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01/09/2023 - 01/09/2025

Ciências Biológicas

A degradação ambiental, resultantes da atividade humana através da utilização de contaminantes presentes na composição de agroquímicos, fármacos e produtos de higiene pessoal tem ocasionado impacto no desenvolvimento e reprodução de diversas espécies. Há algumas décadas foi cunhado o termo antropoceno que corresponde ao período geológico com marcações causadas diretamente pela influência humana no ambiente. Segundo as estimativas compiladas pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) até 2050 a população mundial será superior a 9,5 bilhões habitantes, sendo necessário um aumento proporcional na produção de alimentos, que consequentemente acaba ampliando a dimensão do problema de contaminação ambiental. Dentre a grande gama destes produtos alguns compostos estudados apresentam toxicidade para espécies não alvo. Estudos sobre contaminação de ambientes aquáticos por herbicidas demonstram que estes afetam negativamente diversos grupos de organismos. Os moluscos estão entre os grupos animais mais diversos e abundantes, habitando ambientes aquáticos e terrestres. Eles são importantes engenheiros de ecossistemas, ajudando a estruturar ambientes aquáticos de fundo e fornecendo habitat, proteção e alimento para uma ampla matriz de outros táxons. Além disso, algumas espécies de água doce são hospedeiros intermediários de trematódeos que causam doenças em humanos, animais domésticos e selvagens. A Pseudosuccinea columela é uma espécie de gastrópode de água doce nativa da América do Norte, especificamente na região da Filadélfia onde foi descrita, porém, por conta da distribuição da espécie a nível global. Além disso, a P. columela apresenta importância do ponto de vista econômico e de saúde pública por ser o vetor da Fasciola hepática. Este parasita causa da fasciolose, que atinge animais de produção, animais domésticos e humanos em diversos países, sendo assim, um tópico diretamente relacionando com o conceito de saúde única, que tem como principal foco estabelecer que a saúde de todos organismos e o ecossistema onde habitam estão intrinsecamente relacionados. O glifosato é um composto fosfonato ativo dessecante, presente nas formulações comerciais (RoundUp®, Monstanto, Syngenta), utilizado no controle de ervas daninhas. Foi inicialmente comercializado com a premissa de ser inteiramente biodegradável e com baixo impacto em espécies não alvo. Assim, se tornou rapidamente o agroquímico mais utilizado no mundo, porém, estudos toxicológicos contestam essa afirmação e propõe regulações e revisões em sua utilização por conta dos danos já observados em testes realizados com animais e plantas não-alvo expostos ao agroquímico. Nas últimas décadas diversos estudos sobre o efeito da exposição desse composto em moluscos aquáticos demonstraram alteração da resposta imunológica, efeito na desregulação endócrina, redução da atividade de enzimas antioxidantes e redução da capacidade reprodutiva. Estudos sobre o glifosato demonstraram efeitos deletérios no sistema reprodutivo do gastrópode terrestre Cantareus aspersus. Em Lymnaea spp exposta ao Roundup® foi demonstrado o aumento na taxa de fecundidade quando comparado com o grupo controle, no entanto, foi observada a redução nos níveis de proteína reguladora aguda da esteroidogênese (StAR), levando a diminuição dos níveis de testosterona e aumento nos níveis de estradiol nos animais expostos. Pesquisas realizados em Biomphalaria glabrata, também utilizando o RoundUp® demonstraram uma redução na taxa de eclosãodos animais expostos.