Nome do Projeto
CULTURAS INFANTIS DE TERREIRO: EXPERIÊNCIAS E NARRATIVAS DE CRIANÇAS PEQUENAS VIVENCIADORAS DE TRADIÇÕES DE MATRIZ AFRICANA
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/05/2022 - 01/05/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O presente projeto de pesquisa intitulado está inserido na grande área das Ciências Humanas, com interfaces no campo da educação e da saúde, e compõe as atividades do “Núcleo de Estudos e Pesquisas E’LÉÉKÒ: Agenciamentos Epistêmicos Antirracistas e Descoloniais”, vinculado ao curso de Psicologia da UFPel e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. Ele busca produzir problematizações, reflexões e produções teórico-práticas tendo como centralidade crianças de terreiro, pretas e periféricas; a insurgência de epistemologia e metodologias pretas no campo dos estudos sobre primeira infância; a enunciação de uma cultura infantil de terreiro; e a compreensão sobre os efeitos do racismo e do racismo religioso nas experiências e narrativas das crianças pequenas em espaços externos à comunidade de terreiro, especialmente os de acesso a políticas públicas de saúde e de educação. Tem como objetivo compreender de que modo crianças na primeira infância produzem culturas infantis de terreiro e experienciam o racismo e o racismo religioso em espaços de acesso a políticas públicas de saúde e de educação. As discussões teórico-metodológicas partirão de produções de conhecimentos contra hegemônicos, cuja perspectiva epistemológica de Ciência é tomada como uma forma de produzir questionamentos, reflexões e intervenções com pessoas, grupos, comunidades numa relação sujeito-sujeito. Serão participantes crianças de terreiro, de zero a seis anos de idade, suas responsáveis legais (pessoas adultas maiores de 18 anos) e uma liderança de sua comunidade tradicional de terreiro de matriz africana, que se dispuserem a contribuir com as discussões propostas pelo projeto. Utilizaremos diferentes instrumentos e técnicas de coleta de informações, alguns para pessoas adultas, outros para as crianças: questionário, entrevista semiestruturada, entrevista dialogada mediada pela ludicidade, análise documental, observação participante e diário de campo. Para a análise do conjunto das informações, haverá cotejo entre os diferentes corpus de análise a partir da construção de um quadro-mapa. Este terá como propósito visibilizar a relação de interdependência entre os temas abordados e construir uma confluência entre textos e imagens, considerando-se que a maior riqueza interpretativa se dá na interação permanente das técnicas e métodos entre si. O estudo tem a potência de apontar caminhos que fortaleçam os modos de cuidado da primeira infância de terreiro, por meio do diálogo e do compartilhamento de conhecimentos com comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana, com vistas à proposição de políticas públicas que alcance essa parcela da população, que sobrevive em meio aos descuidos de macro e micro políticas.
Objetivo Geral
Compreender de que modo crianças na primeira infância produzem culturas infantis de terreiro e experienciam o racismo e o racismo religioso em espaços de acesso a políticas públicas de saúde e de educação.
Justificativa
O presente projeto de pesquisa intitulado “Culturas Infantis de Terreiro: experiências e narrativas de crianças pequenas vivenciadoras de tradições de matriz africana”, está inserido na grande área das Ciências Humanas, com interfaces no campo da educação e da saúde, e compõe as atividades do “Núcleo de Estudos e Pesquisas E’LÉÉKÒ: Agenciamentos Epistêmicos Antirracistas e Descoloniais”, vinculado ao curso de Psicologia da UFPel e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. É realizado em parceria com a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO), por meio do projeto “Primeira Infância no Centro: Enfrentamento do racismo como garantia do pleno desenvolvimento infantil”, coordenado pelo Geledés - Instituto da Mulher Negra, em parceria com Porticus Latin America - Instituição que atua no enfrentamento às desigualdades e no apoio de grupos vulnerabilizados na América Latina.
Ele tem o propósito de se desdobrar em outros subprojetos que serão desenvolvidos em parceria: (1) com a RENAFRO e outras organizações da sociedade civil; (2) com profissionais de outros cursos da universidade e de outras instituições e/ou centros de pesquisa; (3) com estudantes de graduação e pós-graduação. Esses subprojetos serão articulados com o projeto maior do ponto de vista teórico e metodológico. Ele se justifica pela necessidade de problematizações, reflexões e produções teórico-práticas tendo como centralidade crianças de terreiro, pretas e periféricas; a insurgência de epistemologia e metodologias pretas no campo dos estudos sobre primeira infância; a enunciação de uma cultura infantil de terreiro; e a compreensão sobre os efeitos do racismo e do racismo religioso nas experiências e narrativas das crianças pequenas em espaços externos à comunidade de terreiro, especialmente os de acesso a políticas públicas de saúde e de educação.
Para enunciar a localização teórica e epistemológica do constructo comunidade tradicional de terreiro de matriz africana partimos do conceito de “comunidade de terreiro”, inaugurado por Juana Elbein os Santos (2012, p. 38), ao fazer referência a “um espaço onde se organiza uma comunidade – cujos integrantes podem ou não habitá-lo permanentemente – no qual são transferidos e recriados os conteúdos específicos que caracterizam a religião tradicional negro-africana”. Segundo Marco Aurélio Luz (1983), a dimensão mítico-religiosa é fonte de afirmação dos valores civilizatórios de matriz africana no Brasil e o núcleo de resistência às variadas formas de aspirações neocolonialistas. O autor salienta, ainda, que no Continente Americano as religiões negras têm como importante característica a organização em comunidades que mantêm revitalizado a dinâmica civilizatória africana, marcando, assim, a presença da África neste continente.
a comunidade tradicional de terreiro de matriz africana se constitui por um sistema de alianças construído a partir de uma organização hierárquica que estabelece um parentesco comunitário e ancestral entre seus membros; possui um sistema de crenças, normas, ações e valores que mantém coeso o sentimento de pertença, uma identidade coletiva; é um símbolo de resistência dos africanos ao colonialismo e à colonialidade; e, portanto, um território político-mítico-religioso de re-elaboração, atualização e recriação de culturas tradicionais africanas no contexto brasileiro (NASCIMENTO, 2008; VOGEL; MELLO; PESSOA de BARROS, 2005; SODRÉ, 1988; SANTOS, 2008).
Míriam Alves (2012) refere que a comunidade tradicional de terreiro de matriz africana tem “um foco de interesse e um sentido de existência fundamentado nos valores civilizatórios negro-africanos” (p. 65); se “materializa simbólica, concreta e territorialmente por meio das inter-relações, socializações, conexões entre os universos visível e invisível”; é forjada “na singularidade e diversidade dos sujeitos e das nações e culturas negro-africanas que constroem a identidade de cada terreiro”; é edificada na luta pela preservação e continuidade dos “valores civilizatórios das culturas negro-africanos no Brasil” (p. 67-68).
E as culturas infantis? De que modo as comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana produzem culturas infantis? Para enunciar essa categoria de análise partimos da compreensão que as culturas infantis são aquelas vivências e experiências produzidas no cotidiano, construídas na reciprocidade, pois crianças também exercem poder sobre outras crianças e sobre adultos em diferentes contextos. As práticas sociais e culturais que as sociedades destinam às crianças são permeabilizadas pelo uso e pela transformação ativa do cotidiano, e é preciso compreender as culturas infantis nesses jogos de poder, para além da infância que brinca, estuda e tem acesso a um conjunto de experiências criativas (CASTRO, 2001).
As culturas infantis se estruturam nos pensares, sentires, dizeres, saberes e fazeres engendrados, reconhecidos e partilhados em atividades cotidianas coletivas (FERREIRA, 2002, p. 120). Ou seja, Manuela Ferreira (2002) afirma que há necessidade de conceber uma condição de criança socialmente construída no dia a dia, na experiência de relação direta e implicada com o outro – adultos e crianças, em contextos sociais específicos e diversos. Ainda segundo a autora, a reconfiguração dessa experiência relacional em eventos estáveis e duradouros torna-os patrimônio cultural inerente ao grupo de crianças.
Diante destas ideias-conceitos sobre culturas infantis, nos questionamos: De que modo crianças pequenas (de zero a seis anos) produzem culturas infantis de terreiro? De que modo suas narrativas expressam vivências diante do racismo e racismo religioso a que estão expostas em espaços externos à comunidade tradicional de terreiro de matriz africana? O quanto essas violências produzem efeitos na infância de terreiro? Essas são forças motrizes que movimentam a pesquisa. Compreender para agir é a força da luta que precisamos empreender em prol de políticas públicas de reparação e de cuidado à primeira infância de terreiro.
O estudo tem a potência de apontar caminhos que fortaleçam os modos de cuidado da primeira infância de terreiro, por meio do diálogo e do compartilhamento de conhecimentos com comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana, com vistas à proposição de políticas públicas que alcance essa parcela da população, que sobrevive em meio aos descuidos de macro e micro políticas.
Ele tem o propósito de se desdobrar em outros subprojetos que serão desenvolvidos em parceria: (1) com a RENAFRO e outras organizações da sociedade civil; (2) com profissionais de outros cursos da universidade e de outras instituições e/ou centros de pesquisa; (3) com estudantes de graduação e pós-graduação. Esses subprojetos serão articulados com o projeto maior do ponto de vista teórico e metodológico. Ele se justifica pela necessidade de problematizações, reflexões e produções teórico-práticas tendo como centralidade crianças de terreiro, pretas e periféricas; a insurgência de epistemologia e metodologias pretas no campo dos estudos sobre primeira infância; a enunciação de uma cultura infantil de terreiro; e a compreensão sobre os efeitos do racismo e do racismo religioso nas experiências e narrativas das crianças pequenas em espaços externos à comunidade de terreiro, especialmente os de acesso a políticas públicas de saúde e de educação.
Para enunciar a localização teórica e epistemológica do constructo comunidade tradicional de terreiro de matriz africana partimos do conceito de “comunidade de terreiro”, inaugurado por Juana Elbein os Santos (2012, p. 38), ao fazer referência a “um espaço onde se organiza uma comunidade – cujos integrantes podem ou não habitá-lo permanentemente – no qual são transferidos e recriados os conteúdos específicos que caracterizam a religião tradicional negro-africana”. Segundo Marco Aurélio Luz (1983), a dimensão mítico-religiosa é fonte de afirmação dos valores civilizatórios de matriz africana no Brasil e o núcleo de resistência às variadas formas de aspirações neocolonialistas. O autor salienta, ainda, que no Continente Americano as religiões negras têm como importante característica a organização em comunidades que mantêm revitalizado a dinâmica civilizatória africana, marcando, assim, a presença da África neste continente.
a comunidade tradicional de terreiro de matriz africana se constitui por um sistema de alianças construído a partir de uma organização hierárquica que estabelece um parentesco comunitário e ancestral entre seus membros; possui um sistema de crenças, normas, ações e valores que mantém coeso o sentimento de pertença, uma identidade coletiva; é um símbolo de resistência dos africanos ao colonialismo e à colonialidade; e, portanto, um território político-mítico-religioso de re-elaboração, atualização e recriação de culturas tradicionais africanas no contexto brasileiro (NASCIMENTO, 2008; VOGEL; MELLO; PESSOA de BARROS, 2005; SODRÉ, 1988; SANTOS, 2008).
Míriam Alves (2012) refere que a comunidade tradicional de terreiro de matriz africana tem “um foco de interesse e um sentido de existência fundamentado nos valores civilizatórios negro-africanos” (p. 65); se “materializa simbólica, concreta e territorialmente por meio das inter-relações, socializações, conexões entre os universos visível e invisível”; é forjada “na singularidade e diversidade dos sujeitos e das nações e culturas negro-africanas que constroem a identidade de cada terreiro”; é edificada na luta pela preservação e continuidade dos “valores civilizatórios das culturas negro-africanos no Brasil” (p. 67-68).
E as culturas infantis? De que modo as comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana produzem culturas infantis? Para enunciar essa categoria de análise partimos da compreensão que as culturas infantis são aquelas vivências e experiências produzidas no cotidiano, construídas na reciprocidade, pois crianças também exercem poder sobre outras crianças e sobre adultos em diferentes contextos. As práticas sociais e culturais que as sociedades destinam às crianças são permeabilizadas pelo uso e pela transformação ativa do cotidiano, e é preciso compreender as culturas infantis nesses jogos de poder, para além da infância que brinca, estuda e tem acesso a um conjunto de experiências criativas (CASTRO, 2001).
As culturas infantis se estruturam nos pensares, sentires, dizeres, saberes e fazeres engendrados, reconhecidos e partilhados em atividades cotidianas coletivas (FERREIRA, 2002, p. 120). Ou seja, Manuela Ferreira (2002) afirma que há necessidade de conceber uma condição de criança socialmente construída no dia a dia, na experiência de relação direta e implicada com o outro – adultos e crianças, em contextos sociais específicos e diversos. Ainda segundo a autora, a reconfiguração dessa experiência relacional em eventos estáveis e duradouros torna-os patrimônio cultural inerente ao grupo de crianças.
Diante destas ideias-conceitos sobre culturas infantis, nos questionamos: De que modo crianças pequenas (de zero a seis anos) produzem culturas infantis de terreiro? De que modo suas narrativas expressam vivências diante do racismo e racismo religioso a que estão expostas em espaços externos à comunidade tradicional de terreiro de matriz africana? O quanto essas violências produzem efeitos na infância de terreiro? Essas são forças motrizes que movimentam a pesquisa. Compreender para agir é a força da luta que precisamos empreender em prol de políticas públicas de reparação e de cuidado à primeira infância de terreiro.
O estudo tem a potência de apontar caminhos que fortaleçam os modos de cuidado da primeira infância de terreiro, por meio do diálogo e do compartilhamento de conhecimentos com comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana, com vistas à proposição de políticas públicas que alcance essa parcela da população, que sobrevive em meio aos descuidos de macro e micro políticas.
Metodologia
PARTICIPANTES
Serão participantes crianças de terreiro, de zero a seis anos de idade, suas responsáveis legais (pessoas adultas maiores de 18 anos) e uma liderança de sua comunidade tradicional de terreiro de matriz africana, que se dispuserem a contribuir com as discussões propostas pelo projeto.
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE INFORMAÇÕES
Utilizaremos diferentes instrumentos e técnicas de coleta de informações, alguns para pessoas adultas, outros para as crianças: questionário, entrevista semiestruturada, entrevista dialogada mediada pela ludicidade, análise documental, observação participante e diário de campo.
PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE INFORMAÇÕES
O questionário será constituído por perguntas fechadas, tendo como foco pessoas adultas (familiar/responsável e liderança do terreiro) que conhecem e convivem com as crianças participantes desta pesquisa. Será aplicado por uma pesquisadora, de forma presencial ou remota, neste último caso, por meio de aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. O modo de aplicação dependerá da disponibilidade das pessoas participantes e das pesquisadoras. O questionário será constituído por sessenta e uma perguntas fechadas, divididas em nove partes: I) Sobre a pessoa responsável pela criança; II) Sobre a liderança da comunidade de terreiro; III) Sobre a comunidade de terreiro; IV) Sobre a criança; V) Sobre a criança na tradição; VI) Sobre a criança e a educação formal; VII) Sobre a criança e benefícios sociais da família; VIII) Sobre a criança e as políticas de saúde; IX) Sobre a criança e experiências com racismo e racismo religioso. O tempo médio de aplicação do questionário é de 20 minutos.
A entrevista semiestruturada será aplicada pelas pesquisadoras junto às pessoas adultas (familiar/responsável e liderança do terreiro) que conhecem e convivem com as crianças participantes desta pesquisa. Trata-se de uma estratégia que se apoia em perguntas orientadoras para a condução da entrevista, assegurando a produção de informações essenciais e o propósito da pesquisa. Utilizaremos de perguntas abertas, com foco nos objetivos da pesquisa, permitindo que outras informações que não estavam no roteiro inicial sejam inseridas ao longo da entrevista (MANZINI, 2004). As respostas dadas pelas pessoas participantes podem vagar livremente, ou seja, ela pode acrescentar informações que não estavam presentes na pergunta, no entanto, quando a resposta fugir do tema de pesquisa, as pesquisadoras irão conduzir as pessoas participantes ao foco da questão (AGUIAR; MEDEIROS, 2009). A entrevista semiestruturada poderá ser realizada de forma presencial ou remota, conforme disponibilidade das pessoas participantes e das pesquisadoras. Quando realizada de forma remota, utilizaremos aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. Será gravada e transcrita com a anuência das pessoas participantes. A entrevista semiestruturada tem previsão média de duração de 50 minutos.
A entrevista dialogada mediada pela ludicidade é o momento em que as pesquisadoras terão contato direto com as crianças pequenas participantes da pesquisa. Em sua realização poderá ser necessária a presença das pessoas adultas, principalmente quando as crianças participantes pertencerem à faixa etária da primeiríssima infância (CAPUTO, 2008; DELGADO; MARTINS FILHO, 2013). Poderá ser realizada de forma presencial ou remota, conforme a disponibilidade da criança, de seus familiares/responsáveis e das pesquisadoras. Quando realizada de forma remota, serão utilizados aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. Será realizada a gravação em vídeo das entrevistas dialogadas mediadas pela ludicidade se as crianças e familiares/responsáveis permitirem. Tem previsão média de duração de 50 minutos.
A observação participante, diferentemente da entrevista, requer que as pesquisadoras vivenciem pessoalmente o evento de sua análise para melhor entendê-lo, percebendo e “agindo diligentemente de acordo com as suas interpretações daquele mundo; participam nas relações sociais e procuram entender as ações no contexto da situação observada” (PROENÇA, 2007, p.09). Assim, na observação participante as pesquisadoras tornam-se parte de tal universo para melhor entender as ações das pessoas que ocupam e produzem culturas, apreender seus aspectos simbólicos, que incluem costumes e linguagem. As observações serão realizadas no espaço da comunidade tradicional de terreiro de matriz africana em momentos de práticas ritualísticas, mediante autorização da liderança do terreiro, e em reuniões com o grupo de crianças participantes da pesquisa - em momentos em que os rituais não estejam acontecendo. A observação participante iniciará nos primeiros contatos com as lideranças das comunidades de terreiro, onde será apresentada a proposta da pesquisa à própria liderança, às crianças e seus familiares/responsáveis.
O diário de campo, irá contemplar registros, descrições de pessoas, objetos, lugares, acontecimentos e conversas, além de conjugarem as observações particulares das pesquisadoras, durante ou depois de suas estadias em campo (BOGDAN; BIKLEN,1994). Na pesquisa com crianças de terreiro, o diário precisa traduzir as coisas miúdas das infâncias e trazer as linguagens próprias, os gestos, os silêncios, as correrias, os modos de vestir e de dizer este cotidiano, alargado na experiência coletiva. No diário de campo será realizado o registro detalhado e minucioso do cotidiano das crianças, cujas pesquisadoras estarão atentas aos gestos, aos olhares, aos assuntos desviantes tomados como desimportantes - o que nos convoca como pesquisadoras das infâncias de terreiros.
Análise Documental, no entendimento de Eduardo Brandão Lima Júnior (2021), além de ser um procedimento de pesquisa com características específicas, com finalidades de investigação muito próprias, pode ser também utilizada como uma técnica complementar, validando e aprofundando dados obtidos por meio de outros procedimentos como, entrevistas, questionários e observação. Nesta pesquisa, a análise de documentos terá como centralidade os documentos públicos estatais, relacionados à proteção da primeira infância, oriundos dos âmbitos federal, estadual e municipal, tais como: a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, a Base Nacional Curricular entre outros dispositivos legais. Esta análise pressupõe o entrecruzamento entre macro e micropolíticas, que incidem sobremaneira sobre o cotidiano da população infantil de terreiro e de suas famílias e comunidades.
PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
As informações do questionário serão levantadas e pontuadas em um Banco de Dados especificamente elaborado para esta pesquisa.
As informações coletadas na entrevista semiestruturada, após as devidas transcrições, bem como as informações coletadas na entrevista dialogada mediada pela ludicidade, serão subdivididas e, ao mesmo tempo, interligadas em grandes eixos temáticos no sentido de visibilizar os temas que emergem das narrativas, vivências, experiências das crianças pequenas de terreiro, de seus familiares/responsáveis e da liderança da comunidade. Inicialmente as informações coletadas por meio dos diferentes instrumentos e técnicas serão tratadas separadamente, de modo que cada fonte irá produzir um corpus particular de análise.
Para a análise do conjunto das informações, haverá cotejo entre os diferentes corpus de análise a partir da construção de um quadro-mapa. Este terá como propósito visibilizar a relação de interdependência entre os temas abordados e construir uma confluência entre textos e imagens, considerando-se que a maior riqueza interpretativa se dá na interação permanente das técnicas e métodos entre si.
ÉTICA EM PESQUISA
A participação na pesquisa se dará após a apresentação e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo às pessoas responsáveis pelas crianças, e à própria criança, a tomada de decisão em participar ou não da pesquisa, de forma justa e sem constrangimentos. Na construção de relatórios e publicação dos resultados da pesquisa, a identidade das pessoas adultas e das crianças participantes será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-las e serão utilizados nomes fictícios. As informações serão utilizadas apenas para fins de pesquisa e ficarão depositados no Colegiado do Curso de Psicologia e no Departamento de Ensino da Faculdade de Educação da UFPel, por um período mínimo de cinco anos.
A devolutiva às pessoas adultas que participarem da pesquisa será realizada por meio da publicização dos resultados em diferentes meios de comunicação e encaminhadas a cada endereço eletrônico disponibilizado pelas pessoas responsáveis pelas crianças e pela liderança do terreiro. A devolutiva às crianças que participarem da pesquisa se dará por meio da construção e entrega de um “Livro da Vida”, individual ou coletivo. O “Livro da Vida” será constituído por histórias, desenhos, fotografias, fragmentos de conversações e interlocuções dialogadas com as crianças, seus familiares/responsáveis e a liderança da comunidade tradicional de terreiro de matriz africana.
A pesquisa seguirá as normas do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012; BRASIL, 2016) que dispõem sobre a realização de pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto será encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFPEL.
Serão participantes crianças de terreiro, de zero a seis anos de idade, suas responsáveis legais (pessoas adultas maiores de 18 anos) e uma liderança de sua comunidade tradicional de terreiro de matriz africana, que se dispuserem a contribuir com as discussões propostas pelo projeto.
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE INFORMAÇÕES
Utilizaremos diferentes instrumentos e técnicas de coleta de informações, alguns para pessoas adultas, outros para as crianças: questionário, entrevista semiestruturada, entrevista dialogada mediada pela ludicidade, análise documental, observação participante e diário de campo.
PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE INFORMAÇÕES
O questionário será constituído por perguntas fechadas, tendo como foco pessoas adultas (familiar/responsável e liderança do terreiro) que conhecem e convivem com as crianças participantes desta pesquisa. Será aplicado por uma pesquisadora, de forma presencial ou remota, neste último caso, por meio de aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. O modo de aplicação dependerá da disponibilidade das pessoas participantes e das pesquisadoras. O questionário será constituído por sessenta e uma perguntas fechadas, divididas em nove partes: I) Sobre a pessoa responsável pela criança; II) Sobre a liderança da comunidade de terreiro; III) Sobre a comunidade de terreiro; IV) Sobre a criança; V) Sobre a criança na tradição; VI) Sobre a criança e a educação formal; VII) Sobre a criança e benefícios sociais da família; VIII) Sobre a criança e as políticas de saúde; IX) Sobre a criança e experiências com racismo e racismo religioso. O tempo médio de aplicação do questionário é de 20 minutos.
A entrevista semiestruturada será aplicada pelas pesquisadoras junto às pessoas adultas (familiar/responsável e liderança do terreiro) que conhecem e convivem com as crianças participantes desta pesquisa. Trata-se de uma estratégia que se apoia em perguntas orientadoras para a condução da entrevista, assegurando a produção de informações essenciais e o propósito da pesquisa. Utilizaremos de perguntas abertas, com foco nos objetivos da pesquisa, permitindo que outras informações que não estavam no roteiro inicial sejam inseridas ao longo da entrevista (MANZINI, 2004). As respostas dadas pelas pessoas participantes podem vagar livremente, ou seja, ela pode acrescentar informações que não estavam presentes na pergunta, no entanto, quando a resposta fugir do tema de pesquisa, as pesquisadoras irão conduzir as pessoas participantes ao foco da questão (AGUIAR; MEDEIROS, 2009). A entrevista semiestruturada poderá ser realizada de forma presencial ou remota, conforme disponibilidade das pessoas participantes e das pesquisadoras. Quando realizada de forma remota, utilizaremos aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. Será gravada e transcrita com a anuência das pessoas participantes. A entrevista semiestruturada tem previsão média de duração de 50 minutos.
A entrevista dialogada mediada pela ludicidade é o momento em que as pesquisadoras terão contato direto com as crianças pequenas participantes da pesquisa. Em sua realização poderá ser necessária a presença das pessoas adultas, principalmente quando as crianças participantes pertencerem à faixa etária da primeiríssima infância (CAPUTO, 2008; DELGADO; MARTINS FILHO, 2013). Poderá ser realizada de forma presencial ou remota, conforme a disponibilidade da criança, de seus familiares/responsáveis e das pesquisadoras. Quando realizada de forma remota, serão utilizados aplicativos que possibilitem a vídeo chamada. Será realizada a gravação em vídeo das entrevistas dialogadas mediadas pela ludicidade se as crianças e familiares/responsáveis permitirem. Tem previsão média de duração de 50 minutos.
A observação participante, diferentemente da entrevista, requer que as pesquisadoras vivenciem pessoalmente o evento de sua análise para melhor entendê-lo, percebendo e “agindo diligentemente de acordo com as suas interpretações daquele mundo; participam nas relações sociais e procuram entender as ações no contexto da situação observada” (PROENÇA, 2007, p.09). Assim, na observação participante as pesquisadoras tornam-se parte de tal universo para melhor entender as ações das pessoas que ocupam e produzem culturas, apreender seus aspectos simbólicos, que incluem costumes e linguagem. As observações serão realizadas no espaço da comunidade tradicional de terreiro de matriz africana em momentos de práticas ritualísticas, mediante autorização da liderança do terreiro, e em reuniões com o grupo de crianças participantes da pesquisa - em momentos em que os rituais não estejam acontecendo. A observação participante iniciará nos primeiros contatos com as lideranças das comunidades de terreiro, onde será apresentada a proposta da pesquisa à própria liderança, às crianças e seus familiares/responsáveis.
O diário de campo, irá contemplar registros, descrições de pessoas, objetos, lugares, acontecimentos e conversas, além de conjugarem as observações particulares das pesquisadoras, durante ou depois de suas estadias em campo (BOGDAN; BIKLEN,1994). Na pesquisa com crianças de terreiro, o diário precisa traduzir as coisas miúdas das infâncias e trazer as linguagens próprias, os gestos, os silêncios, as correrias, os modos de vestir e de dizer este cotidiano, alargado na experiência coletiva. No diário de campo será realizado o registro detalhado e minucioso do cotidiano das crianças, cujas pesquisadoras estarão atentas aos gestos, aos olhares, aos assuntos desviantes tomados como desimportantes - o que nos convoca como pesquisadoras das infâncias de terreiros.
Análise Documental, no entendimento de Eduardo Brandão Lima Júnior (2021), além de ser um procedimento de pesquisa com características específicas, com finalidades de investigação muito próprias, pode ser também utilizada como uma técnica complementar, validando e aprofundando dados obtidos por meio de outros procedimentos como, entrevistas, questionários e observação. Nesta pesquisa, a análise de documentos terá como centralidade os documentos públicos estatais, relacionados à proteção da primeira infância, oriundos dos âmbitos federal, estadual e municipal, tais como: a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, a Base Nacional Curricular entre outros dispositivos legais. Esta análise pressupõe o entrecruzamento entre macro e micropolíticas, que incidem sobremaneira sobre o cotidiano da população infantil de terreiro e de suas famílias e comunidades.
PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
As informações do questionário serão levantadas e pontuadas em um Banco de Dados especificamente elaborado para esta pesquisa.
As informações coletadas na entrevista semiestruturada, após as devidas transcrições, bem como as informações coletadas na entrevista dialogada mediada pela ludicidade, serão subdivididas e, ao mesmo tempo, interligadas em grandes eixos temáticos no sentido de visibilizar os temas que emergem das narrativas, vivências, experiências das crianças pequenas de terreiro, de seus familiares/responsáveis e da liderança da comunidade. Inicialmente as informações coletadas por meio dos diferentes instrumentos e técnicas serão tratadas separadamente, de modo que cada fonte irá produzir um corpus particular de análise.
Para a análise do conjunto das informações, haverá cotejo entre os diferentes corpus de análise a partir da construção de um quadro-mapa. Este terá como propósito visibilizar a relação de interdependência entre os temas abordados e construir uma confluência entre textos e imagens, considerando-se que a maior riqueza interpretativa se dá na interação permanente das técnicas e métodos entre si.
ÉTICA EM PESQUISA
A participação na pesquisa se dará após a apresentação e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo às pessoas responsáveis pelas crianças, e à própria criança, a tomada de decisão em participar ou não da pesquisa, de forma justa e sem constrangimentos. Na construção de relatórios e publicação dos resultados da pesquisa, a identidade das pessoas adultas e das crianças participantes será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-las e serão utilizados nomes fictícios. As informações serão utilizadas apenas para fins de pesquisa e ficarão depositados no Colegiado do Curso de Psicologia e no Departamento de Ensino da Faculdade de Educação da UFPel, por um período mínimo de cinco anos.
A devolutiva às pessoas adultas que participarem da pesquisa será realizada por meio da publicização dos resultados em diferentes meios de comunicação e encaminhadas a cada endereço eletrônico disponibilizado pelas pessoas responsáveis pelas crianças e pela liderança do terreiro. A devolutiva às crianças que participarem da pesquisa se dará por meio da construção e entrega de um “Livro da Vida”, individual ou coletivo. O “Livro da Vida” será constituído por histórias, desenhos, fotografias, fragmentos de conversações e interlocuções dialogadas com as crianças, seus familiares/responsáveis e a liderança da comunidade tradicional de terreiro de matriz africana.
A pesquisa seguirá as normas do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012; BRASIL, 2016) que dispõem sobre a realização de pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto será encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFPEL.
Indicadores, Metas e Resultados
Estimamos que a pesquisa contribuirá para:
● Compreensão e sistematização da ideia de culturas infantis de terreiro.
● Compreensão das estratégias de cuidado produzidas em comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana junto a gestantes e a crianças pequenas.
● Visibilização e compreensão das experiências de crianças pequenas de terreiro diante do racismo e do racismo religioso em espaços externos às comunidades, especialmente aqueles de acesso às políticas públicas de saúde e educação.
● Ampliação de estudos conceituais e empíricos sobre as culturas infantis por meio da publicando e apresentando os resultados da pesquisa em eventos nacionais (no mínimo 8) e internacionais (no mínimo 4).
● Ampliação dos estudos com crianças de terreiros e publicação dos resultados da pesquisa em e-book (no mínimo 2), em livros impressos (no mínimo 1) e em redes sociais específicas sobre a temática.
● Disponibilização de subsídios às políticas públicas de saúde, educação, e de enfrentamento ao racismo religioso quanto a compreensão sobre culturas infantis de terreiro, na perspectiva da garantia de direitos constitucionais, historicamente negligenciados junto a essa população.
● Criação de redes de diálogo, de participação e de divulgação dos resultados da pesquisa, junto aos movimentos sociais e às instituições de Estado responsáveis pela Primeira Infância.
● Aproximação e interlocução entre universidade e comunidade, por meio do diálogo com movimentos sociais e da divulgação dos resultados parciais e finais da pesquisa.
● Compreensão e sistematização da ideia de culturas infantis de terreiro.
● Compreensão das estratégias de cuidado produzidas em comunidades tradicionais de terreiro de matriz africana junto a gestantes e a crianças pequenas.
● Visibilização e compreensão das experiências de crianças pequenas de terreiro diante do racismo e do racismo religioso em espaços externos às comunidades, especialmente aqueles de acesso às políticas públicas de saúde e educação.
● Ampliação de estudos conceituais e empíricos sobre as culturas infantis por meio da publicando e apresentando os resultados da pesquisa em eventos nacionais (no mínimo 8) e internacionais (no mínimo 4).
● Ampliação dos estudos com crianças de terreiros e publicação dos resultados da pesquisa em e-book (no mínimo 2), em livros impressos (no mínimo 1) e em redes sociais específicas sobre a temática.
● Disponibilização de subsídios às políticas públicas de saúde, educação, e de enfrentamento ao racismo religioso quanto a compreensão sobre culturas infantis de terreiro, na perspectiva da garantia de direitos constitucionais, historicamente negligenciados junto a essa população.
● Criação de redes de diálogo, de participação e de divulgação dos resultados da pesquisa, junto aos movimentos sociais e às instituições de Estado responsáveis pela Primeira Infância.
● Aproximação e interlocução entre universidade e comunidade, por meio do diálogo com movimentos sociais e da divulgação dos resultados parciais e finais da pesquisa.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
ALINE MUNHOZ REDU | |||
ANNA DOS SANTOS | |||
Ana Legorio Eisfeld | |||
Ana Paula Melo Da Silva | |||
CAROLINA BARILI BRANDI | |||
EDIO RANIERE DA SILVA | 4 | ||
EVERTON DA CUNHA MACIEL | |||
FELIPE DA SILVA MARTINS | 4 | ||
Flávia Andréa Padilha Lúcio | |||
GABRIEL BETTIOL GODINHO | |||
GABRIEL GONCALVES GARCIA | |||
Gláucia Gomes de Azevedo | |||
Humberto Schumacher da Gama Júnior | |||
JANAIZE BATALHA NEVES | 2 | ||
JOSIANE CRISTINA FARIAS DIAS | |||
Josiane Cristina Farias Dias | |||
LUIZA SILVEIRA DA SILVA | |||
MARCELI TEIXEIRA DOS SANTOS | |||
MARCELI TEIXEIRA DOS SANTOS | |||
MARCELI TEIXEIRA DOS SANTOS | |||
MIRIAM CRISTIANE ALVES | 8 | ||
PRISCILLA PINHEIRO LAMPAZZI | |||
Pedro da Silva Borges Freitas | |||
RAQUEL SILVEIRA RITA DIAS | 9 | ||
RITA DE CASSIA TAVARES MEDEIROS | 19 | ||
ROBERTA GULARTE RODRIGUES | |||
ROGERIO COSTA WURDIG |