Nome do Projeto
Revisitando Teorias e Desvelando Práticas: um mapeamento da Pedagogia Montessoriana na Região Sul do RS
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
27/10/2023 - 27/10/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
Ainda no final do século XIX junta-se aos avanços da “higiene moderna” a popularização de algumas realizações e ideias que seriam fundamentais a consolidação de uma Pedagogia Científica da Infância. Assim, juntou-se a consequente diminuição da mortalidade infantil, o aumento da valorização da vida da criança desde que nasce e as preocupações sobre a educação desde os primeiros anos com a descoberta da Psicanálise que popularizará a ideia de que os fatos ocorridos na mais tenra infância influenciam no desenvolvimento e na realidade psíquica do adulto transformando de vez a Pedagogia que caminharia de uma perspectiva filosófica para uma perspectiva científica e psicológica. Com essa premissa da Psicanálise, a infância passa a ser considerada, ainda mais fortemente, sob bases científicas, como sendo o período em que se determina a futura personalidade do indivíduo. Logo, nasce em torno da criança um campo de investigação científico completamente novo e independente baseado em observação, experimentação e metodologia. É o alvorecer da Pedagogia Experimental ou Pedagogia Científica cuja fundamentação unia Psicologia à Pedagogia. O incremento da Psicologia na Pedagogia questionava e criticava, com ênfase, os adultos, pais e professores que não compreendiam a criança e por isso encontravam-se em conflito com ela. A Nova Pedagogia Científica buscava, através do reconhecimento e da compreensão das características mentais da criança, mudar a atitude repressora do adulto perante a criança. Maria Montessori, que viveu de 1870 a 1952, foi uma médica italiana que se dedicou a estudar a criança, organizar um método pedagógico de acordo com este estudo e colocá-lo em prática em instituições infantis. Aplicou conhecimentos na sua escola Casa dei Bambini, fundada num bairro operário de Roma. Montessori (s.d. a, p.17), como representante desta tendência pedagógica, escreve que: “Para tratar a criança de um modo diverso do atual e salvá-la dos conflitos que põem em perigo a sua vida psíquica, é necessário antes de mais nada dar um passo essencial básico, do qual tudo depende - modificar o adulto” É inegável o legado da Pedagogia Montessoriana que não só sobrevive até os dias atuais a inúmeras intemperes mas, é diferentemente aclimatada para múltiplas culturas ocidentais e orientais mundo a fora e mesmo quando parece exaurida sua discussão, ela ressurge com novas nuances (LILLARD,2017). Na região sul do Rio Grande do SUl desde 2008 presencia-se um recrudescimento da proposta em iniciativas municipais de pequeno porte localizados no estremo sul do Brasil. Essas iniciativas são únicas no cenário nacional cuja Pedagogia Científica Montessoriana se dá em escolas confessionais católicas privadas e filantrópicas e em escolas leigas privadas. Essa situação aparentemente inusitada se tornou para o grupo de pesquisa Educação para a Paz na Perspectiva Montessoriana, um ponto de interlocução importante nos estudos das obras montessorianas e nos eventos provocados pelo projeto. O objetivo agora é se aproximar dessa s redes municipais de ensino que envolvem diferentes localidades (entre elas Camaquã, Cristal, São Lourenço e Turuçu), intensificando a troca de saberes e o diálogo compartilhado de relatos de experiências dentro dessa abordagem pedagógica participativa.

Objetivo Geral

Temos por objetivo geral mapear, sob diferentes aspectos, as iniciativas de formação de professores e de implementação da abordagem montessoriana junto às famílias e às crianças atendidas nas escolas infantis e nos anos iniciais do Ensino Fundamental das redes municipais da região sul do estado do Rio Grande do Sul.

Este objetivo desdobra-se nos seguintes objetivos específicos:

- Analisar o sentido humanizador de conceitos montessorianos como auto disciplina, isolamento de atributos, controle do erro, descentralização da figura do professor, autonomia, criatividade e cooperação nas escolas das redes municipais de ensino a serem pesquisadas

- Possibilitar a ampliação de referenciais pedagógicas através da pesquisa que acaba por fortalecer a graduação e se reflete de forma direta na formação de professores;

- Fortalecer o espaço de estudo, discussão e publicização dos achados da pesquisa sobre a aclimatação/ adequação da Pedagogia Montessori nas práticas de formação de professores em serviço/contexto da região;

- Analisar o processo de acolhimento da filosofia e das práticas montessorianas e seu alcance junto às crianças e suas famílias atendidas como fator de resistência as Pedagogias Adultocênctricas na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Justificativa

Mais de 100 anos nos separam do dia em que a primeira classe Montessoriana recebeu crianças, na Itália. Essa longa história no horizonte da Pedagogia pode fazer com que nos perguntemos: não está a Educação Montessoriana superada? Pode-se pensar nela em nossos tempos atuais? Ou ainda, caberia essa abordagem educativa às nossas crianças de hoje?
Maria Montessori é considerada, por pesquisadores reconhecidos internacionalmente como sendo uma das mais relevantes pesquisadoras da área da Educação e sua obra é uma referência mundial na educação contemporânea das crianças. Inclusive a própria filosofia montessoriana assume importante lugar de defesa pela causa dos direitos das crianças a uma educação de qualidade social e de aprendizagem inclusiva.
A perspectiva Montessoriana assenta-se numa abordagem participativa que tem como base o entendimento da criança como um sujeito: livre, autônomo, protagonista, ativo e partícipe de sua própria aprendizagem. O método tem um caráter universal e inclusivo, atendendo todas as crianças em suas individualidades. Cabe destacar que Montessori buscou aporte para a ideia de períodos sensíveis e de mente absorvente, que demonstrou que existem portais em determinados períodos do desenvolvimento humano que acessam aprendizagens específicas, uma ideia de plasticidade do cérebro infantil que traça paralelos significativos com as contribuições da Neurociência contemporânea.
Esse fundamento criou a base para a concepção arquitetônica montessoriana do mobiliário da sala de referência, um local (ambiente) adequado disposto por mesas, estantes, carteiras próprias às dimensões infantis, É a Educação Montessoriana que primeiro organiza a sala de referência em espaços identificados a partir das áreas curriculares de seu método. Numa sala de referência para crianças de 3 a 6 anos, por exemplo, encontramos espaços para as áreas da Vida Prática, Educação Sensorial, Área da Matemática, Área da Linguagem, Estudos Culturais, Artes Criativas e Habilidades Sociais.
Nesse ambiente de auto educação, Montessori criou um importante aparato de materiais educativos concretos, manipulativos e estruturados para que as crianças encontrem a oportunidade de manter sua concentração e de aprender com profundidade, guiada por sua escolha e interesse.
Para a educadora Maria Montessori fortalecendo o sentido social da ação educativa através da educação para a paz que propõe um educar através da autonomia, da autodeterminação, da criatividade e da tomada de decisão.
Não basta pregar um princípio abstrato ou tentar persuadir os outros. É para uma “grande obra” que somos chamados. Eis aí a grande tarefa social que nos espera: colocar em funcionamento o valor potencial do homem, permitir-lhe atingir o desenvolvimento máximo de seus dinamismos, prepará-lo verdadeiramente para mudar a sociedade humana, fazê-la mudar para um patamar superior (MONTESSORI, 2004, p.21).

Segundo Montessori o conhecimento derivava das percepções que as crianças têm do mundo e por isto desenvolveu em seu método, uma forma de treinar os sentidos das crianças, criando inúmeros materiais que eram auto corrigíveis e podiam ser usados sem a supervisão do professor. Para estes materiais, Montessori também idealizou um ambiente calmo e bem ordenado que ao mesmo tempo oferecia movimento e atividade. Nele, as crianças eram livres para escolherem e trabalharem em atividades no seu próprio ritmo, elas experimentavam uma combinação de liberdade e autodisciplina, mediadas indiretamente pelo professor ou professora.
Simplificando o tema, podemos dizer que nesse “Ambiente Preparado” a criança também encontra um “Adulto Preparado”, aquele educador montessoriano que organiza o ambiente previamente à ação da criança de forma pertinente porque a observa agindo, acompanha seu itinerário de aprendizagem e busca não interromper o seu trabalho de exploração do material para que ela tenha liberdade no acesso de suas amplas e complexas conexões de conhecimento. No encontro entre “Ambiente Preparado” e “Adulto Preparado” resulta uma criança equilibrada com suas motivações internas de pesquisa e de aprendizagem em todos os aspectos de forma integrada.
É importante ressaltar que a Abordagem Montessoriana sempre esteve e está em constante processo de evolução porque baseia-se na observação da criança concreta e na Pedagogia Científica, validada pela investigação sobre a ação e interação das crianças com o seu universo cultural. A própria Montessori, por exemplo, viajou e conheceu de perto outras culturas, outros estilos de pensamento e de crenças. Essa interlocução com outras culturas, como as orientais não cristãs vai flexibilizando sua visão religiosa de mundo tanto que incluiu elementos da yoga hindu nas práticas de normalização das crianças, como exercícios respiratórios e de relaxamento, envolvendo aí uma abertura multicultural.
Nas leituras e discussões que temos realizado sobre Montessori temos identificado o quanto a educação Montessoriana é uma abordagem que contribui para desconstrução de crenças reducionistas sobre o próprio método e filosofia montessorianos. Entre alguns resultados podemos afirmar que esse aprofundamento teórico e sua aplicação prática através de oficinas e visita de estudo fez contribuir para a superação da dicotomia entre localidade e estrangeirismo; o que fez também agregar positivamente argumentos para enfrentar a discussão entre Abordagem e Método.
Constatamos que a aproximação com textos que relatam e analisam a vida e a obra de Montessori traz em si, uma oportunidade ímpar para um aprofundamento das questões de estudos feministas e anti totalitários. Seu exemplo de vida e a incorporação de ideias de diferentes religiões na educação Montessoriana nos remete igualmente à defesa da liberdade e da diversidade de crença religiosa e por isso, outro importante argumento de defesa para trazer Montessori em nossa realidade atual.
Como professoras pesquisadoras apontamos que por todas essas características da educação montessoriana puderam observar que as nações que conseguiram incluir e manter escolas montessorianas como parte de sua cultura de infância, criaram um berço fecundo para o surgimento de outras propostas pedagógicas participativas e inovadoras.
No caso específico da Educação Infantil, essa inclusão e manutenção das escolas montessorianas na rede de ensino, também conseguiram manter represada a “colonização” da cultura escolar tradicional do Ensino Fundamental transmissivo, preservando a Educação Infantil da influência escolarizante e fazendo da educação pré-escolar uma espécie de reserva da infância, focada na potência das crianças. Ao mesmo tempo em que se notabiliza por ser esse lugar da criança ser criança e viver sua infância, a educação montessoriana manteve e mantém índices louváveis de aquisição da leitura e da escrita e da aprendizagem matemática através do trabalho de exposição contextualizada ao ambiente e ao material pertinentes em um clima de liberdade, respeito, confiança, beleza, ordem, de identidade, diversidade e pertencimento.
Por tudo isso, apresenta-se este projeto de pesquisa que se propõem a contribuir com a ampliação teórica dos alunos, proporcionando qualificação da experiência, sugestões de práticas, relações e posturas, a partir das leituras, discussões e reflexões compartilhadas.

Metodologia

O presente projeto a ser realizado insere-se na área da educacão e a pesquisa e tem sua abordagem de natureza predominantemente qualitativa, categorizado como uma pesquisa de caráter exploratório, definido por Gil (2002, p.41) como objetivando “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses,” em que a proposta de investigar é ler, conhecer o que acontece, refletir e pronunciar ao mundo às demandas, carências e possibilidades.
Como apontam os autores Silveira & Córdova (2009, p.31) a pesquisa “não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.”, dando importância aos aspectos da realidade que não podem mensurados através de algarismos, com ênfase na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais.
Tem-se como perspectiva sobre pesquisa:
é toda atividade voltada para a solução de problemas; como atividade de busca, indagação, investigação, inquirição da realidade, é a atividade que vai nos permitir, no âmbito da ciência, elaborar um conhecimento, ou um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie na compreensão desta realidade e nos oriente em nossas ações. (PÁDUA, 1996, p.29)

Assim, por meio da pesquisa bibliográfica das produções sobre a educadora Maria Montessori que será realizado o projeto.
De forma, que assumimos que a produção de conhecimento se dá num processo de aprendizagem, em diálogo, na ação coletiva, em forma de estudos e pesquisas, e na busca de querer obter respostas aos anseios e objetivos propostos numa investigação.

Indicadores, Metas e Resultados

Diante dos dados obtidos, dos referenciais teóricos estudados e da percepção sobre a importância do conhecimento construído aproximar dessas s redes municipais de ensino que envolvem diferentes localidades (entre elas Camaquã, Cristal, São Lourenço e Turuçu), intensificando a troca de saberes e o diálogo compartilhado de relatos de experiências dentro dessa abordagem pedagógica participativa.
Importante destacar que estudos minunciosos de clássicos são relevantes como forma de contribuição para área, nas diferentes temáticas, mas também como fundamental estado do conhecimento científico.
A pesquisa possibilitará ampliação de referenciais pedagógicos através da pesquisa busca transformar uma realidade, ou enxergá-la com outro(s) olhar(es), sugerindo iniciativas, possibilidades, que possam contribuir com o ensino de qualidade, o que acaba por fortalecer a graduação e se reflete de forma direta na formação de professores.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANDRESSA SILVEIRA LUZ
CAMILY ALVES SAN MARTIN
CECÍLIA MÜNCHOW DUTRA
DEBORA BRAGA GUTKNECHT
Danielle Bierhals Tuchtenhagen
ELISA DOS SANTOS VANTI20
HELENARA PLASZEWSKI20
LAIS RIBEIRO SOLER
MARCIA ANDREIA CAMARA DA CRUZ
RITA DE CÁSSIA ROCHA DOS SANTOS
ROBERLÂNIA PAULINO DE MOURA BARROS
TAMARA INSAURIAGA BUENO
THAYS VERLI DEVANTIER
VANESSA ALBUQUERQUE ARAÚJO

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