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O presente projeto de caráter abrangente propõe o desenvolvimento de pesquisas centradas no estudo e análise da dinâmica dos espaços periféricos do sistema-mundo, privilegiando o enfoque territorial em uma interface entre a Geografia Política, Geografia Histórica e História da Geografia. O território corresponde a um dos conceitos basilares da estruturação do raciocínio geográfico, sendo presente em estudos clássicos assim como tendo recebido uma expressiva valorização no fim do século XX (Santos, 2001; Raffestin, 1993, Moraes, 2002; 2011). Essa importância decorre do fato que as relações de poder projetadas sobre o espaço são elementos de expressiva presença nas diferentes formas de organizações espaciais em diferentes escalas geográficas. Assim, o território pode ser indicado como uma categoria que coloca em foco importantes processos do sistema mundial moderno. Este último tem na constituição de um modo de produção alicerçado no controle do espaço e no Estado Moderno duas importantes instituições que, apesar da existência de ações contra-hegemônicas, ainda se configuram como importantes vetores que dinamizam as formações socioespaciais.
De forma cada vez mais expressiva se reconhece que a territorialidade é presente em diferentes situações das sociedades modernas, o que qualifica o território como uma categoria geográfica pertinente para entendimento das dinâmicas geográficas tecidas a partir de diferentes escalas geográficas. Sendo resultado de um processo de projeção de relações de poder sobre o espaço (Raffestin, 1993; Moraes, 2002), as práticas territoriais podem ser desempenhadas por diferentes agentes, o que implica na coexistência de distintas territorialidades (Raffestin, 1993) conflitantes e suas justaposições. Nesta linha de pensamento são distintos os agentes que entabulam a dinâmica territorial.
Afastando-se da concepção que adota o território apenas como uma referência geográfica muitas vezes atrelada à uma estrutura administrativa (herança de uma visão determinista geográfica), concebe-se o território como constituído tanto pela materialidade como pela imaterialidade (Moraes, 2002), requerendo um complexo e amplo leque de estratégias que são mobilizados para assegurar um conjunto de interesses. Ademais, a lógica territorial é presente tanto em processos de natureza político-estatal quando aquelas relacionadas a expansão capitalista e/ou reestruturação econômica presentes no sistema mundo (Arrigui, 2008; Harvey, 2004, 2005), indicando que a relação entre o território e a formação e expansão do capitalismo enquanto economia-mundo. Essa articulação indica a pertinência de estudar, compreender e comparar o desenvolvimento histórico das estratégias territoriais em conformidade com as conjunturas do sistema mundo.
Nesta linha de pensamento, torna-se almejado investigar os processos de formação, ordenamento e disputas territoriais contemporâneos (especialmente a territorialização dos mares e oceanos) e precedentes (século XIX – XX, vinculados com a formação e ordenamento territorial do Brasil), para apreender as diferentes estratégias materiais e imateriais empregadas para assegurar ou ampliar os espaços para projeção de poder, conforme visto em Moraes (2018; 2019) e Costa; Moraes (2023). Tem-se a premissa que a formação territorial pode assumir atributos e mecanismos específicos conforme o contexto do sistema mundo, de modo, que as regiões sofrem processos territoriais conforme a dinâmica da economia-mundo. Assim, esse projeto de pesquisa abrangente tem capacidade de abarcar pesquisas que além de propiciar o entendimento da dinâmica dos processos territoriais contemporâneos (sejam de formação, ordenamento ou disputas) também almeja aportar um repertório conceitual, teórico e metodológico nos campos científicos da Geografia Histórica, História da Geografia e Geografia Política.

Partindo desse objetivo, metodologicamente dividimos a pesquisa em três eixos. No primeiro tem-se o levantamento e sistematização das produções geopolítica (ideias, planos, documentos, publicações, iconografias, mapas, etc.) com a finalidade de identificar as matrizes teóricas e concepções presentes neste pensamento. No segundo eixo buscamos estudar as diferentes práticas territoriais que são empregadas em contextos de apropriação espacial, formação, disputas e ordenamento territorial. Por fim, a partir dos eixos anteriores, buscamos analisar a relação entre práticas territoriais e desenvolvimento do pensamento geográfico (em especial, de caráter geopolítico) em conformidade com o contexto histórico-geográfico do sistema mundo, a partir da interface da Geografia Histórica, História da Geografia e Geografia Política. Como base epistemológica para análise documental, inclusive dos documentos imagéticos adota-se entendimento que privilegie seu conteúdo e articulação social, conforme discrimina John Harley (2005), Carla Lois (2000, 2015), Vicente Berdoulay (2003), Pierre Bourdieu (2004) e Marcelo Escolar (1996).
Como projeto abrangente tem como eixo metodológico permanente: a) a revisão bibliográfica diversa, desde autores clássicos como estudos atuais e de enfoques específicos; b) leitura e análise de documentos oficiais relativos ao objeto de pesquisa, sejam eles planos oficiais, imagens técnico-científicas, geográficas e cartográficas, textos, etc.; c) identificação de estratégias territoriais, novas e antigas; d) identificação dos discursos e imagens geográficas construídos; d) determinação das possíveis filiações e articulações teóricas entre o pensamento geopolítico institucional e pensamento geográfico.

Espera-se obter conseguir identificar as mudanças, permanências e especificidades dos processos territoriais em articulação com as dinâmicas do sistema mundo e da geopolítica mundial, através de pesquisas que contemplam diferentes recortes temporais e geográficos. Igualmente também almeja aportar um repertório conceitual, teórico e metodológico nos campos científicos da Geografia Histórica, História da Geografia e Geografia Política.