade (LIN - %).
• Para avaliar os efeitos do desafio térmico sobre a cinética espermática foram calculados os valores do THI por hora durante os 60 dias prévios a coleta de cada partida; foi utilizado o valor do THI por hora.
● Os dados de temperatura e umidade foram obtidos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), órgão do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), a estação meteorológica está localizada próxima a empresa (latitude: -29,83987, longitude: -57,08189), possivelmente refletindo com maior precisão as condições as quais os touros estiveram expostos. Os valores obtidos foram transformados em THI, pela fórmula descrita anteriormente por Yousef et al (1985): THI= (Tdb + 0.36 × Tdp + 41.2), sendo considerado estresse térmico, quando o THI se apresentou superior ou igual a 74. As partidas foram divididas por quartis em relação ao número de dias em que o THI foi superior a 74 (THI ≥ 74), nos 60 dias anteriores à coleta de sêmen, representando assim o período de espermatogênese. Quartis 1, 2, 3 e 4 representam de 0 a 11, 12 a 22, 23 a 42 e mais de 42 dias de exposição ao THI ≥ 74, respectivamente.
● Para verificar a ação do desafio térmico sobre a produção de espécies reativas de oxigênio, serão realizadas as seguintes avaliações no sêmen criopreservado: produção de EROS, onde os níveis de espécies reativas serão determinados por um método espectrofluorimétrico, usando 2’, 7’-diclorofluoresceína diacetato (DCF-D; LOETCHUTINAT, 2005); peroxidação lipídica, pela formação de espécies reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) como descrito por Ohkawa, Ohishi e Yagi (1979); e a capacidade antioxidante total, técnica realizada através do potencial antioxidante redutor férrico (FRAP; BENZIE; STRAIN, 1966).
● Com o intuito de avaliar a qualidade e fertilidade do sêmen e correlacionar com a exposição a diferentes períodos de estresse térmico, serão avaliadas as taxas de prenhez. Para tal finalidade, serão utilizadas fêmeas de propriedades parceiras, onde as mesmas serão submetidas ao mesmo protocolo de IATF, e posteriormente será realizado o diagnóstico de gestação 30 dias (DG30) após a inseminação. Serão consideradas as partidas que tiverem mais de 50 dados de IA.

Espera-se que quanto maior a exposição dos touros a um THI associado à uma condição de desafio térmico (≥ 74), maior será o impacto negativo nas variáveis de cinética espermática, formação de estresse oxidativo e alterações de membrana. Possibilitando correlacionar tais variáveis a qualidade do sêmen criopreservado. Adicionalmente, espera-se que a variabilidade das variáveis de cinética espermática, expliquem, ao menos parcialmente, as taxas de prenhez resultantes das inseminações com as partidas analisadas.