Nome do Projeto
Carrapatos (Acari: Ixodida) do Pampa: uma análise de sua distribuição, diversidade e associações com hospedeiros
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
10/06/2025 - 10/06/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Biológicas
Resumo
Os carrapatos são ectoparasitas hematófagos amplamente distribuídos e vetores de diversos patógenos de importância médica e veterinária. A fauna global inclui três famílias principais, com significativa diversidade concentrada na região Neotropical. No bioma Pampa, que abrange áreas do Brasil, Uruguai e Argentina, a diversidade de carrapatos ainda é pouco documentada, especialmente em relação a hospedeiros silvestres. Esse bioma, rico em biodiversidade, sofre crescente fragmentação ambiental devido à expansão agropecuária, o que pode impactar diretamente as interações parasito-hospedeiro. O presente estudo tem como objetivo geral determinar a diversidade e distribuição histórica dos carrapatos no Pampa e suas relações com hospedeiros e patógenos. Os objetivos específicos incluem a identificação das espécies presentes, seus padrões de distribuição, as interações com hospedeiros vertebrados e a presença de patógenos associados. A metodologia baseia-se em uma revisão sistemática da literatura conforme o protocolo PRISMA, com análise dos dados obtidos para construção de mapas de distribuição e redes de interação entre carrapatos, hospedeiros e patógenos. Serão utilizados softwares como ArcGIS e Gephi, além de análises em R para avaliar a estrutura ecológica das redes. Espera-se encontrar maior diversidade de carrapatos em hospedeiros silvestres, especialmente em áreas de transição ecológica. Também se prevê que as redes de interação apresentem modularidade, com parasitas específicos para hospedeiros selvagens ou domésticos, e poucos compartilhados entre ambos. Os resultados devem contribuir com o conhecimento ecológico sobre carrapatos no Pampa e fornecer subsídios para políticas de vigilância epidemiológica, conservação da biodiversidade e mitigação de riscos zoonóticos.

Objetivo Geral

Determinar a diversidade e distribuição histórica das espécies de carrapatos no Pampa e suas relações com seus hospedeiros e patógenos.

Justificativa

Os carrapatos são ectoparasitas obrigatórios que se alimentam de sangue, amplamente distribuídos no mundo e com a capacidade de transmitir uma grande variedade de patógenos, como protozoários, vírus, bactérias e fungos (Flores et al. 2014, Guglielmone et al. 2021). A fauna de carrapatos inclui três famílias: Ixodidae (762 spp.), Argasidae (221 spp.) e Nuttalliellidae (1 sp. restrita à África). Um quarto destas espécies está distribuída na região Neotropical (Barros-Battesti et al. 2006, Chen & Liu 2022, Dantas-Torres et al. 2019, Guglielmone et al. 2023, Nava et al. 2017). De acordo com os estudos mais recentes, no Brasil são conhecidas 76 espécies, no Uruguai 16 espécies e na Argentina 50 espécies (Dantas-Torres et al. 2019, de Oliveira et al. 2024, Guglielmone & Nava 2005, Guglielmone et al. 2023, Venzal et al. 2003).
O bioma Pampa estende-se sobre, aproximadamente, 700.000 Km^2 incluindo 63% do estado do Rio Grande do Sul no Brasil, a totalidade do território do Uruguai e cinco províncias da Argentina (da Silva et al. 2024, Goñi et al. 2024, Overbeck et al. 2007, Scottá & da Fonseca 2015, Suertegaray & Silva 2009). O Pampa caracteriza-se por pastagens, vegetação rasteira, gramíneas e matas ciliares com formações arbustivas e arbóreas esparsas, sendo uma das pastagens naturais mais extensas do mundo, abrigando uma ampla biodiversidade de plantas e animais (da Silva et al. 2024, Roesch et al. 2009, Scottá & da Fonseca 2015). No entanto, encontra-se em um acelerado processo de perda dos campos nativos devido a expansão da agricultura e conversão em pastagens exóticas para produção pecuária, gerando destruição das características naturais e um alto grau de fragmentação (Baeza et al. 2022, Goñi et al. 2024, Roesch et al. 2009).
A fragmentação do bioma pode gerar alterações na distribuição e a carga dos parasitas, fatores os quais dependem das interações e dos processos que ocorrem entre os parasitas, os hospedeiros e o ambiente (Cardon et al. 2011, Telfer et al. 2010). Parasitas, como os carrapatos, têm importância zoonótica e podem afetar seres humanos e espécies domesticadas (Guglielmone et al. 2021, Thompson et al. 2009, Mewius et al. 2021). Além disso, apesar de sua importância ecológica, o Pampa é um bioma negligenciado em termos do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a conservação e o conhecimento de sua diversidade biológica (Carlucci et al. 2016, Overbeck et al. 2007, Stroher et al. 2023). Considerando o aumento da urbanização, da industrialização e da expansão agrícola, as interações entre o âmbito humano, animais domésticos e animais silvestres podem aumentar consideravelmente (Estrada-Peña et al. 2014, Jones et al. 2013).
Assim, o estudo e conhecimento da distribuição de espécies vetores de doenças, como os carrapatos, pode fornecer informações vitais no controle de enfermidades zoonóticas, tendo em consideração que as comunidades de parasitos são afetadas por fatores espaciais e do ambiente (Krasnov et al. 2019). Diferentes estudos evidenciam como espécies de carrapatos de importância médica e veterinária têm experimentado modificações na sua distribuição devido às mudanças climáticas (Léger et al. 2013, Leighton et al. 2012, Porretta et al. 2013), introduzindo patógenos em novas áreas e incrementando os riscos de surtos de doenças zoonóticas (Wimberly et al. 2008).
Além dos fatores espaço-ambientais, os hospedeiros podem prover um microambiente para o parasito, uma fonte de alimentação e, em muitos casos, um espaço para sua reprodução e dispersão (Poulin 2007). Como resultado disso, a diversidade de parasitos é uma resposta da diversidade de hospedeiros disponíveis no ambiente (Kamiya et al. 2014). O uso de redes de interação entre espécies parasitos e seus hospedeiros apresenta-se como uma ferramenta poderosa para descrever os padrões de interações parasito-hospedeiro, promovendo a compreensão da estrutura e do papel das espécies hospedeiras nos ciclos de transmissão dos parasitos e um melhor entendimento de seu papel epidemiológico (Sano et al. 2024).
Até o momento, não se tem um estudo que reúna a informação sobre a diversidade de carrapatos no Pampa, e os estudos desenvolvidos na região estão focados, principalmente, no setor pecuário, com poucos trabalhos relacionados à fauna silvestre (Beldomenico et al. 2005, Navone et al. 2009, Pinto et al. 2017, Souza et al. 2021, Tarragona et al. 2018, Venzal et al. 2005). Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é realizar uma compilação de todos os registros de carrapatos no Pampa, sua distribuição e suas relações com hospedeiros, selvagens e domésticos, e patógenos associados com a finalidade de organizar o conhecimento atual e fornecer subsídios para o controle e a prevenção de doenças zoonóticas.

Metodologia

REVISÃO SISTEMÁTICA
Será realizada uma revisão sistemática, de acordo com a diretriz Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA) (Page et al. 2020), das ocorrências e associações entre carrapatos, seus hospedeiros e patógenos. A pesquisa será realizada nos bancos de dados Scopus e Web of Science, além de incluir registros disponíveis no Google Scholar; sem restrições temporais e usando a seguinte fórmula de pesquisa: “((tick OR carrapato OR garrapata) AND (Ixodidae OR Argasidae OR mammal OR bird OR reptile OR wildlife OR Pampa) AND (LIMIT-TO (AFFIL COUNTRY, ‘Argentina OR Brasil OR Uruguay)’)”. Os nomes científicos e sinônimos de carrapatos serão atualizados de acordo com Dantas-Torres et al. (2019) e Guglielmone et al. (2021, 2023).



CONSTRUÇÃO DE MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO ATUAIS DE CARRAPATOS NO PAMPA
Para compilar a distribuição conhecida de carrapatos no Pampa, serão usados os registros obtidos na revisão da literatura. No caso dos registros sem coordenadas geográficas, a localidade onde o carrapato foi relatado será usada para extrair as informações geográficas e visualizadas no território do bioma usando o software ArcGIS versão 10.8.

CONSTRUÇÃO DAS REDES DE INTERAÇÃO ENTRE CARRAPATOS, SEUS HOSPEDEIROS VERTEBRADOS E PATÓGENOS NO PAMPA.
Para avaliar as interações entre as espécies de carrapatos, hospedeiros e patógenos, serão utilizados os registros obtidos na revisão da literatura para construir uma matriz bipartida de interações. Com a matriz, será criada a rede de interação ecológica usando o software Gephi v0.10 (Bastian et al. 2009), no qual as espécies de hospedeiros e carrapatos são representadas por nodos e as espécies que interagem são ligadas por linhas, sendo a largura das linhas proporcional à frequência de interação de cada espécie. Na criação da rede, será usada a distribuição Yifan Hu Proporcional, algoritmo que minimiza a superposição das interações. Além disso, será usado o pacote “bipartite” (Dormann et al. 2008) disponível em R (R Core Team 2023) para testar se a rede de interações possui estrutura aninhada, modular ou aleatória. Para o aninhamento será usada a métrica NODF que quantifica não-sopreposição e preenchimento decrescente das linhas e colunas da matriz (Almeida-Neto et al. 2008). Para modularidade usaremos a métrica Q, calculada a partir de divisões da matriz em módulos com o algoritmo de otimização DIRTLPAwb+ (Beckett 2015). Para testar se estes padrões topológicos diferem de um padrão aleatório de interações, usaremos o modelo nulo de Patefield (‘função’ r2dtable do bipartite) o qual mantém em cada matriz aleatória o mesmo número de linhas e colunas e constância que a matriz observada. Os valores observados de cada métrica serão comparados como intervalo de confiança de 95% obtidos a partir de 1000 matrizes nulas, sendo considerada não aleatória a métrica cujo valor observado estiver acima deste intervalo.
Os nomes científicos e as sinonímias das espécies de vertebrados serão atualizados de acordo com Mammal Diversity Database (2023) para os mamíferos, Remsen et al. (2021) para as aves, Uetz et al. (2023) para répteis e Frost (2023) para os anfíbios, usando a nomenclatura binomial.

Indicadores, Metas e Resultados

As comunidades de parasitas e hospedeiros são sensíveis a uma ampla gama de fatores bióticos e abióticos, o que pode afetar diretamente a sua distribuição e interações (Pilosof et al. 2012, Wall 2007). Variáveis como abundância, riqueza, diversidade e grau de infestação tendem a responder a alterações no tamanho das populações, na massa corporal dos hospedeiros e nos processos de fragmentação do ambiente (Teshome & Girmany, 2015).
Com base no estudo de Krasnov et al. (2004) e considerando as recentes mudanças no uso do solo e a intensificação das atividades humanas no bioma Pampa, espera-se observar uma maior diversidade de espécies de carrapatos em hospedeiros selvagens em comparação aos animais domésticos. Estudos similares, como o de Orta-Pineda et al. (2020) sobre comunidades de ectoparasitas em morcegos, reforçam que ambientes mais heterogêneos e zonas de transição entre florestas e áreas de cultivo ou pecuária apresentam uma maior diversidade parasitária, favorecida pela coexistência e pelo contato entre diferentes espécies de hospedeiros.
A crescente interação entre a fauna selvagem e os animais domésticos na região (Rojas et al. 2024) deverá se refletir nos padrões de distribuição dos carrapatos. Mamíferos como Lycalopex gymnocercus e Cerdocyon thous, que transitam com frequência por áreas de contato entre ambientes naturais e antrópicos, podem atuar como pontes ecológicas na transmissão de ectoparasitos e patógenos com potencial para causarem enfermidades zoonóticas. Trabalhos prévios (de Lorenzo et al. 2021, Bitencourth et al. 2021) já documentaram o parasitismo cruzado envolvendo Amblyomma aureolatum em carnívoros silvestres e cães domésticos, associando esses registros à circulação de patógenos zoonóticos como Rangelia vitalii. Portanto é esperado que as redes carrapato-hospedeiro sejam modulares assim com outras redes parasitárias (Urbieta et al. 2021), onde haverão parasitas exclusivos dos vertebrados silvestres e parasitos exclusivos de animais domésticos, com poucos parasitos compartilhados entre os dois grupos.
Dessa forma, espera-se documentar uma elevada riqueza de espécies de carrapatos associadas a hospedeiros selvagens, particularmente em áreas de transição ecológica e em regiões caracterizadas por menor homogeneização ambiental. Também se prevê mapear a distribuição geográfica das espécies de carrapatos nos territórios amostrados do Pampa argentino, brasileiro e uruguaio, identificando possíveis padrões de sobreposição ou segregação relacionados ao tipo de hospedeiro e às condições ambientais. Além disso, pretende-se registrar interações entre carrapatos e hospedeiros pertencentes a grupos filogeneticamente próximos, bem como detectar eventuais casos de compartilhamento de patógenos entre espécies selvagens e domésticas. Esses resultados deverão contribuir para uma compreensão mais ampla da ecologia de carrapatos no bioma Pampa, fornecendo subsídios importantes para o desenvolvimento de estratégias de vigilância epidemiológica, conservação da biodiversidade e mitigação de riscos zoonóticos.
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Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
CAMILO ANDRÉS CUÉLLAR ROMERO
JOSÉ MANUEL VENZAL BIANCHI
JÉFERSON BUGONI1
NAIARA GALAFASSI
RODRIGO FERREIRA KRUGER2

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