A previsão do tempo constitui uma das áreas do conhecimento de maior dificuldade de se trabalhar, mesmo fazendo parte de uma ciência considerada exata. Nas últimas décadas houveram avanços significativos na previsão do tempo, principalmente devido ao aumento do poder computacional. Entretanto, esse aumento tem desacelerado nos últimos anos, infringindo uma estagnação na melhora das previsões do tempo, principalmente no horizonte de previsão com maior índice de acerto. A dificuldade na previsão do tempo se torna maior à medida que o horizonte de previsão aumenta, bem como para eventos de tempo com intensidades elevadas, seja de precipitação ou vento, conhecidos na meteorologia como eventos de tempo severo. Os eventos de tempo severo de mesoescala (tornados, linhas de instabilidade, sistemas e complexos convectivos, entre outros) constituem um dos maiores desafios na previsão do tempo no Brasil, além de causar grandes prejuízos sociais e econômicos. Apesar da baixa frequência desses eventos no Brasil (NASCIMENTO, 2004), principalmente tornados, a ameaça significativa à sociedade justifica o esforço da comunidade meteorológica para desenvolver ferramentas e técnicas para detectar as tempestades convectivas que os produzem (FERREIRA et al., 2022).
A energética de área limitada é uma técnica de análise dos movimentos da atmosfera baseada nos armazenamentos e conversões de energia da atmosfera. Ela surgiu como uma tentativa de estudar o ciclo de energia de sistemas de escala sinótica individualmente. Nas últimas décadas muitos trabalhos têm seguido esta metodologia para analisar os mais diversos tipos de sistemas, desde ciclones extratropicais (SMITH, 1980; ROBERTSON e SMITH, 1983; MICHAELIDES, 1992; WAHAB et al., 2002; MARQUET, 2003; DECKER e MARTIN, 2005, PEZZA et al., 2010; DIAS PINTO e DA ROCHA, 2011), ciclones explosivos (DIAS PINTO e DA ROCHA, 2011; BLACK e PEZZA, 2013), ciclone subtropical (DIAS PINTO e DA ROCHA, 2011) e o primeiro furacão do Atlântico Sul (VEIGA et al., 2008).
Entretanto, os pesquisadores deste projeto acreditam que o maior potencial dessa técnica de análise dos movimentos da atmosfera ainda não foi explorado. A utilização dessa técnica em eventos de tempo severo de mesoescala pode propiciar o entendimento de como os gradientes zonais e meridionais de temperatura influenciam na formação e desenvolvimento desses fenômenos meteorológicos. Adicionalmente, essa técnica também pode ser utilizada para determinar a camada atmosférica em que se iniciaram os movimentos verticais, o que pode auxiliar no aumento do conhecimento da dinâmica desses sistemas. Além disso, por ser baseada nas variáveis de temperatura do ar, componentes zonal e meridional do vento, as quais possuem maior previsibilidade nos modelos, o horizonte de previsão com maior índice de acerto pode ser elevado.
Infelizmente a dificuldade de implementação dessa técnica de análise tem restringido o número de pesquisadores e meteorologistas operacionais que a utilizam. O financiamento deste projeto poderia aumentar sua visibilidade, evidenciando sua potencialidade na previsão de tempo severo, bem como iniciar a difusão deste conhecimento para os centros de previsão do tempo de todo o país.