Nome do Projeto
Memória, identidade e patrimônio industrial edificado pela UFPel. Memórias dos lugares de produção de Pelotas e suas possibilidades de pesquisa a partir do trabalho com as comunidades
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
16/03/2022 - 31/08/2023
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
No processo de urbanização, migração e desenvolvimento industrial das cidades do Estado do Rio Grande do Sul, a região sul do Estado (Pelotas e Rio Grande) adquiriu características que mudaram sua dinâmica histórica vinculada à pecuária, influenciando no cotidiano das populações que ali habitam. Surge então uma memória compartilhada formada a partir desta nova situação, ou seja, memórias e narrativas de experiências de trabalho relacionadas com esse processo de industrialização e urbanização, hoje já quase inexistente. Ao crescimento da população e das indústrias seguiu o crescimento dos estabelecimentos fabris que em alguns casos não teve continuidade. Muitas dessas empresas que se instalaram desde finais do S. XIX, não permaneceram, seja porque se mudaram para outros Estados, seja porque deixaram de funcionar. Estes acontecimentos ocorreram em um passado próximo, sendo ainda possível reconstruir as “memórias do trabalho” de quem foi testemunho direto desse momento, assim como realizar o levantamento dessas empresas que em vários casos deixaram suas estruturas fabris, as quais se deterioraram ou foram reativadas com outras lógicas diferentes a sua função original. Ao ter novas funções, esses espaços adquirem outros significados e novos sentidos são outorgados. Em vários casos ao serem readaptados ou reabilitados passam a ser parte de propostas memoriais e culturais, expográficas ou de entretenimento, mas que nem sempre atendem ou dão conta do passado industrial e menos ainda das memórias de pessoas que ali passaram importantes momentos de suas vidas. Por outra parte a construção de um discurso sobre a região que centra sua atenção nas “charqueadas” e atividades pecuárias, homogeneizando o tempo transcorrido, na maior parte das vezes não contempla as mudanças e o processo de industrialização acontecido no final do século XIX e XX. Dessa forma as experiências humanas, dos indivíduos que foram protagonistas desses tempos e ritmos diversos da urbanização da cidade nem sempre são levadas em consideração. Acredita-se que é possível captar esses processos por meio das narrativas orais; que uma análise qualitativa destes registros poderá contribuir para a compreensão das dinâmicas de tempos diferentes frente aos atuais. Entende-se que é possível reconstruir aspectos do cotidiano dos operários valorizando suas memórias e auxiliando com isto a gerar conhecimento e valores patrimoniais, se assim o desejarem as comunidades a eles vinculadas.

Objetivo Geral

O objetivo geral analisar os remanescentes industriais da região de Pelotas e Rio
Grande (RS), sua evolução histórica e sua atual reativação, bem como os processos e memórias de
trabalho, as redes construídas a partir da fábrica, os entornos do edifício fabril, e o cotidiano operário.
Inicialmente começará com o relevamento, sistematização das informações e resultados obtidos nas
pesquisas já realizadas em diversos cursos da UFPel sobre os ex-prédios industriais adquiridos pela
Unviersidade: Anglo, Laneira, Cotada, Consulã e Cervejaria Sulriograndense. A partir do levantamento do
Patrimônio Cultural Edificado da UFPel realizado em 2013 pretende-se avançar na atualização dos dados e
sobre tudo registrar as narrativas de ex- trabalhadores, promover o envolvimento das comunidades, em
definitiva propor diversas instâncias de pesquisa e educação patrimonial. Para tal estabelecem-se os
seguintes objetivos específicos: • Realizar o levantamento dos remanescentes industrias da região do
Porto de Pelotas; • Identificar os elementos arquitetônicos desses prédios e verificar as recorrências de
estilos; • Localizar os entornos desses estabelecimentos; • Recuperar as trajetórias dessas empresas; •
Realizar o levantamento da arquitetura de vilas para operários; • Reconstruir as memórias do trabalho dos
operários que trabalharam nessas empresas; • Compreender os processos produtivos desenvolvidos nesses empreendimentos
industriais a partir das narrativas; • Recuperar dados do cotidiano operário; • Compreender quais os
elementos mais significativos e representativos destas memórias sociais e verificar sua equivalência com
a atribuição de valor patrimonial; • Analisar os processos de reativação e refuncionalização patrimonial de
esses prédios por parte da UFPel em Pelotas. • Propor diversas instâncias de educação patrimonial e
extensão universitária a partir do envolvimento dos estudantes nas diferentes etapas do projeto.

Justificativa

O projeto será uma continuidade do projeto de pesquisa desenvolvido pela autora. O mesmo se justifica na sobrevivência de uma memória compartilhada vinculada àquele passado industrial, ou seja, memórias e narrativas de experiências de trabalho relacionadas com esse processo de industrialização e urbanização mencionados. Para uma adequada valorização e integração dessas memórias na dinâmica da apropriação patrimonial que se espera com o desenvolvimento deste projeto, torna-se necessário aprofundar o trabalho de registro, análise e difusão dessas memórias para as novas gerações que hoje usam esses prédios (mais ainda se esses usos, por causa da atual pandemia estão mermando, correndo o risco da perda total de conexão já não só com o passado, também com o que costumava ser até início do ano 2020). Neste contexto pandémico se está ante um presente incerto que ainda apresenta dificuldades para ocupar presencialmente esses espaços; como professores da instituição corresponde a nós buscar maneiras de reestabelecer conexões históricas, ativando a dimensão patrimonial desses lugares com perspectivas futuras para os tempos que virão.

Metodologia

Junto com à análise da documentação escrita e imagética: imprensa da época, processos da Justiça do Trabalho, fichas de trabalhadores e outros documentos das empresas, projetos e planos arquitetônicos, fotografias dos diferentes períodos de atividade das empresas, se privilegiará o uso da História Oral como principal metodologia para compreender os aspectos imateriais (as narrativas de ex-trabalhadores) que dão conta da história desses locais e das dimensões intangíveis dos processos de reativação patrimonial antes mencionados .
A História Oral supõe uma recuperação sistemática da memória criando um corpus documental constituído por um conjunto de depoimentos, neste caso: de experiências de ex-trabalhadores dos extintos centros industriais de Pelotas/RS.
O foco central da pesquisa está colocado nas narrativas de antigos operários dos extintos centros fabris hoje adquiridos pela UFPel para novos usos (vinculados à atividade acadêmica). Por esse motivo a orientação teórico-metodológica estará baseada na utilização da História Oral. Pretende-se construir as fontes a partir de novas entrevistas realizadas a ex trabalhadores desses centros, aos moradores do entorno fabril e aos novos usuários desses espaços. Também serão utilizadas entrevistas realizadas para outras pesquisas que tiveram como protagonistas esses trabalhadores . Não obstante isso, serão analisadas diversas fontes assim como os trabalhos já produzidos desde diferentes áreas do conhecimento nos próprios cursos da Universidade.
Também será utilizada a metodologia dos Mapas Mentais para a construção das redes de afeto sobre o espaço que será estudado em diálogo com a memória social criada e transformada pelas comunidades.
Entende-se a História Oral, como uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes que gera um novo documento (ALBERTI, 2004). Essa metodologia trabalha com fontes orais obtidas em um processo de interação pesquisador-pesquisado; distingue-se em história oral de vida e história temática; reconstrói a memória individual e coletiva; cria documentos através das fontes orais coletadas (LANG, 1996; ALBERTI, 2004; SITTON; MEHAFFY; DAVIS Jr., 1995).
A História Oral busca o relato de uma existência em um tempo concreto. As narrativas individuais indicam um tempo vivido em relação a outras pessoas que compuseram os diversos grupos sociais pelos quais passaram no decorrer da vida. As experiências militantes, de trabalho, em família, com camadas sociais distintas etc., são elementos que cabem ao investigador integrar e problematizar, relacionando-os com a sociedade local e global onde se inserem.
Lang (1996, p. 36) ressalta que a História Oral centra-se no indivíduo, contudo não se esgota nele, pois aponta para a sociedade. Para a autora, vários relatos individuais de uma mesma coletividade permitem reconstruir a trajetória de um grupo social:
O indivíduo que conta sua história, ou dá seu relato de vida, não constitui, ele próprio, o objeto de estudo; constitui o relato a matéria-prima para o conhecimento sociológico que busca, através do indivíduo e da realidade por ele vivida, apreender as relações sociais em que se insere em sua dinâmica (LANG, 1996, p. 36).
Por sua parte, Olga von Simson (1996, p.83) utiliza o método para reconstruir aspectos histórico-sociológicos, em que a preocupação não reside simplesmente na reconstrução dos fatos ou na constatação da veracidade ou não do relatado. Para esta autora, a preocupação primeira está em
Captar e entender as visões de mundo, aspirações e utopias elaboradas por diferentes estratos ou grupos sociais neles envolvidos e os mecanismos de veiculação das mesmas, primeiramente entre os membros do próprio grupo estudado e depois, alargando seu raio de influência, para atingir outros agrupamentos da sociedade.
A História Oral possibilita análises no âmbito simbólico, da auto-representatividade, dos estereótipos narrativos e da subjetividade que investe sobre a construção de memórias paralelas àquelas facilmente verificáveis em outros tipos de documentos, demonstrando um novo campo de estudos dentro da História (FRASER, 1993). Nesse sentido, a qualidade e a confiabilidade da narrativa não se relacionam com a proximidade temporal, porém dependem da capacidade do sujeito em apreender o acontecimento, de sua relevância emocional e da maneira como ele lida e atribui significados ao vivido.
Por fim, este projeto busca com a História Oral fazer a intermediação entre a micro e macro-história, entre as vivências de pequenos grupos e sua relação com às estruturas da sociedade, estabelecendo pontes entre a história contada e as manifestações políticas, econômicas e sociais em que o sujeito se insere. Pretende-se analisar a narrativa a partir do presente do depoente relacionando-o ao universo da industrialização de Pelotas ao qual esteve vinculado e ao conjunto de experiências/relatos que pode apontar para valores externos à materialidade de um bem cultural e patrimonial.
A metodologia dos Mapas Mentais será utilizada para compreender como os indivíduos analisam e interpretam os espaços. Segundo Lynch (1980), precursor da técnica, essas representações espaciais são passíveis de interpretação uma vez que os objetos físicos podem evocar imagens mentais e sua organização, disposição, ênfase, etc., geram e expressam níveis de afetividade, importância e valor conforme viveu e experienciou cada indivíduo. Kozel (2007) observa que os indivíduos compreendem e expressam à sua maneira o espaço vivido, e que sua visão está impregnada de percepções e significados, o que a caracteriza como uma construção sociocultural. A utilização desta metodologia com as comunidades é fundamental no auxílio da percepção que possuem dos remanescentes industriais e para a compreensão dos valores atribuídos socialmente aos mesmos.
A relação dos mapas mentais com a memória social é estreita, e por isso se faz necessária uma construção teórica que consiga interligar a metodologia com a teoria. Para tanto, retomar discussões da área que partiram de autores como Halbwachs (2004), Ricouer (2007) e Candau (2006, 2011) será fundamental.

Indicadores, Metas e Resultados

Serão necessárias as seguintes ações:
• Sistematização dos estudos sobre esses locais nas diferentes áreas do saber para recuperar as trajetórias dessas empresas, dando continuidade ao já realizado neste projeto;
• Análise das entrevistas –a ex trabalhadores- produzidas no marco de outras pesquisas da instituição.
• Análise das principais pesquisas realizadas na UFPel que dialogam direta ou indiretamente com este projeto,
• Saídas de campo para identificar os elementos arquitetônicos desses prédios e os estados de preservação dos mesmos;
• Saídas de campo para localizar os entornos desses estabelecimentos;
• Saídas de campo para realizar o levantamento da arquitetura de vilas para operários;
• Identificação de possíveis entrevistados (ex trabalhadores e moradores antigos) que possam ter informações relevantes sobre a história desses locais e seu funcionamento;
• Realização e transcrição das entrevistas;
• Análise e processamento dos dados obtidos a partir das narrativas e dos demais documentos;
• Verificação de atribuição de valor patrimonial por parte das comunidades;
• Análise dos processos de reativação e refuncionalização patrimonial de esses prédios por parte da Universidade y das políticas desenvolvidas na cidade de Pelotas.


Resultados e impactos esperados

• Atualização das informações já existentes sobre as ex fábricas adquiridas pela UFPel visando contribuir com o Plano Diretor que a Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento – PROPLAN vêm desenvolvendo.
• Atualização das informações vinculadas ao patrimônio industrial da UFPel .
• Sistematização das informações existentes e as que surjam a partir desta pesquisa para promover mais pesquisas sobre esses assuntos.
• Geração de um número significativo de entrevistas sobre o passado industrial da cidade de Pelotas que possa contribuir para futuras pesquisas.
• Geração de conhecimento sobre a história desses prédios em particular e sobre o processo de industrialização da cidade assim como sua posterior desindustrialização, incluindo a dimensão intangível: as experiências do trabalho por parte de seus protagonistas.
• Proposição de diversas instâncias de educação patrimonial e extensão universitária a partir do envolvimento dos estudantes nas diferentes etapas do projeto.
• Oferecimento de oficinas, mini-cursos e atividades nas escolas dos bairros onde se encontram esses patrimônios industrias, assim como atividades de divulgação dos resultados para a comunidade com a parceria da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Pelotas.
• Apresentações dos resultados da pesquisa (parciais e finais) em eventos, assim como em publicações acadêmicas.
• Criação de material informativo para a página web do projeto.
• Reflexão e comparação deste processo de ativação patrimonial com outros semelhantes em contextos nacionais e internacionais.
• Contribuição para o debate acadêmico dos problemas e possibilidades do patrimônio industrial para valorização da participação das comunidades nesses processos.
• Formação de recursos humanos a través da promoção de pesquisas (TCCs, dissertações, teses) sobre a temática .

Finalmente, espera-se contribuir à conscientização da comunidade (acadêmica e do bairro) sobre a importância desse patrimônio industrial para assim valorizá-lo e preservá-lo.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
AMILCAR ALEXANDRE OLIVEIRA DA ROSA
ANA MARÍA SOSA GONZÁLEZ8
ANDRE ALVES DA SILVA
Bruno dos Santos Bengochea
CAROLINE CARDOSO DA SILVA
CRISTIÉLE SANTOS DE SOUZA
DANIELA VIEIRA GOULARTE
ELVIS SILVEIRA SIMÕES
FRANCISCA FERREIRA MICHELON8
GABRIEL BASILIO DE CAMPOS
Giovani Bertolazi Brazil
JOSSANA PEIL COELHO
JÉSSICA RODRIGUES BANDEIRA PERES
KATIA HELENA RODRIGUES DIAS2
Laura Susana Zamudio Vega
MÔNICA LUCAS LEAL DE MACEDO
RAFAELA MAY AMARAL
RITA JULIANA SOARES POLONI2
Susana Isabel Antunes Domingues
TAIANE MENDES TABORDA
THIAGO CEDREZ DA SILVA
UBIRAJARA BUDDIN CRUZ2

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