Nome do Projeto
Os circuitos culturais do Terceiro Mundo: do não-alinhamento ao capitalismo global
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
31/03/2020 - 30/09/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Linguística, Letras e Artes
Resumo
O estudo das literaturas do Terceiro Mundo, ou mais precisamente o estudos dos circuitos/trânsitos/trocas culturais e literárias entre os países que o conformam, depende da definição de, pelo menos, três vetores: o objeto, o tempo e o espaço. Ahmad (2002) argumenta, por exemplo, que não “há uma coisa chamada Literatura do Terceiro Mundo que possa ser construída como objeto internamente coerente de conhecimento teórico”. De fato, um vasto leque de questões no campo da produção literária não pode ser resolvido num nível de generalidade sem que se produza um reducionismo de cariz positivista. Admite, no entanto, que ocorre uma utilização “vulgar” do termo Terceiro Mundo capaz, ainda, de “reunir” uns quantos países num mesmo conjunto ou rótulo (sabidamente heterogêneo). De outra parte, a própria divisão tripartida do mundo é, em várias situações, questionável e talvez pouco defensável de um ponto de vista epistêmico. Quanto a uma demarcação temporal, fica eleito o Projeto Bandung (o Movimento de Países Não-Alinhados, as lutas anticoloniais e a teoria da dependência e do sistema do mundo) e seus subsequentes fracassos para a descrição de um conjunto de produções associado ao pós-colonialismo. Mas esta pode ser, de algum modo, a possibilidade de novas discussões sobre a universalidade e não menos uma discussão sobre os “efeitos” da globalização econômica em espaços neocoloniais, subdesenvolvidos, enfim, de “Terceiro Mundo”. Quanto ao terceiro termo da equação, toma-se como espaço as produções da Ásia, da África e da América Latina. São os textos de tais conjuntos, em circuito de troca, intercâmbio e recepção (mútuas), os objetos de estudo deste Projeto. O problema que se põe gira em torno do desenvolvimento de estudos que acionem um conhecimento de uns com os outros em localidades do Terceiro Mundo, das leituras possíveis, das “novas” representações e o quanto de canônico e “não-canônico” circula pelos países do Terceiro Mundo.

Objetivo Geral

GERAL:
Estudar a “Literatura do Terceiro Mundo” como objeto multifacetado, heterogêneo, de histórias sobrepostas e de tensionadas (assimétricas) redes interculturais de disseminação e de recepção e como categoria epistêmica problemática.
ESPECÍFICOS:
a) Estudar os textos dos países do Terceiro Mundo com “experiência do colonialismo e imperialismo” como “alegorias nacionais”; estudar os textos do anti-imperialismo, das lutas pela autonomização política, o nacionalismo (e suas “atualizações” ou o “espectro da nação”) e do pós-colonialismo; estudar os textos como resultantes de um espaço/objeto de transferências de valores provenientes das formações colonizadas/imperializadas e das relações (capitalistas) no “interior” dessas formações;
b) Estudar textos dos países do terceiro mundo marcados pela “individuação”, personalização de “energias libidinais” e perda do acesso direto à experiência “concreta” (a “experiência do eu como uma entidade isolada, alienada, incapaz de conexão real, orgânica com qualquer coletividade” (AHMAD,2002, p. 94)), considerando o capitalismo (e da pós-modernidade como fator de “atualização” das pretensões hegemônicas do Primeiro Mundo) como força conformadora, constitutiva, de modos de produção e recepção no interior das formações terceiro-mundistas;
c) Estudar a “dialética do social e do literário” nos textos do Terceiro Mundo não como determinação unitária por parte de qualquer fator, mas como tensão entre uma “determinação final (“do conteúdo ideacional por parte do processo de vida da mão-de-obra material”) e a “total histori-cidade de determinações múltiplas e interpretantes” (AHMAD, p. 105) de produção de resultados diferenciados; por extensão, estudar as dialéticas do global/local, particular/universal, do lugar e do entre-lugar, do hibridismo, da assimilação, das importações/exportações culturais entre os países do Terceiro Mundo, ou seja, de “circuitos alternativos” que delimitam um conjunto de sujeitos-posições e questões de dominância epistêmica, além das “novas” questões como raça, etnia, gênero e as estéticas decorrentes (malandragem, marginalidade, crueldade, violência, gay, brutalidade, crueldade etc).

Justificativa

Esta pesquisa justifica-se pela possibilidade de conhecimento dos circuitos culturais e literários alternativos em espaços do Terceiro Mundo. Por meio de uma metodologia comparatista ( de matriz solidária) pode-se cogitar a inversão de relações ou de apropriações calibanescas na rota norte-sul em nome de outras afinidades culturais, definidas por histórias comuns e compartilhadas, num contraponto às tendências globalizadoras. Justifica-se pela possibilidade de leitura e estudo de literaturas do Terceiro Mundo, como forma de construção de novas alianças e solidariedades, e de questionamento das epistemes eurocêntricas.

Metodologia

As atividades deste Projeto terão como orientação inicial e procedimento básico a pesquisa comparatista/bibliográfica que parte de referenciais teóricos e críticos publicadas em livros, artigos, teses e dissertações, não excluindo material como jornais, revistas, filmes, documentários etc. Procura, deste modo, estabelecer um domínio sobre o estado da arte no âmbito dos circuitos/trocas/intercâmbios entre os países do Terceiro Mundo. Com este intuito, é no campo da Literatura Comparada (associado ao da Teoria literária e com a utilização de conceitos emanados desta última, nomeadamente do campo da Sociocrítica) que o Projeto melhor se enquadra. A Literatura Comparada ou o Comparatismo é procedimento marcado, desde as origens, pela noção de transversalidade, seja tanto a respeito das fronteiras entre as nações ou idiomas, seja também no que concerne aos limites entre as diversas áreas do conhecimento. Tal transversalidade garante à disciplina ou procedimento um caráter de amplitude e, ao mesmo tempo, um sentido de inadequação ao modelo de um conhecimento compartimentado. O desdobramento da Literatura Comparada, ao incorporar um vasto leque de noções teóricas e críticas advindas da Teoria literária do século XX, passou a ser o de uma reflexão muito ampla sobre o objeto de estudo mas também um campo de indagações sobre a cultura, a sociedade, a política etc, confirmando operar sobre eixos intersemióticos, interdisciplinares e intertextuais (Carvalhal, 2003; Buescu, 2001; Villanueva, 2001). Colocando a literatura no quadro mais geral e amplo das manifestações artísticas, “a literatura comparada se situa na área particularmente sensível da ‘fronteira’ entre nações, línguas, discursos, práticas artísticas, problemas e conformações culturais” (Buescu, 2001). Para fins de singularização, trata-se, nesta Pesquisa, de um “comparatismo da solidariedade” atento ao conjunto de histórias compartilhadas nos espaços do Terceiro Mundo e capaz de questionar “a padronização do eixo comparativo” (países do Terceiro Mundo “versus” o “Ocidente”). De outra parte, considera a “formação histórica do terreno estético” dos países do Terceiro Mundo, procura deslocar a assimetria entre produtos culturais do terceiro mundo e os metropolitanos, em nome da aproximação de contextos do Terceiro Mundo estudados juntos e por um “sujeito-posição” localizado em tal espaço. A pesquisa, por meio do método comparativo (solidário), procura saber para como “lemos os textos uns dos outros”.

Indicadores, Metas e Resultados

A pesquisa possibilita, inicialmente, uma revisão do conceito de Terceiro Mundo ou ainda um aprofundamento sobre divisões binárias e sua sustentabilidade teórica num mundo interconectado e, principalmente, de desenvolvimento capitalista (modelo “vitorioso”) disseminado pelo globo. Boa parte “terceiro-mundista” do globo não teve, de modo geral, dificuldade em se conectar ou reconciliar seus nacionalismos com a “cultura pós-modernista norte-americana global”, ou seja, são escassas as experiências socialistas vigentes de contestação, até porque elas resultam de experiências consolidadas há um bom tempo neste campo. Assim, entra em questionamento não só a ideia de um bloco unitário ou divisão binária, mas também um eixo comparativo metropolitano que usualmente toma como parâmetro os produtos culturais dos centros hegemônicos de poder (econômico, cultural e acadêmico). O estudo dos circuitos culturais e literários do Terceiro Mundo (no Terceiro Mundo) ajuda a questionar a cumplicidade com os sistemas metropolitanos de conhecimento e representação, leva a entender a circulação de repertórios culturais em espaços “periféricos”, produz uma melhor compreensão de como somos vistos uns pelos outros e de como “nossos” textos são lidos e recebidos nos trânsitos e fluxos terceiro-mundistas. Se está em jogo, como impacto, o questionamento do eurocentrismo, não está menos em jogo a possibilidade de relações entre conjuntos de países de mesma língua ou de línguas diferentes, de um mútuo conhecimento das produções literárias, a possibilidade de construções de novas solidariedades, novos laços, o desejo de um futuro comum pelo conhecimento de nossas histórias também comuns. O tipo de trabalho que resulta desta proposta pode ser o do desenvolvimento de coordenadas alternativas, de modo que a modernidade ocidental não seja mais vista como o único ponto de legitimação, de representação e de comunicação.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ALFEU SPAREMBERGER8
ANA CAROLINA ALVES DOS SANTOS
ANDREA CRISTIANE KAHMANN4
BRUNA LOPES FRANCHINI
BRUNA LOPES FRANCHINI
FELIPE DE OLIVEIRA GARCIA
LISIÂNI COELHO
MICHÉLI RODRIGUES DE SOUZA
YASMIN DE OLIVEIRA GUIDOTTI
YASMIN DE OLIVEIRA GUIDOTTI

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