Nome do Projeto
World Elite Database - Perfil das Elites Econômicas do Brasil
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
20/03/2024 - 31/03/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O projeto de pesquisa que propomos visa coletar, sistematizar e analisar dados sobre a elite econômica brasileira contemporânea. O projeto integra o World Elite Database (WED) que é um consórcio internacional de acadêmicos que trabalham em conjunto para desenvolver uma base de dados para estudar e partilhar informações sobre as elites de todo o mundo. O objetivo do consórcio é resolver o problema da comparabilidade e heterogeneidade no estudo das estruturas de poder nacionais e promover uma comunidade cooperativa de acadêmicos interessados em estudar sistematicamente as populações de elite. O projeto é proposto e desenvolvido com base em orientações e definições já consolidadas em termos teóricos quanto metodológicos pela equipe WED (Word Elite Database) internacional - https://worldelitedatabase.org/. O projeto é de âmbito internacional e propõe disponibilizar dados comuns entre países, de modo que os pesquisadores possam abordar pelo menos as seguintes questões: a) as características das estruturas de poder da elite econômica nacional (formas de diferenciação, princípios de hierarquização e eventuais mecanismos de coordenação); b) as origens sociais dos grupos de poder nacional; c) a dinâmica das transformações nas estruturas de poder (sejam elas decorrentes de transformações internacionais ou internacionais). Em âmbito nacional esse projeto tem parceria com os pesquisadores da Universidade de São Paulo - USP (em particular, a prof.ᵃ Ana Paula Hey, da FFLCH), da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (em particular, Karina Gomes de Assis), e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (em particular com Salvador Werneck Vianna e Felix Garcia Lopez Júnior); e referente a Universidade Federal de Pelotas – UFPel, a coordenação é da prof.ᵃ Elaine Leite e do prof. Rodrigo Cantu.
Objetivo Geral
O projeto World Elite Database — e seu módulo Brasil — tem como objetivo constituir uma base de dados sobre as elites nacionais, visando a comparabilidade e heterogeneidade no estudo das estruturas de poder nacionais e promover uma comunidade cooperativa de acadêmicos interessados em estudar sistematicamente as populações de elite. Em âmbito nacional, a constituição da base de dados buscará identificar pessoas nas principais posições de poder no campo econômico e seus atributos individuais, destacando como esse grupo se distribui, por idade, gênero, origens sociais, descendência, herança familiar, inserção educacional e residência, procurando responder sobre características das pessoas que ascendem a posições de poder e seus antecedentes. Espera-se que a comparação ajude a iluminar padrões internacionais e singularidades nacionais, bem como caracterizar de um novo ângulo aspectos da desigualdade no país e do exercício do poder na esfera política.
Pretende-se aqui construir uma base que cumpra os objetivos:
1) sistematizar informações sobre pessoas e organizações que, simultaneamente, sirvam à análise das características das elites econômicas do Brasil atualmente, e caracterize suas especificidades e semelhanças com elites de outros países;
2) Contribuir para ampliar a inserção internacional do PPGSociologia/UFPel, integrando-o a uma nova rede internacional de pesquisadores com propósitos comum de mapear a elite econômica nacional e global (https://worldelitedatabase.org/#addressing)
Pretende-se aqui construir uma base que cumpra os objetivos:
1) sistematizar informações sobre pessoas e organizações que, simultaneamente, sirvam à análise das características das elites econômicas do Brasil atualmente, e caracterize suas especificidades e semelhanças com elites de outros países;
2) Contribuir para ampliar a inserção internacional do PPGSociologia/UFPel, integrando-o a uma nova rede internacional de pesquisadores com propósitos comum de mapear a elite econômica nacional e global (https://worldelitedatabase.org/#addressing)
Justificativa
A ideia de uma base internacional de dados sobre elites é desdobramento da expansão, nos últimos anos, no volume de estudos sobre as elites na sociologia, motivado pelo retorno da ‘desigualdade’ como tema de investigação. As elites passam a ser vistas como agentes centrais e impulsionadores das mudanças sociais e políticas. Economistas também têm redescoberto as desigualdades, destacando a importância das principais parcelas de renda e riqueza. Por sua vez, cientistas políticos têm examinado os efeitos das desigualdades econômicas nas instituições e processos políticos (WED, 2023).
Embora as desigualdades econômicas sejam amplamente discutidas, não há uma discussão multidisciplinar sobre a composição e formação das elites, deixando em aberto a questão de quão exclusivas estas são. Neste ponto, a pesquisa sociológica assume protagonismo, ao explorar os processos e padrões de recrutamento em instituições de elite, as interseções de privilégios envolvendo gênero, raça e idade, além das redes sociais/pessoais e dinâmicas organizacionais das elites. Ainda assim, a sociologia das elites carece de um paradigma coerente e muitas vezes fica restrita a uma metodologia adotada de modo singular em cada caso nacional.
Mesmo estudos de caso com metodologias inovadoras (tais como etnografias com grupos de elite) não são propensos à comparação sistemática, especialmente entre diferentes países. Métodos promissores, como o uso de fontes wiki, a exemplo de Lunding, Ellersgaard e Larsen (2021), que fornecem subsídios para a metodologia adiante apresentada, carecem de maior escala comparativa para validação.
Por outro lado, as análises econômicas globais, a exemplo do que o World Inequality Lab realiza, combinam dados nacionais em escalas geográficas maiores, mas nada dizem sobre o fluxo de pessoas e suas organizações.
O resultado é certa limitação do quadro comparativo para análise global da elite econômica e do poder. O projeto World Elite Database, formado em 2021, surgiu da necessidade de superar essas limitações.
As colaborações descritas em Savage & Hjellbrekke (2021) destacam várias questões-chave. Primeiramente, adotam abordagens multidimensionais para analisar as elites, inspiradas em Pierre Bourdieu e C. Wright Mills, que identificam diferentes tipos de elites e recursos de poder. Além disso, utilizam fontes de dados inovadoras, incluindo dados de registros públicos e métodos qualitativos. Métodos "relacionais", como análise de redes sociais e análise de correspondência múltipla (MCA) alinhada à prosopografia, são essenciais para examinar as relações entre indivíduos e grupos de elite. Nesse sentido, o projeto adota uma abordagem ampla para compreender as formações de elite e suas especificidades nacionais. As análises prosopográficas são complementadas por uma dimensão comparativa, visando entender os efeitos da composição social e educacional no exercício do poder, não apenas ao nível individual, mas também organizacional.
A atenção às carreiras de elite e a análise de sequências também são enfatizadas. Essa abordagem renovada de uma sociologia das elites tem potencial para oferecer uma compreensão mais sofisticada das hierarquias de poder e da dinâmica das formações de elite ao longo do tempo, contribuindo para dar maior sentido ou ir além das categorias — e dados — estatísticas tradicionais associados ao controle da riqueza.
Até o momento, há 14 diferentes países que integram o WED: Chile, China, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Noruega, Polônia, Portugal, Rússia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. A inclusão do Brasil representa a entrada de um país relevante no Sul global.
O WED disponibilizará conjuntos de dados prosopográficos originais, provenientes de fontes de informação pré-existentes, como dicionários biográficos, artigos de jornais, websites oficiais. Esses conjuntos de dados fornecerão informações comparáveis sobre as origens sociais, educação, carreiras, afiliações e honras de clubes sociais de indivíduos em posições de poder administrativo, econômico ou político em cada um dos países selecionados.
Embora as desigualdades econômicas sejam amplamente discutidas, não há uma discussão multidisciplinar sobre a composição e formação das elites, deixando em aberto a questão de quão exclusivas estas são. Neste ponto, a pesquisa sociológica assume protagonismo, ao explorar os processos e padrões de recrutamento em instituições de elite, as interseções de privilégios envolvendo gênero, raça e idade, além das redes sociais/pessoais e dinâmicas organizacionais das elites. Ainda assim, a sociologia das elites carece de um paradigma coerente e muitas vezes fica restrita a uma metodologia adotada de modo singular em cada caso nacional.
Mesmo estudos de caso com metodologias inovadoras (tais como etnografias com grupos de elite) não são propensos à comparação sistemática, especialmente entre diferentes países. Métodos promissores, como o uso de fontes wiki, a exemplo de Lunding, Ellersgaard e Larsen (2021), que fornecem subsídios para a metodologia adiante apresentada, carecem de maior escala comparativa para validação.
Por outro lado, as análises econômicas globais, a exemplo do que o World Inequality Lab realiza, combinam dados nacionais em escalas geográficas maiores, mas nada dizem sobre o fluxo de pessoas e suas organizações.
O resultado é certa limitação do quadro comparativo para análise global da elite econômica e do poder. O projeto World Elite Database, formado em 2021, surgiu da necessidade de superar essas limitações.
As colaborações descritas em Savage & Hjellbrekke (2021) destacam várias questões-chave. Primeiramente, adotam abordagens multidimensionais para analisar as elites, inspiradas em Pierre Bourdieu e C. Wright Mills, que identificam diferentes tipos de elites e recursos de poder. Além disso, utilizam fontes de dados inovadoras, incluindo dados de registros públicos e métodos qualitativos. Métodos "relacionais", como análise de redes sociais e análise de correspondência múltipla (MCA) alinhada à prosopografia, são essenciais para examinar as relações entre indivíduos e grupos de elite. Nesse sentido, o projeto adota uma abordagem ampla para compreender as formações de elite e suas especificidades nacionais. As análises prosopográficas são complementadas por uma dimensão comparativa, visando entender os efeitos da composição social e educacional no exercício do poder, não apenas ao nível individual, mas também organizacional.
A atenção às carreiras de elite e a análise de sequências também são enfatizadas. Essa abordagem renovada de uma sociologia das elites tem potencial para oferecer uma compreensão mais sofisticada das hierarquias de poder e da dinâmica das formações de elite ao longo do tempo, contribuindo para dar maior sentido ou ir além das categorias — e dados — estatísticas tradicionais associados ao controle da riqueza.
Até o momento, há 14 diferentes países que integram o WED: Chile, China, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Noruega, Polônia, Portugal, Rússia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. A inclusão do Brasil representa a entrada de um país relevante no Sul global.
O WED disponibilizará conjuntos de dados prosopográficos originais, provenientes de fontes de informação pré-existentes, como dicionários biográficos, artigos de jornais, websites oficiais. Esses conjuntos de dados fornecerão informações comparáveis sobre as origens sociais, educação, carreiras, afiliações e honras de clubes sociais de indivíduos em posições de poder administrativo, econômico ou político em cada um dos países selecionados.
Metodologia
Os dados comparados possibilitarão explorar mais a fundo quem são, sociologicamente os ricos e como este se distribuem entre os diferentes atributos. Tais atributos incluem tanto as características sociodemográficas quanto as posições que ocupam na esfera da produção de riqueza.
Trata-se, em grande medida, de uma pesquisa prosopográfica, mas com dimensões comparadas. Conforme Bukoldi & Goldthorpe (2021), trata-se de tomar elites "como entidades com N pequeno", que não são redutíveis a uma classe social, mas que podem exprimir características importantes de um país.
Na metodologia proposta pelo WED haverá análise que não se concentra apenas nas características individuais, mas das organizações dirigidas pelas pessoas incluídas na lista.
A seleção deverá se iniciar por critérios que associem pessoas a posições de poder, adotando uma combinação de critérios absolutos de riqueza (bilionários, por exemplo) e critérios posicionais (diretores de fundos de pensão, por exemplo).
Para definir a lista de pessoas sobre as quais a base de dados coletará informações, adotaremos quatro critérios, alinhados com a metodologia do WED. Primeiro, presidentes e CEOs das maiores empresas listadas na Bovespa (200 maiores, por exemplo). A quantidade ainda será definida. Segundo, presidentes e CEOs de todas as outras empresas de porte similar em número de empregados ao quartil mais alto observado no primeiro critérios. Entram aqui as empresas que não estão listadas na bolsa de valores. Terceiro, a lista de pessoas mais ricas do país, segundo publicações tradicionais do setor, tais como a lista da revista Forbes ou publicadas anualmente em edições especiais do jornal Valor Econômico (Valor Investe). Quarto, líderes políticos, burocratas de alto escalão, líderes (presidentes, gestores) de organizações de negócios, de grupos de interesse, sindicatos ou intermediários (tais como firmas de avaliação de risco, fundos de investimento ou de think tanks que de algum modo possam exercer influência na definição das práticas e da regulação econômica no país.
Em cada país, o número total de pessoas varia, mas a coleta de dados sobre esses nomes será realizada em repositórios como wikipedia, fonte de dados prosopográgicas, tais como CPDOC e dicionário-histórico biográfico, fontes da imprensa, bases de dados tais como Rais e outros arquivos digitais.
A metodologia do WED prevê também classificar as elites em função de alguns aspectos das distribuições geográficas e regionais das organizações e dos indivíduos.
Trata-se, em grande medida, de uma pesquisa prosopográfica, mas com dimensões comparadas. Conforme Bukoldi & Goldthorpe (2021), trata-se de tomar elites "como entidades com N pequeno", que não são redutíveis a uma classe social, mas que podem exprimir características importantes de um país.
Na metodologia proposta pelo WED haverá análise que não se concentra apenas nas características individuais, mas das organizações dirigidas pelas pessoas incluídas na lista.
A seleção deverá se iniciar por critérios que associem pessoas a posições de poder, adotando uma combinação de critérios absolutos de riqueza (bilionários, por exemplo) e critérios posicionais (diretores de fundos de pensão, por exemplo).
Para definir a lista de pessoas sobre as quais a base de dados coletará informações, adotaremos quatro critérios, alinhados com a metodologia do WED. Primeiro, presidentes e CEOs das maiores empresas listadas na Bovespa (200 maiores, por exemplo). A quantidade ainda será definida. Segundo, presidentes e CEOs de todas as outras empresas de porte similar em número de empregados ao quartil mais alto observado no primeiro critérios. Entram aqui as empresas que não estão listadas na bolsa de valores. Terceiro, a lista de pessoas mais ricas do país, segundo publicações tradicionais do setor, tais como a lista da revista Forbes ou publicadas anualmente em edições especiais do jornal Valor Econômico (Valor Investe). Quarto, líderes políticos, burocratas de alto escalão, líderes (presidentes, gestores) de organizações de negócios, de grupos de interesse, sindicatos ou intermediários (tais como firmas de avaliação de risco, fundos de investimento ou de think tanks que de algum modo possam exercer influência na definição das práticas e da regulação econômica no país.
Em cada país, o número total de pessoas varia, mas a coleta de dados sobre esses nomes será realizada em repositórios como wikipedia, fonte de dados prosopográgicas, tais como CPDOC e dicionário-histórico biográfico, fontes da imprensa, bases de dados tais como Rais e outros arquivos digitais.
A metodologia do WED prevê também classificar as elites em função de alguns aspectos das distribuições geográficas e regionais das organizações e dos indivíduos.
Indicadores, Metas e Resultados
Temos a previsão de entregar três resultados, como parte deste projeto. O primeiro é a própria base de dados. O segundo é um relatório documentando os procedimentos adotados para construí-la e que sirva como roteiro para eventual processo de expansão da série temporal, tanto para o passado quanto para atualizá-la em anos vindouros. A ampliação da série ensejaria análises como a mobilidade e circulação das elites econômicas no país. O terceiro é a organização de um seminário para apresentação e discussão dos principais resultados, com a participação de outros membros da rede internacional do WED. O seminário internacional seria oportunidade para tanto difundir a produção dos dados apoiados pelo Ipea quanto situar os achados sobre o Brasil em comparação com outros países.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
AMANDA ALBUQUERQUE PERES | |||
Ana Paula Hey | |||
ELAINE DA SILVEIRA LEITE | 2 | ||
Felix Garcia Lopez Junior | |||
Karina Gomes de Assis | |||
RENATA RODRIGUES PINTOS | |||
RODRIGO CANTU DE SOUZA | 2 | ||
Salvador Teixeira Werneck Vianna |