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Nestas duas primeiras décadas do século XXI temos presenciado o crescimento das investigações acerca do ensino de História. Conforme nos aponta Circe Bittencourt (2014), diferentes articulações têm sido feitas por inúmeros pesquisadores e hoje podemos afirmar que existe um quadro muito rico de abordagens epistemológicas, metodológicas e temáticas que circundam o ensino de História. Conforme a própria autora menciona, não se trata de falar sobre o ensino de História ou de como ela deve ser ensinada, mas sim de como “fazer a pesquisa em ensino de História”. Nessa mesma direção, temos visto o surgimento de inúmeras pesquisas que pautam-se pela teoria da História produzida pelo historiador alemão Jörn Rüsen. Tal perspectiva tem se mostrado eficaz ao trazer para o bojo da reflexão histórica o ensino e a aprendizagem histórica como partes inerentes ao trabalho do historiador. Um dos conceitos centrais formulados por Rüsen (embora ele não seja nem o primeiro nem o único a debate-lo) é a consciência histórica. Falar em consciência histórica implica saber, de antemão, que se trata de um termo polissêmico. Não há um consenso no campo das Ciências Humanas e Sociais, e são inúmeros os intelectuais e pensadores que elaboraram reflexões acerca de tal conceito. A Didática da História, campo investigativo do qual lançaremos o olhar neste projeto de pesquisa, toma como um de seus pressupostos, a consciência histórica. A Didática da História, enquanto campo de investigação, tem despertado inúmeros interesses de pesquisadores e professores, no Brasil e em outros países. Embora perceba-se um aumento nas produções que seguem por esta perspectiva, é fato que não existe um consenso sobre suas definições e metodologias investigativas. No contexto brasileiro, as pesquisas têm privilegiado a perspectiva alemã – em diálogo com diferentes autores – sobretudo a partir de teóricos com obras já traduzidas para a língua portuguesa, como Jörn Rüsen, Bodo Von Borries e Klaus Bergmann. O nosso entendimento acompanha as formulações de Bergmann (1990) que define a Didática da História como um campo que direciona o seu foco para o significado da História na sociedade, isto é, na produção, circulação e utilização social dos conhecimentos históricos. De maneira mais específica, o autor propõe uma subdivisão da Didática da História, qual seja: o aspecto empírico investiga os conteúdos históricos que circulam nas escolas, na mídia e outros âmbitos da cultura da sociedade; o aspecto reflexivo analisa especificamente os processos de formação histórica dos sujeitos e os conteúdos históricos que poderiam ser ensinados; já o aspecto normativo propõe conteúdos históricos a serem ensinados, dentro e fora da escola, e analisa as representações históricas na sociedade. Por se tratar de um campo que no Brasil ainda é recente, mas que já conta uma produção considerável, é que se propõe a justificativa da realização deste projeto, no intuito de elucidar as produções e identificar as possibilidades e novas frentes investigativas à luz da teoria da História. A pesquisa também almeja contribuir para o fortalecimento do campo do ensino de História e servir como uma referência para professores e pesquisadores que se comprometem com a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem na educação pública brasileira.

No que diz respeito à metodologia da pesquisa, ela se pautará pela análise e reflexão sobre os conceitos que fundamentam a Didática da História e suas interfaces com as produções acadêmicas recentes. As buscas serão realizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e no Banco Digital Brasileiro de Teses e Dissertações (BDTD) mediante a utilização das seguintes palavras-chave como: “consciência histórica”; “narrativa”; “Jörn Rüsen”; “Teoria da história e ensino de história”; “aprendizagem histórica”, "Didática da História", dentre outras.
É importante mencionar que nesse processo de abordagem metodológica, a pesquisa contará com apoio e articulações do Laboratório de Aprendizagem Histórica (LAEH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma vez que os coordenadores e membros do laboratório também desenvolvem pesquisas acerca da Didática da História na região nordeste do Brasil.

Para a realização da análise dos materiais coletados, será feito uso da metodologia denominada Análise de Conteúdo, propostas por Lawrence Bardin e Maria Laura Franco. Tal metodologia consiste em uma técnica que pode ser aplicada em diferentes tipos de discursos e formas de comunicação. De modo mais específico, é designada como:

"Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p.48)."

Bardin afirma que pertencem ao domínio da Análise de Conteúdo todas as iniciativas que, a partir de técnicas parciais, mas complementares, que buscam a explicitação e a sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo.

Mediante a realização deste projeto de pesquisa, almeja-se interpretar e elucidar os caminhos recentes do campo investigativo da Didática da História no Brasil que tem sido considerada como um novo paradigma para o desenvolvimento das pesquisas que abrangem o ensino de História. Com esta pesquisa também enseja-se verificar as principais frentes investigativas, mas também as lacunas e temáticas que ainda carecem de análises mais sistematizadas. Outro ponto importante é demonstrar que a pesquisa em Didática da História precisa estar ancorada nos referenciais da teoria e epistemologia da História e estabelecer diálogos mais próximos com outras áreas do conhecimento.

Espera-se também que, ao envolver os alunos/as de graduação e colaboradores externos, sejam despertados interesses na área investigativa da Didática da História e que as pesquisa e reflexões também possam ser amplamente divulgada para a sociedade, em especial aos docentes da educação básica e ensino superior.