O arroz (Oryza sativa L.) se destaca por ser um alimento básico para mais de 60% da população mundial (World Rice Production, 2021). Sendo assim um dos cereais mais cultivado no mundo, com grande destaque do ponto de vista econômico e social (Tong et al., 2019). Neste contexto, o Brasil se destaca por ser o 10º produtor e consumidor, e 9º exportador mundial de arroz. A principal região produtora de arroz está localizada no sul do país. O RS registrou a quarta maior produção de arroz da história em 2020/2021, se responsabilizando por 70% da produção nacional e alcançando 8,5 milhões de toneladas (Mordor Intelligence, 2022).
O RS é o estado que mais produz e beneficia arroz no Brasil, e por consequência é o maior gerador de resíduos sólidos resultantes do processamento de arroz. Os principais subprodutos originados são a casca do arroz, o farelo do arroz e os grãos quebrados. Estes resíduos apresentam um grande problema as indústrias devido as dificuldades associadas à correta destinação e aos custos. O farelo de arroz representa um volume de 9% obtido no beneficiamento de arroz no RS, o que representa mais de 700 mil toneladas de matéria-prima subutilizada, pois apenas parte dela é destinada para ração animal ou a produção de óleo. No contexto global, este volume sobe para 11%, o que equivale a 84 milhões de toneladas de farelo de arroz produzido anualmente (Rappe et al., 2021). Contudo, a medida que a comunidade científica direciona as pesquisas para o aproveitamento de subprodutos agroindustriais como o farelo de arroz, outras aplicações vão tomando espaço como na produção de suplementos, fertilizantes, meios de cultura, antioxidantes e proteínas (Bodie et al., 2019).
Desta forma, o reaproveitamento de resíduos, como o farelo de arroz, é uma solução sustentável, pois contribui para a redução nos impactos econômicos decorrentes da sua produção. Além disso, o emprego do farelo de arroz em outros processos alimentares pode agregar valor à cadeia produtiva, gerando potenciais impactos sociais e oportunidade para o desenvolvimento da agroindústria local. Atualmente, o setor do arroz gera mais de 30 mil empregos diretos e cerca de 200 municípios do RS dependem dessa cultura, sendo assim um mercado atrativo para o desenvolvimento de novos produtos à base de arroz, que possam ainda mais contribuir para a expansão deste setor.
O farelo apresenta cerca de 4 a 11% do total do grão de arroz (Oliveira et al., 2021) e apresenta uma composição rica em proteínas, fibras, lipídios, compostos funcionais como tocoferóis e tocotrienóis. O conteúdo de proteína bruta do farelo varia entre 10 a 16%, sendo superior à proteína do trigo e do milho (Gong et al., 2021). Estes teores podem variar devido à variedade e aspectos agronômicos como tipo de solo, clima, qualidade da matéria prima utilizada e processo de beneficiamento. A qualidade das proteínas do farelo de arroz apresenta propriedades funcionais comparáveis a caseína. As proteínas do farelo de arroz consistem nas frações de albumina, globulina, glutelina e prolamina. A albumina apresenta elevado valor biológico e digestibilidade (Rappe et al., 2021). Estas proteínas na forma de concentrados podem ser incorporados a produtos de alto valor agregado, apresentando assim excelente potencial na indústria de alimentos. Além do elevado valor nutricional, estas proteínas são hipoalergênicas, o que a tornam atrativas para sua inserção em produtos alimentícios destinado a pessoas alérgicas (Tran et al., 2019).
Assim, este projeto visa o estudo do uso do resíduo do arroz para obtenção de proteínas vegetais, através da obtenção do concentrado proteico pelo processo pH shift e da proteína texturizada pelo processo de extrusão, e sua aplicação em produtos plant-based em um tempo de 24 meses (Figura 1). Assim será possível promover nova fonte proteica para suprir a demanda de alimentos e oferecer uma alternativa análoga a de origem animal. Para isso será utilizado o farelo de arroz, como meio de aproveitamento sustentável de um subproduto do processamento do arroz e desenvolvido um estudo de otimização da extração da proteína do farelo de arroz para alcançar os melhores rendimentos, propriedades tecnológicas e digestibilidade. Além disso, será realizado um mapeamento das proteínas por técnica de proteômica para a identificação das proteínas. Inicialmente se objetiva a produção mínima de 50 kg de concentrado proteico para aplicação na produção da proteína texturizada. Para o desenvolvimento da proteína texturizada será realizada a otimização do processo de extrusão para obter o melhor padrão de qualidade. Ao obter uma proteína texturizada com condições ótimas será possível sua incorporação em um produto cárneo vegetal.
Desta forma, o objetivo deste projeto propõe avaliar o potencial proteico do farelo de arroz, aplicar estratégias para a obtenção do concentrado proteico e da proteína texturizada, e sua utilização em um produto plant-based. Para o desenvolvimento deste projeto contaremos com uma ampla equipe de pesquisadores qualificados e experientes na inovação em C&T de alimentos, incluindo pesquisadores, professores, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e iniciantes científicos do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pesquisadores de outros centros de pesquisa como EMPRAPA, EPAGRI e IRGA, e unidades acadêmicas como da Universidade de Campinas (UNICAMP) e Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) também apoiam este projeto.