Nome do Projeto
Narrativas da diáspora: imaginação, identidade e imigração
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
28/07/2023 - 20/12/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Sociais Aplicadas
Resumo
O projeto de pesquisa visa explorar narrativas da diáspora, com foco na interseção entre imaginário, identidade e imigração. O objetivo é entender como é formado e as características do imaginário que envolve as comunidades diaspóricas, levando em consideração o contexto histórico, bem como tais relatos contribuem para a formação da identidade cultural e individual dos imigrantes. A análise é voltada para produtos jornalísticos e culturais que envolvem a temática, produzidos tanto individualmente, quanto coletivamente, tais como: reportagens, livros (ficção e não ficção), sites com relatos de memórias, filmes, produções musicais, documentos, dentre outros. Além do Jornalismo e Comunicação, o projeto se caracteriza pela interdisciplinaridade, dialogando com áreas afins, tais como História, Geografia, Antropologia e Letras.

Objetivo Geral

Objetivo geral: Investigar o papel das narrativas da diáspora e seu imaginário na construção e transformação da identidade dos imigrantes, examinando a influência dos aspectos culturais, históricos e sociais presentes nessas narrativas.
Objetivos específicos:
- Identificar narrativas jornalísticas e literárias que envolvam imigrantes brasileiros em Portugal e Canadá e imigrantes libaneses e venezuelanos que vivem no Brasil;
- Caracterizar tais narrativas, contextualizando cada uma delas no espaço e tempo e identificando o gênero textual: jornalismo/literatura;
- Analisar os textos a partir dos conceitos de diáspora e imaginário, interpretando como essas histórias refletem as relações interculturais.
- Investigar as motivações, expectativas, dificuldades e desafios enfrentados pelos imigrantes, através de suas narrativas da diáspora, considerando os históricos de imigração em cada caso.
- Entender as representações culturais presentes nas narrativas da diáspora, analisando como esses elementos contribuem para a construção de identidades híbridas.

Justificativa

Nova Iorque é reconhecida por muitos como a cidade mais cosmopolita do mundo. Na sua formação geográfica, os imigrantes sempre deixaram sua marca. Chinatown, localizada na ilha de Manhattan, por exemplo, é uma das maiores comunidades chinesas fora da Ásia, onde a cultura e a tradição chinesas podem ser vistas em cada rua. Little Italy, por sua vez, é uma comunidade italiana histórica formada por diversas gerações de imigrantes italianos que, inicialmente, desembarcavam em Ellis Island (ilha onde fica a Estátua da Liberdade) e, depois, passaram a desembarcar nos aeroportos novaiorquinos. O Harlem, por sua vez, conta com uma numerosa comunidade afro-americana no lado Leste, epicentro de acontecimentos históricos na luta contra o racismo e que contou com a liderança de nomes como o ativista Malcon X e o escritor Ralph Ellison. Já no Oeste, a concentração maior é da comunidade hispânica, com imigrantes dominicanos, mexicanos, costa-riquenhos, dentre outros. Já os brasileiros encontram duas referências principais. A primeira, mais turística, é Little Brasil, próximo à Time Square e que conta com diversos restaurantes e lojas brasileiras. A segunda é o bairro de Astoria, no distrito do Queens, da cidade de Nova York. É lá que a comunidade brasileira se concentra, dividindo espaço com imigrantes de outras etnias, como gregos, libaneses e egípcios.
A partir disso, o escritor e jornalista Sergio Vilas Boas escreveu o romance-reportagem “Os estrangeiros do trem N”, que retrata a vida de brasileiros que vivem em Astoria e diariamente pegam o trem N para se deslocar até Manhattan. “Os brasileiros sempre ignoraram a América Hispânica. Em parte, isso explica a falta de identificação ‘assumida’ entre os imigrantes hispânicos e os imigrantes brasileiros. Ambos os lados competem por uma espécie de ‘soberba continental’, como se existisse também uma ‘América Brasileira’” (VILAS BOAS, 1997, p.147). Para escrever o livro, o jornalista entrevistou mais de 100 imigrantes brasileiros durante 1993 e 1994. Na narrativa, ele conta não apenas as histórias individuais dos personagens, mas como vai se formando uma comunidade marcada por suas próprias características, culturas e rede de apoio.
O exemplo de Nova York e Sergio Vilas Boas ilustra o tipo de narrativa que o projeto busca e a relevância social do tema. Como o caso dos Estados Unidos tem uma visibilidade maior, o projeto optou por focar na imigração de brasileiros para outros dois países: Canadá e Portugal. No entanto, o Brasil também é um país marcado pela diversidade cultural e pela formação de diversas comunidades diaspóricas. Assim, o projeto inicialmente também vai focar nas narrativas sobre dois grupos específicos, formados por libaneses e venezuelanos, conforme explicado anteriormente.
Assim, a relevância social do problema a ser investigado reside na crescente complexidade das questões migratórias no contexto global. Afinal, as narrativas da diáspora são expressões culturais que refletem as experiências e as trajetórias dos imigrantes, apresentando suas lutas, anseios, conquistas e demais experiências. Entender a influência dessas narrativas na formação da identidade dos imigrantes e no imaginário que os envolve é fundamental para promover uma sociedade mais inclusiva e multicultural, em que as diferenças possam ser valorizadas, em um claro antagonismo ao sistema de exclusão que prevaleceu durante muitos anos e que ainda prevalece em muitas regiões do globo. Acredita-se que tal documentação feita a partir dos estudos possa dar elementos para a elaboração e execução de políticas públicas mais assertivas sobre o tema, não apenas no Brasil, mas também em outros países.
Ao investigar as narrativas da diáspora, espera-se identificar os principais elementos culturais, históricos e sociais presentes nesses textos, bem como os desafios enfrentados pelos imigrantes na construção de sua identidade em contextos migratórios e a sua relação com a sociedade do país de destino. Além disso, o estudo visa ampliar as formulações teóricas sobre a complexa relação que envolve identidade, história, imaginário e imigração, considerando também aspectos geográficos e, assim, contribuindo com o conhecimento em tais áreas.
Já no que se refere ao estágio atual de desenvolvimento dos conhecimentos relacionados ao tema, há uma diversidade de estudos que abordam a migração e suas implicações que serão fundamentais para o êxito do projeto – sendo algumas delas apresentadas no item Revisão Teórica. Contudo, as narrativas da diáspora e seu papel na formação da identidade dos imigrantes é um tema amplo e há muito ainda a ser explorado no campo da pesquisa. Destarte, o presente projeto se propõe a contribuir para as áreas envolvidas, promovendo uma compreensão abrangente e aprofundada sobre as narrativas da diáspora e seu impacto na experiência migratória.
Por fim, a pesquisa pode oferecer a possibilidade de sugerir algumas modificações no âmbito da realidade que envolve os processos migratórios, além de poder auxiliar nas políticas públicas que tratam do tema. Ao analisar as narrativas da diáspora, espera-se ser possível identificar elementos que influenciam positivamente ou negativamente a experiência dos imigrantes, permitindo a formulação de recomendações e ações práticas para promover a integração, valorização e respeito entre diferentes culturas. Para isso, é importante conhecer os seus elementos históricos e as suas mais variadas formas de expressão, bem como aquilo que é dito sobre eles e que estão inseridos em um grande conceito chamado imaginário.

Metodologia

Inicialmente, destaca-se que o estudo proposto pode ser caracterizado como uma pesquisa do tipo exploratória, desenvolvida com base tanto na pesquisa qualitativa quanto na quantitativa, que trabalha com o universo de significados, aspirações, crenças, valores, que dizem respeito a um espaço mais profundo das relações, dos fenômenos e processos, e que não são perceptíveis em números, equações, médias e estatísticas (MINAYO, 1994). Gil (1995, p. 44), por sua vez, explica que as pesquisas exploratórias visam desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias a partir da formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para futuros estudos sobre a temática. “De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso”.
Assim, serão utilizadas as pesquisas bibliográficas e documental como técnica. A pesquisa bibliográfica, conforme Gil (1995), que é desenvolvida a partir de materiais já elaborados, principalmente livros e artigos científicos. Já a documental, conforme o mesmo autor, também inclui materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que ainda podem ser reelaborados segundo os objetivos a que a pesquisa se propõe. Sá Martino (2018), por sua vez, considera imagens, textos, livros cartas, fotografias, sites, filmes, músicas e qualquer outro material consultado como documento. A partir disso, ele problematiza o acesso ao material, que não se limita à leitura ou observação do documento. “A ideia do ‘acesso’ tem outro sentido, e se refere à capacidade da pesquisa ou do pesquisador de lidar com o material encontrado” (SÁ MARTINO, 2018, p.142). Dentre as bibliotecas já visitadas até o momento, pode-se destacar a Biblioteca da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Outras bibliotecas, como a da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também podem ser visitadas durante a elaboração do trabalho final. Além disso, anais de eventos, artigos online, e-books e outros documentos disponibilizados digitalmente também já foram e serão consultados ao longo da pesquisa.
Vale ressaltar que, mesmo a pesquisa bibliográfica e documental, deve ser planejada, afinal Gil (1995, p. 72) indica cinco passos para a realização desse tipo de estudo. Inicialmente, deve ser feita a exploração das fontes bibliográficas, ou seja, o levantamento de livros, revistas, científicas, teses, boletins e outros textos sobre o tema. Posteriormente, é feita a leitura do material, que “deverá ter um caráter seletivo que possibilite reter o essencial para o desenvolvimento da pesquisa”. O terceiro passo é a elaboração das fichas, apontando os aspectos mais importantes das fontes bibliográficas levantadas anteriormente. De acordo com Gil (1995, p. 72): “Estas, poderão conter o resumo de parágrafos, capítulos ou de toda a obra”. O passo sequente é a ordenação e análise das fichas, que devem seguir uma ordenação conforme o seu conteúdo. Por fim, são feitas as conclusões.
Dentre outros procedimentos a serem adotados ao longo da pesquisa, destaca-se a análise de conteúdo. Herscovitz (2008, p. 123) explica as possibilidades de utilização desse método no campo da Comunicação. “Os pesquisadores que utilizam a análise de conteúdo são como detetives em busca de pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos dos signos, e das narrativas jornalísticas, expondo tendências, conflitos, interesses, ambiguidades ou ideologias presentes nos materiais examinados”. Bardin (2011, p.15), por sua vez, apresenta a análise de conteúdo como “um conjunto de instrumentos cada vez mais sutis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a ‘discursos’ (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Assim, a análise de conteúdo é apresentada como um método aberto, que está sempre se aperfeiçoando, conforme os objetivos do pesquisador. “Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos”, podendo ser diversificados os procedimentos de análises.
Dentro da análise, um método a ser utilizado frequentemente é o das categorias. Isso quer dizer que durante algumas etapas da pesquisa são estabelecidas categorias que definem as principais características do material. Outra etapa importante da análise de conteúdo que nos interessa é a inferência. Bardin (2011) explica que o interesse da análise de conteúdo não está simplesmente na descrição dos conteúdos. Ou seja, não basta elencar categorias. Para Bardin (2011, p. 44), o interesse está, sim, “no que estes nos poderão ensinar após serem tratados (por classificação, por exemplo) relativamente a ‘outras coisas’”. Ainda segundo a autora,:
A intenção da análise do conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferências esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não. A partir dos dados levantados, a inferência aparece como um elemento intermediário que conduz os dados levantados à interpretação. A inferência consiste no processamento de derivação feita a partir dados levantados e tidos como verdadeiros (BARDIN, 2011, p.44).
Feitas essas considerações, Bardin (2011) apresenta as três etapas da análise de conteúdo, utilizadas nessa pesquisa: A primeira fase é a pré-análise, que remete a uma fase de organização. É o período em que o pesquisador se vale de intuições com o objetivo de sistematizar essas ideias iniciais no sentido de conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise. Nessa etapa, o pesquisador escolhe o material a ser submetido à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos, além da elaboração dos indicadores para a interpretação final.
A segunda fase é a de exploração do material. Bardin (2011, p. 131) define essa fase como: “Se as diferentes operações da pré-análise forem convenientemente concluídas, a fase de análise propriamente dita não é mais do que a aplicação sistemática das decisões tomadas”.
Por fim, a terceira fase é a do tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Nessa fase os resultados brutos são tratados para serem significados e validados. Nessa etapa, onde já observamos a presença ou ausência das categorias no objeto, é
A categorização tem como objetivo inicial, segundo Bardin (2011), fornecer uma representação simplificada dos resultados brutos. A partir dessa representação é feita a interpretação e análise dos dados.
Já sobre a delimitação do material, vale ressaltar que o foco está em quatro situações diaspóricas, sendo que as duas primeiras se referem à vinda de imigrantes libaneses e venezuelanos ao Brasil, e a segunda se dá no movimento de deslocamento de brasileiros que buscam residência no Canadá e em Portugal. Para isso, serão selecionados livros, reportagens, biografias, narrativas de memória, romances e outros documentos que contenham relatos de diáspora, que serão analisados a partir das perspectivas do imaginário enquanto elemento fundamental na formação identitária de tais comunidades.

Indicadores, Metas e Resultados

Indicadores:
1.1. Levantar um número significativo de narrativas diaspóricas analisadas nos produtos jornalísticos e culturais e que possam contribuir para os estudos sobre o tema.
1.2. Frequência e abrangência da representação do imaginário nas narrativas diaspóricas examinadas.
1.3. Grau de diversidade e representatividade das comunidades diaspóricas retratadas nos materiais analisados.
1.4. Relevância histórica e contextual das narrativas diaspóricas em relação às origens e destinos dos imigrantes.
1.5. Abordagens interdisciplinares e diálogos estabelecidos com áreas afins (História, Geografia, Antropologia e Letras).

Metas:
2.1. Analisar, no mínimo, 10 narrativas diaspóricas, abrangendo diferentes contextos culturais e étnicos.
2.2. Identificar e interpretar os principais elementos do imaginário presentes nas narrativas diaspóricas selecionadas.
2.3. Garantir a representação de, pelo menos, as quatro comunidades diaspóricas mencionadas no projeto.
2.4. Contextualizar as narrativas diaspóricas em relação a períodos históricos específicos e eventos marcantes.
2.5. Estabelecer colaboração e diálogo com, no mínimo, três áreas afins por meio de publicações de artigos em revistas acadêmicas e apresentações em eventos.
2.6. Publicação de um e-book – com possibilidade de impressão – a partir do material levantado.

Resultados esperados:
3.1. Elaboração de um mapeamento abrangente e significativo das narrativas diaspóricas presentes em produtos jornalísticos e culturais.
3.2. Compreensão aprofundada da formação do imaginário envolvendo as comunidades diaspóricas e suas implicações identitárias.
3.3. Contribuição para a valorização e diversificação das vozes e perspectivas das comunidades diaspóricas.
3.4. Publicação de artigos acadêmicos em periódicos e apresentação de trabalhos em congressos científicos.
3.5. Fomento ao diálogo interdisciplinar e enriquecimento das pesquisas nas áreas de História, Geografia, Antropologia e Letras.
3.6. Potencial impacto na área de políticas públicas, com ênfase no reconhecimento da importância das narrativas diaspóricas para a construção de uma sociedade mais inclusiva e plural.
3.7. Disseminação dos resultados para o público geral por meio de eventos culturais, palestras e exposições temáticas, promovendo a conscientização sobre a riqueza das histórias diaspóricas e sua relevância para a sociedade contemporânea.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
EDUARDO RITTER4
ENRIQUE CARVALHO BOHM
FABIO SOUZA DA CRUZ2
FELIPE AZEVEDO ALVES
GUILHERME OLIVEIRA CURI
LETICIA VIEIRA DOS SANTOS

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