Nome do Projeto
O efeito da equoterapia no desempenho funcional e na ansiedade em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista na cidade de São Lourenço do Sul, RS.
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/09/2024 - 30/08/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Biológicas
Resumo
Com o aumento da incidência dos casos de transtorno do espectro autista (TEA) novas terapias têm sido buscadas para minimizar os déficits apresentados por esses indivíduos. A equoterapia é um método terapêutico e educacional que tem sido bastante utilizado com pessoas portadoras de necessidades especiais. Considerando o potencial desta terapia, este projeto visa avaliar o efeito de 12 semanas de tratamento no desempenho funcional e na ansiedade de jovens e crianças entre 3 e 15 anos, de ambos os sexos, com TEA no município de São Lourenço do Sul, RS. Após submissão na Plataforma Brasil e aprovação do projeto, os responsáveis dos indivíduos que serão convidados a participar da pesquisa serão informados sobre todas as etapas do projeto e assinarão, se de acordo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto será realizado no Centro Trotando em Frente, numa parceria já estabelecida com a rede pública de saúde que encaminha os jovens com TEA para a realização de equoterapia. Antes da primeira sessão, após 6 e 12 semanas, será solicitado que os responsáveis respondam 4 escalas que avaliam a coordenação, independência, funcionalidade e ansiedade. Ainda, serão realizadas coletas de saliva antes e após essas sessões para avaliar o nível de cortisol e relacionar com os dados da escala e os possíveis efeitos da terapia.

Objetivo Geral

Este projeto visa avaliar o efeito ao longo do tempo da equoterapia no desempenho funcional e em aspectos relacionados a ansiedade em indivíduos autistas de 3-15 anos da cidade de São Lourenço do Sul, RS.

Justificativa

A Equoterapia emprega o cavalo como agente promotor de ganhos a nível físico e psíquico. Esta atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, os cuidados preliminares, o ato de montar e o manuseio final desenvolvem, ainda, novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima.
Frente a todo o exposto, este projeto justifica-se pela alta incidência dos casos de autismo, a busca de novas estratégias para amenizar os sinais e a necessidade de realizar pesquisas relacionadas aos benefícios da prática, já que existe uma pequena lacuna de estudos publicados. Desta forma, apresentando a equoterapia como uma possível abordagem terapêutica no desempenho funcional de Indivíduos com Transtorno do Espectro Autista em um ambiente acolhedor e aprazível.
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A busca por recursos mais eficientes e prazerosos que contemplem o tratamento deve ser considerada; a equoterapia demonstra o seu importante papel como um recurso abrangente e motivador para a permanência dessas pessoas nos programas de tratamento, mesmo em períodos mais longos. Nessa linha, a inclusão da prática como recurso terapêutico podem contribuir para que as demandas funcionais, o aprimoramento da condição física, a diversão, a socialização e o envolvimento familiar façam do momento terapêutico uma atividade contextualizada e funcional, colaborando para o melhor desenvolvimento das habilidades físicas, sociais e emocionais do indivíduo com TEA.

Metodologia

Este projeto será cadastrado na Plataforma Brasil e passará por avaliação pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da UFPel (Universidade Federal de Pelotas). Será necessário que os responsáveis de todos os participantes do estudo autorizem sua inclusão no estudo, bem como a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). Serão incluídos na pesquisa indivíduos com diagnóstico 17 comprovado por laudo médico com CID 11 – 6AO2 de ambos os gêneros (WHO, 2022), com idades entre 3 e 15.
Serão considerados critérios de exclusão: qualquer doença médica significativa, especialmente uma condição neurológica (por exemplo, paralisia cerebral, epilepsia ou deficiência motora classificada de outra forma) ou ortopédica (por exemplo, fratura, lesão grave); qualquer experiência anterior com cavalos no último ano e manifestação de comportamento angustiado que impossibilite a capacidade de completar a avaliação esperada (por exemplo, apresentar risco significativo para a criança ou para as pessoas ao seu redor).
O número de indivíduos que participarão será definido conforme o número de crianças inscritas no Centro de Equoterapia Trotando em Frente no período de execução da pesquisa, conforme os critérios de inclusão e exclusão.
Local de execução
O presente projeto de pesquisa será realizado no Centro de Equoterapia Trotando em Frente, localizado na cidade de São Lourenço do Sul / RS, sendo o local onde já estou inserida na equipe de trabalho atendendo crianças com necessidades especiais da rede pública de saúde que frequentam o Caps-i-Saci e/ou o Centro Unificado e Integrado de Desenvolvimento Educacional (CUIDE).
O Centro de Equoterapia Trotando em Frente é um serviço oferecido à comunidade através de uma parceria público-privada. Esta iniciativa surgiu através de um projeto acadêmico do curso de Residência Médica em Psiquiatria, oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde de São Lourenço do Sul, projeto este de Terapia Assistida por Animais (TAA) utilizando o cavalo. Durante a condução deste projeto acadêmico, viu-se a necessidade em dar continuidade a esta terapia oferecida a alguns usuários com TEA (Transtorno do Espectro Autista) do Caps-i-Saci, e da importância em ampliar o atendimento a outras crianças com TEA e outros transtornos físicos e mentais. A partir desta necessidade o Centro de Equoterapia foi inaugurado em 18/03/2022, e desde então busca ampliar atendimentos, oferecendo atualmente 25 atendimentos semanais.
Terapia
Os atendimentos serão realizados semanalmente durante o período de 12 semanas (GARCÍA-GÓMEZ et al., 2017; LANNING et al., 2014) com praticantes do Centro de Equoterapia Trotando em Frente com diagnóstico de transtorno do espectro autista encaminhados do Caps-i-Saci da cidade de São Lourenço do Sul, onde é realizado uma avaliação prévia pela equipe multidisciplinar com base nas contraindicações. Cada atendimento é realizado individualmente com duração de 30 minutos por uma equipe composta por 1 profissional guia e 2 profissionais de saúde, estando incluído a fase de aproximação do cavalo, atividades no solo, processo de montar, apear e despedida. Durante a sessão é introduzido ajustes posturais, atividades lúdicas e de movimento a fim de estimular o desenvolvimento do indivíduo.
Avaliação motora
Cada participante passará por três avaliações, a primeira antes de iniciar os atendimentos de equoterapia, a segunda após 6 sessões e a última avaliação após concluir o período de 12 semanas. Para avaliar os participantes será utilizado o Questionário de Coordenação do Desenvolvimento (DCDQ), as Escala de Medida de Independência Funcional (MIF) e a Escala de Barthel que serão aplicados nos três momentos mencionados acima pela responsável da pesquisa, Kelin Spiering.
Questionário de Coordenação do Desenvolvimento (DCDQ):
O Questionário de Coordenação do Desenvolvimento (DCDQ) é um método padrão para medir a coordenação de uma criança em atividades funcionais diárias, desenvolvido para auxiliar na identificação do Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (DCD) em crianças, onde os pais são solicitados a comparar o desempenho motor de seus filhos com o de seus colegas (WILSON et al., 2009). Este questionário é divido de acordo com a idade, tendo itens específicos para 3 anos, 4 anos e de 5 a 15 anos.
É composto por 15 itens, divididos em 3 subescalas, a saber, Controle Durante o Movimento (por exemplo, 'Seu filho joga uma bola de forma controlada e precisa'), Motor fino / Escrita (por exemplo, 'Seu filho corta figuras e formas com precisão e facilmente') e Coordenação Geral (por exemplo, 'Seu filho é rápido e competente em arrumar, calçar sapatos, amarrar sapatos, vestir, etc.'). Para cada item, os pais são solicitados a comparar as habilidades de seus filhos com os colegas e avaliá-los em uma escala de 5 pontos com pontuações mais altas refletindo um melhor desempenho. Todos os itens são igualmente ponderados e uma pontuação total é calculada pela soma das pontuações nas três subescalas. A pontuação total é interpretada de acordo com uma pontuação de corte específica para a idade que permite uma interpretação categórica, nomeadamente indicativa ou não indicativa da presença de DCD (VAN DAMME et al., 2022).
A interpretação dos pontos é realizada conforme a idade da criança: 3 anos 0 meses a 4 anos e 11 meses, quanto maior o escore, melhor o desempenho motor e menor o risco para TDC, sendo o ponto de corte entre 67 a 70; 5 anos 0 mês a 7 anos 11 meses, 15-46 indicação de TDC ou suspeita de TDC e 47-75 provavelmente não é TDC; 8 anos 0 meses a 9 anos 11 meses, 15-55 indicação de TDC ou suspeita de TDC e 56-75 provavelmente não é TDC; 10 anos 0 meses a 15 anos, 15-57 indicação de TDC ou suspeita de TDC e 58-75 provavelmente não é TDC.
Medida de Independência Funcional (MIF):
A escala de Medida de Independência Funcional (MIF) é utilizada para classificar a habilidade que o paciente tem para executar uma atividade da vida diária versus sua necessidade por assistência de outra pessoa ou recurso de adaptação (BASSALOBRE; BORGES, [s.d.]).
A escala é dividida em dois domínios, o motor e o cognitivo. 1) Motor: comer, aprontar-se, banho, vestir parte superior do corpo, vestir parte inferior do corpo, vaso sanitário, controle de bexiga, controle de intestino, transferência da cama para a cadeira de rodas, transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário, transferências no banheiro e chuveiro, marcha/cadeira de rodas, escadas; 2) Cognitivo: compreensão, expressão, integração social, resolução de problemas, memória (VIANA et al., 2019).
A MIF contém 18 itens, cada um dos quais é avaliado em uma escala variando de 1 a 7 pontos de acordo com o grau de dependência: 7 - independência completa; 6 - independência modificada; 5 - supervisão; 4 - ajuda mínima; 3 - Ajuda moderada; 2 - Ajuda máxima, 1 - Ajuda total. Somando-se os pontos das dimensões da MIF, obtém-se um escore total mínimo de 18 e o máximo de 126 pontos, que caracterizam os níveis de dependência pelos subescores: 18 pontos: dependência completa (assistência total); 19 – 60 pontos: dependência modificada (assistência de até 50% da tarefa); 61 – 103 pontos: dependência modificada (assistência de até 25% da tarefa); 104 – 126 pontos: independência completa / modificada. A escala pode ser pontuada por observação ou entrevistando o sujeito, o pai ou o cuidador e leva cerca
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de 15 minutos para ser aplicada (OZBOKE; YANARDAG; YILMAZ, 2021; VIANA et al., 2019).
Escala de Barthel:
O índice de Barthel pertence ao campo de avaliação das atividades básicas da vida diária e avalia o nível de independência em relação a dez atividades: alimentação, banho, vestuário, higiene pessoal, eliminações intestinais, eliminações vesicais, uso do vaso sanitário, passagem cadeira-cama, deambulação e escadas (BORILLI et al., 2022). A pontuação total desse instrumento varia de 0 a 100, de forma que uma pontuação de 0 a 20 indica dependência total; 21–60, dependência severa; 61–90, dependência moderada; 91–99, dependência leve; e 100, independência (MINOSSO et al., 2010).
Avaliação ansiedade
Para a avaliação da ansiedade nas crianças, os pais responderão a Escala de Ansiedade para Crianças - Transtorno do Espectro Autista - Versão dos Pais, já traduzida para o português, que será aplicada pela responsável da pesquisa, Kelin Spiering. A escala apresenta 24 subitens separados em 4 categorias: ansiedade de separação, incerteza, ansiedade de desempenho e excitação ansiosa, sendo derivada de uma escala altamente validade para medir a ansiedade no desenvolvimento infantil (Revised Children's Anxiety and Depression Scale (RCADS)) (MONTAZERI et al., 2019; RODGERS et al., 2016).
Cada item apresenta 4 pontuações: 0-nunca, 1-às vezes, 2-com frequência e 3-sempre. Uma pontuação igual ou superior a 24 será considerada como indicativo forte de significativos níveis de ansiedade.
Cortisol
Amostras de cortisol salivar serão coletadas pela responsável da pesquisa, Kelin Spiering e obtidas com o auxílio de um coletor próprio antes e após as sessões de equoterapia em que os questionários serão respondidos pelos responsáveis (1ª sessão, após 6 e 12 semanas), mantendo sempre o mesmo horário de coleta para cada indivíduo (os dados dos horários serão anotados e considerados em posterior análise estatística) (HANSEN; GARDE; PERSSON, 2009). Será realizada a coleta de saliva por ser menos aversiva para as crianças com TEA e por apresentar resultados confiáveis e altamente relacionados com os níveis de cortisol plasmáticos (KIRSCHBAUM; HELLHAMMER, 1994; WALKER, [s.d.]). As amostras serão armazenas em freezer -80°C até o momento do processamento. Serão centrifugadas a 3000 x g por 15 min e o sobrenadante será utilizado para a quantificação de cortisol por ELISA, seguindo as orientações do fabricante. Todas as amostras serão quantificadas em duplicata.

Indicadores, Metas e Resultados

Este é um trabalho inicial que visa avaliar os efeitos da equoterapia no desenvolvimento funcional e ansiedade de indivíduos com TEA. Na literatura os dados são escassos e muitas vezes contraditórios, então entender se há efeito seria um primeiro passo para, posteriormente, ampliar o estudo e buscar compreender melhor os possíveis mecanismos envolvidos.
Os resultados serão apresentados em eventos científicos, bem como será produzido um manuscrito a ser submetido em revista internacional de bom impacto. Ainda, esse projeto faz parte da dissertação de mestrado da aluna Kelin Spiering.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BRUNA FERRARY DENIZ5
KELIN SPIERING
WILLIAN ROBERTO DA SILVA BOTELHO

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