Nome do Projeto
Percursos individuais e coletivos de formação leitora em práticas escolares e não escolares: a constituição de meios, modos e apropriações no ato de ler
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
02/03/2022 - 31/08/2022
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
A pesquisa tem por objetivo compreender, a partir de percursos individuais e coletivos, processos de formação leitora desenvolvidos em diferentes instâncias sociais (família, escola, igreja, bibliotecas...), em variados suportes de leitura (a partir de seus dispositivos textuais e tipográficos que incidem na formação do leitor). Nessa direção, os objetivos específicos tangenciam diferentes dimensões para a compreensão das práticas de leitura, a partir de quatro possíveis abordagens: a) os leitores e as instâncias de socialização não escolares responsáveis pela formação leitora (meios, modos e apropriações); b) as práticas de leitura escolares: modos de ler e apropriações da leitura durante as aulas e os usos não autorizados/institucionalizados de leitura; c) os suportes de leitura e seus dispositivos textuais e tipográficos, na relação com os sentidos produzidos; d) a produção, circulação e uso de livros escolares e a influência destes na formação dos leitores em diferentes instâncias sociais. Para tanto, conceitos como: “cultura escrita e oralidade”, “apropriação”, “leitura ética e estética”, “leitores ativos”, “protocolos de leitura”, entre outros, serão trabalhados a partir do referencial teórico que sustenta essa investigação, sobretudo a História Cultural. Os modos de ler e os sentidos atribuídos aos textos pelos leitores, especialmente quando estes estão imersos em práticas socioculturais vinculadas à oralidade, é algo que carece de investigação e aprofundamento teórico. Neste sentido, o estudo de casos individuais e/ou coletivos torna-se bastante pertinente, pois não se limita a classificações tradicionais, que tendem a relacionar indivíduos a determinados contextos sociais, a gostos e práticas culturais. A análise individual permite entender que existe uma pluralidade de pertenças sociais que independe, em certa medida, do grupo social de origem. Assim, no caso especifico deste estudo, a análise de trajetórias individuais se mostra bastante pertinente para que se descortinem aspectos importantes sobre os modos de participação nas culturas do escrito, vivenciadas por indivíduos escolarizados e pouco/não escolarizados.

Objetivo Geral

Compreender, a partir de percursos individuais e coletivos, os processos de formação leitora que ocorrem em diferentes instâncias sociais e em variados suportes de leitura, que cumprem importante papel na constituição do leitor.

Justificativa

A investigação aqui proposta, está baseada nos estudos da História Cultural, particularmente da história da leitura; e da Sociologia da Educação, em especial no que se refere à sociologia da leitura. Nessa direção, pelo menos duas possíveis abordagens podem contribuir para a abrangência da investigação: a) os suportes de leitura e seus dispositivos textuais e tipográficos na relação com os sentidos produzidos; b) a produção, circulação e uso de livros escolares e a influência destes na formação dos leitores em diferentes instâncias sociais.
Autores como Certeau (1994) e Chartier (1994), compreendem a leitura como um processo de interpretações socialmente constituídas. Nesse sentido, a produção de sentidos é resultado da ação e interação entre o leitor (e seu conhecimento sócio histórico), o texto (e seu conteúdo semântico) e as obras (compostas por dispositivos discursivos e tipográficos). Assim, de modo a compreender a apropriação dos textos pelos leitores, Chartier (1994) considera imprescindível a análise da materialidade dos suportes de leitura , uma vez que “as significações históricas e socialmente diferenciadas de um texto, qualquer que ele seja, não podem separar-se das modalidades materiais que o dão a ler aos seus leitores” (p.105). Portanto, para o autor, a materialidade do texto é inseparável da materialidade do livro, que confere a este uma forma fixa. Ainda, Chartier (2014), apoiado nos estudos de McKenzie, afirma que o significado de um texto, canônico ou não, “depende das formas que o tornam possível de ler, ou seja, das diferentes características da materialidade da palavra escrita” (p.20). Referindo-se ao Antigo Regime, observa que os livros começavam com uma série de textos preliminares ao texto principal, que conduziam o leitor para uma determinada leitura dessa obra. Reafirmando, assim, a necessária análise dos aspectos textuais e gráficos de uma obra, para se chegar à apropriação que dela é feita, indicando para uma proximidade entre História Cultural e Crítica Textual.
No que se refere a produção, circulação e uso de livros escolares e a influência destes na formação dos leitores em diferentes instâncias sociais, Bittencourt (2009) considera que ao livro didático é objeto cultural de difícil definição, “por ser obra bastante complexa, que se caracteriza pela interferência de vários sujeitos em sua produção, circulação e consumo . (...) É objeto de ‘múltiplas facetas’, e para sua elaboração e uso existem muitas interferências.” (p.301). Sendo, contudo, produto que tem como destinatário principal a escola, e como público-alvo, professores e alunos, outros públicos também fazem uso dos livros didáticos, em diferentes práticas de leitura. De modo a compreender a dinâmica que envolve o consumo desse suporte de leitura, conforme Choppin (2004), “um interesse particular vem sendo dado, de uns vinte anos para cá, às questões referentes ao uso e à recepção do livro didático.” (CHOPPIN, 2004, p.564). Neste mesmo sentido, para Galvão e Batista (2009, p.16), os estudos que buscam compreender os processos de apropriação dos conteúdos em práticas efetivas de leitura ainda carecem de maior atenção entre as pesquisas sobre os manuais escolares. Esses autores, ao realizarem uma análise sobre a produção nacional referente aos manuais escolares, apontam cinco possíveis descolamentos no enfoque das pesquisas que vem sendo realizadas, de modo a contemplar assim, de forma mais ampla, os diferentes aspectos que envolvem a história dos manuais didáticos. Entre esses deslocamentos estaria o enfoque nos protocolos de leitura e nas apropriações das leituras realizadas em livros didáticos. Ainda, O livro didático projetado pelos educadores, passando pelos editores e autores, resulta em outra história nas mãos dos professores, alunos ou do indivíduos que o lê fora do contexto escolar. Os diferentes atores sociais, portadores de histórias diferentes, de valores e ideologias diversas, apropriam-se dos textos didáticos também de modos diferentes, mesmo diante do caráter impositivo e diretivo com que o livro didático apresenta o texto a ser lido. Consideramos assim, que o livro didático é um importante suporte de leitura, e importante fonte e objeto de pesquisa, pela ampla circulação em diversas instâncias sociais em diferentes momentos históricos, e mesmo, por reunir significativo conjunto de protocolos de leitura que visam instituir um determinado leitor.



Metodologia

Este projeto de pesquisa já vem sendo desenvolvido desde 2017, está sendo cadastrado para contemplar os meses finais de algumas das ações empreendidas no projeto inicial. Dentre as atividades que ocorrem de forma permanente está a revisão bibliográfica sobre a temática da pesquisa, e o aprofundamento teórico e conceitual. Uma das vias de entrada para compreender a formação leitora é a investigação a partir das instâncias ou instituições que possuem práticas sistemáticas de leitura, com o objetivo de formar leitores ou de formar modos de pensar e agir no mundo social, que perpassa a prática de leitura. Nesse sentido, as instância que destacam-se historicamente, especialmente em relação ao ensino da leitura, são a família e a escola, mas outras instâncias sociais assumem relevante papel nesse processo, não apenas no sentido de ensinar a ler, mas de formar modos de ler e de produzir sentidos sobre o que é lido. Entre estas instâncias de circulação social pode-se considerar: a igreja, a sociedades literárias, as bibliotecas, a internet, entre outras.
Em relação à instituição escolar, algumas investigações já vem sendo desenvolvidas pela proponente do projeto, no sentido de compreender a formação dos leitores e os usos da leitura nesse contexto. Em termos metodológicos, as disciplinas de Estágio Supervisionado do curso de licenciatura em História, em que atuamos, é uma via de aproximação e acesso à escola. Através dos estagiários foi possível aplicar 400 questionários em escolas da rede pública de ensino, em 20 turmas da educação básica. Em um segundo momento, realizamos observações etnográficas em duas salas de aula, com turmas de 9º ano do Ensino Fundamental, de escolas distintas. As observações ocorreram por um período de quatro meses, resultando em 38 aulas observadas. As notas de campo realizadas durante as observações in loco foram ampliadas após cada aula observada, com descrições minuciosas das atividades desenvolvidas por professores e alunos. Ainda, foram organizados grupos de discussão com os alunos das duas turmas, para leitura e discussão de textos históricos, e coletado dados socioculturais dos alunos através da aplicação de questionário . Essa investigação deverá ser ampliada, contemplando as práticas não institucionalizadas de leitura que circulam no contexto escolar (leituras ordinárias), através da realização de grupos de discussão e entrevistas com escolares.
Ainda, outros períodos históricos estão sendo contemplados pela investigação, a partir da análise de documentos e materiais didáticos que possibilitam encontrar indícios do papel da instituição escolar na produção de estratégias de ensino da leitura, assim como, práticas institucionalizadas de uso dos suportes e dos modos de ler na escola. Para tanto, desenvolve-se a análise da construção do texto e das estratégias discursivas que visam alcançar um Leitor-modelo, que tendem a constituir um determinado leitor a partir do texto. Uma vez que a formação leitora também é resultado da ação de autores e editores, que a partir da produção de suas obras buscam, não só controlar a produção de sentidos, como instituir um determinado leitor. Conforme Chartier (1994), “as significações históricas e socialmente diferenciadas de um texto, qualquer que ele seja, não podem separar-se das modalidades materiais que o dão a ler aos seus leitores” (p.105). Deste modo, para o autor, a materialidade do texto é inseparável da materialidade do livro, que confere a este uma forma fixa. Para tanto, o acervo de livros didáticos do Laboratório de Ensino de História está sendo consultado e os livros e manuais pedagógicos analisados. Por fim, outro espaço de investigação são o ciberespaços destinados a professores/as de História, que estabelecem a relação entre a educação escolar e extraescolar na construção de conhecimentos histórico. Para tanto, estão sendo mapeados e caracterizados os espaços virtuais que tem como público alvo professores/as de História, e que apresentem a possibilidade de publicação de conteúdos históricos produzidos também por docentes de História, a exemplo do facebook. Além de catalogar e analisar os conteúdos postados, será importante identificar a formação dos internautas, observar a interação entre eles, analisando os principais comentários, e o número de marcações com “gostei/não gostei”, pois essa interação pode apresentar indícios da apropriação do conteúdo pelo público internauta.

Indicadores, Metas e Resultados

Entendemos que o trabalho analítico de dados empíricos que contemplem as questões apresentadas, de modo ainda pouco aprofundas, podem trazer significativa contribuição para a história e a sociologia das práticas de leitura, no que tange, especialmente, ao processo de formação dos leitores, ou seja, os meios, modos e apropriações que fazem da leitura. De modo mais específico, consideramos que importantes perspectivas serão apontadas no sentido de compreender a relação que os leitores estabelecem com os textos históricos, constituindo determinada cultura histórica.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
FÁBIO ALEXANDRE DA SILVA
LISIANE SIAS MANKE3
MARIA PORTILHO BAGESTEIRO
RAYANNE MATIAS VILLARINHO

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