Nome do Projeto
Processamento da leitura em línguas minoritárias e adicionais
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/08/2021 - 31/07/2024
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Linguística, Letras e Artes
Resumo
A leitura de textos em duas ou mais línguas é uma habilidade cada vez mais demandada na sociedade atual. No Brasil, essa necessidade tem relação com as iniciativas dos próprios falantes de língua minoritária (pomerano, por exemplo) de usarem textos escritos na sua língua materna, a fim de favorecerem a sua manutenção. Além disso, a habilidade da leitura corresponde à necessidade de aprendizes de línguas adicionais, como inglês, alemão, espanhol e francês, de usarem essas e outras línguas no âmbito corporativo e/ou acadêmico. Considerando essas populações, o objetivo geral deste projeto é investigar processos subjacentes ao processamento da leitura em línguas minoritárias e em línguas adicionais nos níveis lexical e sintático. Um grupo de bilíngues participará de um experimento de leitura com rastreamento ocular. Para tanto, serão construídos e aplicados experimentos lexicais, sintáticos e textuais em língua minoritária e em língua adicional. Esperamos que a pesquisa possa contribuir, de um lado, com as políticas linguísticas relacionadas à manutenção das línguas minoritárias, encontrando efeitos benéficos dessas línguas no processamento da leitura. A inclusão das línguas minoritárias nos estudos brasileiros de cunho psicolinguístico pode oferecer uma contribuição relevante para o entendimento de configurações do multilinguismo pouco investigadas no mundo. De outro lado, esperamos que a pesquisa sobre o processamento de línguas adicionais por multilíngues possa contribuir para o aperfeiçoamento de métodos de ensino relacionados às habilidades leitoras de aprendizes que possuem as configurações linguísticas investigadas.
Objetivo Geral
Investigar processos subjacentes ao processamento da leitura em línguas minoritárias e em línguas adicionais nos níveis lexical, sintático e textual, considerando diferentes configurações linguísticas de bilíngues e multilíngues.
Justificativa
No Brasil, já é extensa a pesquisa sobre o processamento da leitura em língua adicional, sobretudo com relação à leitura em inglês (para uma breve descrição dos laboratórios de psicolinguística e de alguns estudos, ver ABREU; KENEDY, 2017; FINGER et al., 2016). Entretanto, estudos psicolinguísticos sobre o processamento da leitura em língua alemã ou outras línguas adicionais são mais escassos. Encontramos somente três estudos brasileiros (LIMBERGER, 2018; PICKBRENNER, 2017; TOASSI, 2016) envolvendo, especificamente, a língua alemã. Nesse sentido, esta pesquisa inclui línguas adicionais para além do inglês, possibilitando investigar aspectos lexicais, sintáticos e textuais específicos dessas línguas.
Ao contemplar línguas adicionais, o projeto também está aberto para a investigação do processamento da leitura, por exemplo, em espanhol e em francês.
Outra grande lacuna na pesquisa sobre processamento da leitura é a influência que as línguas minoritárias exercem sobre as habilidades leitoras. As pesquisas em âmbito nacional e internacional raramente têm contemplado o processamento de línguas ágrafas/minoritárias. Uma vez que o conhecimento de cada uma das línguas não é armazenado e processado de forma isolada no cérebro, as línguas interagem entre si e podem influenciar-se mutuamente. Por esse motivo, esta proposta, que aborda a leitura, é inovadora por relacionar as diferentes variedades linguísticas, até mesmo as predominantemente orais, com a competência na leitura.
Além disso, a proposta apresenta uma possibilidade de contribuição para a produção de conhecimento principalmente sobre as línguas da comunidade falante de línguas minoritárias de imigração do Brasil, como o hunsriqueano e o pomerano, variedades da língua alemã que predominam no Rio Grande do Sul. Ambas as línguas possuem a peculiaridade de não serem, comumente, utilizadas na modalidade escrita pelos seus falantes. A inclusão das línguas minoritárias nos estudos brasileiros de cunho psicolinguístico pode oferecer uma contribuição relevante para o entendimento de configurações do multilinguismo pouco investigadas no mundo. Com o auxílio de falantes de línguas e variedades linguísticas predominantemente orais, é possível estudar os efeitos do conhecimento de uma língua oral no uso e no processamento de outra(s) língua(s) na modalidade escrita. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a compreensão dos processos envolvidos na leitura de línguas adicionais e para o aperfeiçoamento de métodos de ensino relacionados ao processamento da leitura das línguas adicionais investigadas.
Quanto ao processamento de línguas minoritárias, esperamos contribuir com as políticas linguísticas relacionadas a elas, uma vez que, como em Limberger (2018), podemos encontrar benefícios linguísticos no processamento da leitura. As vantagens podem servir como argumento para a manutenção e, inclusive, para a formulação de métodos adequados de ensino de línguas minoritárias no contexto multilíngue do sul do Brasil, o que é cada vez mais desejado pelas comunidades. É importante conduzir estudos psicolinguísticos e neurocientíficos que replicam resultados de estudos com línguas majoritárias. Esses estudos endossam críticas feitas por Haugen (2001) e Coseriu (1982), segundo os quais a diferença entre língua e ‘dialeto’ é social, não linguística. Os estudos psicolinguísticos podem minimizar preconceitos, por meio da identificação e divulgação de potenciais vantagens linguísticas e cognitivas acarretadas pelo bilinguismo/multilinguismo de línguas minoritárias.
Ao contemplar línguas adicionais, o projeto também está aberto para a investigação do processamento da leitura, por exemplo, em espanhol e em francês.
Outra grande lacuna na pesquisa sobre processamento da leitura é a influência que as línguas minoritárias exercem sobre as habilidades leitoras. As pesquisas em âmbito nacional e internacional raramente têm contemplado o processamento de línguas ágrafas/minoritárias. Uma vez que o conhecimento de cada uma das línguas não é armazenado e processado de forma isolada no cérebro, as línguas interagem entre si e podem influenciar-se mutuamente. Por esse motivo, esta proposta, que aborda a leitura, é inovadora por relacionar as diferentes variedades linguísticas, até mesmo as predominantemente orais, com a competência na leitura.
Além disso, a proposta apresenta uma possibilidade de contribuição para a produção de conhecimento principalmente sobre as línguas da comunidade falante de línguas minoritárias de imigração do Brasil, como o hunsriqueano e o pomerano, variedades da língua alemã que predominam no Rio Grande do Sul. Ambas as línguas possuem a peculiaridade de não serem, comumente, utilizadas na modalidade escrita pelos seus falantes. A inclusão das línguas minoritárias nos estudos brasileiros de cunho psicolinguístico pode oferecer uma contribuição relevante para o entendimento de configurações do multilinguismo pouco investigadas no mundo. Com o auxílio de falantes de línguas e variedades linguísticas predominantemente orais, é possível estudar os efeitos do conhecimento de uma língua oral no uso e no processamento de outra(s) língua(s) na modalidade escrita. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a compreensão dos processos envolvidos na leitura de línguas adicionais e para o aperfeiçoamento de métodos de ensino relacionados ao processamento da leitura das línguas adicionais investigadas.
Quanto ao processamento de línguas minoritárias, esperamos contribuir com as políticas linguísticas relacionadas a elas, uma vez que, como em Limberger (2018), podemos encontrar benefícios linguísticos no processamento da leitura. As vantagens podem servir como argumento para a manutenção e, inclusive, para a formulação de métodos adequados de ensino de línguas minoritárias no contexto multilíngue do sul do Brasil, o que é cada vez mais desejado pelas comunidades. É importante conduzir estudos psicolinguísticos e neurocientíficos que replicam resultados de estudos com línguas majoritárias. Esses estudos endossam críticas feitas por Haugen (2001) e Coseriu (1982), segundo os quais a diferença entre língua e ‘dialeto’ é social, não linguística. Os estudos psicolinguísticos podem minimizar preconceitos, por meio da identificação e divulgação de potenciais vantagens linguísticas e cognitivas acarretadas pelo bilinguismo/multilinguismo de línguas minoritárias.
Metodologia
Para a investigação psicolinguística, é necessário criar experimentos de linguagem. Neste projeto, propõe-se a construção de experimentos com palavras escritas em língua minoritária, primeiramente em pomerano, mas sendo possível expandir para outras línguas minoritárias (de imigração, indígenas ou de fronteira, por exemplo), de acordo com a demanda da sociedade e os contatos acadêmicos. Os estímulos que serão apresentados aos participantes, no nível lexical, deverão ser controlados quanto ao número de letras, sílabas e encontros consonantais, à frequência e ao status cognato. Além disso, serão criados experimentos de compreensão de sentenças, primeiramente em alemão-padrão. As sentenças serão formuladas pareando o número de palavras, o número aproximado de cognatos, o tipo de verbo e o tipo de sujeito. Tanto as palavras quanto as sentenças precisão ser avaliadas, primeiramente, por falantes nativos da língua que está sendo testada e, também, por integrantes da amostra-alvo, no caso de falantes de línguas adicionais. Além das palavras e das sentenças, serão coletados textos para serem lidos por participantes da pesquisa (objetivo D, acima) e farão parte do banco de dados de textos escritos em língua minoritária, a fim de fortalecer as ações de manutenção dessas línguas. Depois de prontos, os experimentos serão programados no software PsychoPy (PEIRCE, 2009), que registra a latência de resposta e a acurácia de leitura, principais variáveis a serem testadas no estudo, em correlação com características sociodemográficas das amostras.
Participarão do estudo diferentes grupos de falantes, selecionados a partir dos seus conhecimentos linguísticos e recrutados por conveniência. Os participantes falantes de pomerano serão escolhidos de acordo com os seus conhecimentos linguísticos. Para tanto, os integrantes do grupo de pesquisa Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo, composto por descendentes de pomerano, entrarão em contato com as respectivas comunidades por meio de redes sociais e/ou contatos pessoais. Utilizaremos também a técnica da bola de neve, na qual os participantes iniciais de um estudo indicam outros participantes e assim sucessivamente. Os participantes serão de fato selecionados com base no questionário de histórico da linguagem (SCHOLL; FINGER, 2013), pois devem ter um perfil linguístico específico (bilíngues precoces falantes de pomerano e português). Os falantes multilíngues de alemão-padrão serão recrutados por meio do contato com a coordenadora pedagógica da escola onde a pesquisa será realizada. A própria escola indicará os potenciais participantes, de acordo com o nível linguístico requisitado pela pesquisa (B1 – nível intermediário). Os estudantes participarão da pesquisa mediante consentimento dos pais e assentimento próprio. Na Alemanha, os participantes serão recrutados com a indicação dos professores parceiros. Lá, não haverá muitos critérios para a seleção. Os participantes deverão ser estudantes e não falarem um dialeto do norte da Alemanha, devido a possíveis semelhanças com o pomerano. Os demais grupos linguísticos serão selecionados sob demanda, de acordo com os interesses do grupo de pesquisa. Os participantes preencherão o questionário e farão tarefas padronizadas de memória de trabalho (RIGATTI et al., 2017) e de funções executivas, a fim de relacionar o desempenho cognitivo ao linguístico. Nos experimentos que envolvem falantes de línguas adicionais, serão inseridas no protocolo tarefas que envolvem emoções, tamanho de vocabulário e nível de proficiência. Um pesquisador do grupo apresentará o projeto a cada participante, entregará o termo de consentimento livre e esclarecido e coletará informações básicas de contato. Os participantes que se enquadrarem nos critérios de inclusão serão convidados a participar do estudo. Além do protocolo padrão, nos experimentos de leitura, os participantes decidem (1) se as palavras lidas existem ou não nas línguas envolvidas na pesquisa; ou (2) leem frases e respondem a perguntas sobre elas ou (3) leem textos e respondem a perguntas sobre eles. Esses experimentos têm relação com os objetivos específicos.
Participarão do estudo diferentes grupos de falantes, selecionados a partir dos seus conhecimentos linguísticos e recrutados por conveniência. Os participantes falantes de pomerano serão escolhidos de acordo com os seus conhecimentos linguísticos. Para tanto, os integrantes do grupo de pesquisa Laboratório de Psicolinguística, Línguas Minoritárias e Multilinguismo, composto por descendentes de pomerano, entrarão em contato com as respectivas comunidades por meio de redes sociais e/ou contatos pessoais. Utilizaremos também a técnica da bola de neve, na qual os participantes iniciais de um estudo indicam outros participantes e assim sucessivamente. Os participantes serão de fato selecionados com base no questionário de histórico da linguagem (SCHOLL; FINGER, 2013), pois devem ter um perfil linguístico específico (bilíngues precoces falantes de pomerano e português). Os falantes multilíngues de alemão-padrão serão recrutados por meio do contato com a coordenadora pedagógica da escola onde a pesquisa será realizada. A própria escola indicará os potenciais participantes, de acordo com o nível linguístico requisitado pela pesquisa (B1 – nível intermediário). Os estudantes participarão da pesquisa mediante consentimento dos pais e assentimento próprio. Na Alemanha, os participantes serão recrutados com a indicação dos professores parceiros. Lá, não haverá muitos critérios para a seleção. Os participantes deverão ser estudantes e não falarem um dialeto do norte da Alemanha, devido a possíveis semelhanças com o pomerano. Os demais grupos linguísticos serão selecionados sob demanda, de acordo com os interesses do grupo de pesquisa. Os participantes preencherão o questionário e farão tarefas padronizadas de memória de trabalho (RIGATTI et al., 2017) e de funções executivas, a fim de relacionar o desempenho cognitivo ao linguístico. Nos experimentos que envolvem falantes de línguas adicionais, serão inseridas no protocolo tarefas que envolvem emoções, tamanho de vocabulário e nível de proficiência. Um pesquisador do grupo apresentará o projeto a cada participante, entregará o termo de consentimento livre e esclarecido e coletará informações básicas de contato. Os participantes que se enquadrarem nos critérios de inclusão serão convidados a participar do estudo. Além do protocolo padrão, nos experimentos de leitura, os participantes decidem (1) se as palavras lidas existem ou não nas línguas envolvidas na pesquisa; ou (2) leem frases e respondem a perguntas sobre elas ou (3) leem textos e respondem a perguntas sobre eles. Esses experimentos têm relação com os objetivos específicos.
Indicadores, Metas e Resultados
1) Encontrar efeitos de influência interlinguística, de intercompreensão e influências de fatores extralinguísticos no processamento da leitura em uma língua minoritária ou de uma língua adicional.
2) Verificar a efetividade do sistema de escrita mais usado para a leitura em pomerano (TRESSMANN, 2006).
3) Encontrar efeitos de facilitação na leitura de palavras cognatas, modulados pelo grau de similaridade entre as palavras.
4) Fornecer subsídios científicos para a formulação de políticas linguísticas que favorecem a manutenção de línguas minoritárias e para a elaboração de métodos de ensino de alemão como língua estrangeira e pomerano adequados para essas populações.
5) Divulgar adequadamente a pesquisa e resultados relacionados com falantes de línguas minoritárias e adicionais, por meio de redes sociais e visitas nas comunidades.
2) Verificar a efetividade do sistema de escrita mais usado para a leitura em pomerano (TRESSMANN, 2006).
3) Encontrar efeitos de facilitação na leitura de palavras cognatas, modulados pelo grau de similaridade entre as palavras.
4) Fornecer subsídios científicos para a formulação de políticas linguísticas que favorecem a manutenção de línguas minoritárias e para a elaboração de métodos de ensino de alemão como língua estrangeira e pomerano adequados para essas populações.
5) Divulgar adequadamente a pesquisa e resultados relacionados com falantes de línguas minoritárias e adicionais, por meio de redes sociais e visitas nas comunidades.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
ALINE BEHLING DUARTE | |||
ANDREA UALT FONSECA | |||
ANGELA INES KLEIN | 1 | ||
BERNARDO KOLLING LIMBERGER | 13 | ||
CHRISTIAN KLUG MARTINS | |||
CINTIA AVILA BLANK | 3 | ||
DANIELE EBEL | |||
DÉBORA MEDEIROS DA ROSA AIRES | |||
ELISA MARCHIORO STUMPF | 2 | ||
ELIZANDRA SCHWANZ DA SILVA NETTO | |||
FERNANDA SILVESTRE DA SILVA | |||
GABRIEL ZARDO DE OLIVEIRA | |||
GABRIELA WALLY GRIEP | |||
GISLEIA SIMONE DEVANTIER BLANK MÜLLING | |||
JEAN FRANCHESCO GONCALVES LUNKES | |||
KAMILA MENDES DA SILVA | |||
LISANDRO MIRITZ VÖLZ | |||
LOURDES HELENA DA ROSA DALLMANN | |||
LUCAS LOFF MACHADO | 1 | ||
LYDIA TESSMANN MÜLLING | |||
MARCOS KRUGER LUTZ | |||
MURILO PEGLOW BILHARVA | |||
RAPHAELA PALOMBO BICA DE FREITAS | |||
SABRINA PÔRTO REGO | |||
THOMAS DE JULIO |
Fontes Financiadoras
Sigla / Nome | Valor | Administrador |
---|---|---|
FAPERGS / Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado Rio Grande do Sul | R$ 19.227,84 | Coordenador |
Plano de Aplicação de Despesas
Descrição | Valor |
---|---|
339030 - Material de Consumo | R$ 92,29 |
449052 - Equipamentos e Material Permanente | R$ 16.135,55 |
339039 - Outros Serviços de Terceiro - Pessoa Jurídica | R$ 3.000,00 |