Nome do Projeto
Geografia escolar: problema filosófico
Ênfase
Ensino
Data inicial - Data final
23/04/2024 - 23/04/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
Este projeto unificado, com ênfase em ensino, tem como objetivo a construção de uma Filosofia do ensino de Geografia. Inspirado na perspectiva crítica de Immanuel Kant, Michel Foucault, Friedrich Nietzsche, Gilles Deleuze, dentre outros nomes importantes na área da Filosofia da Educação, trata de pensar esse projeto por meio de quatro encaminhamentos operatórios: 1) inventariar referenciais teórico-metodológicos no tocante à Filosofia e à Filosofia da Educação que contribuam para a constituição de uma outra forma de pensar e fazer o ensino da Geografia; 2) problematizar os conceitos geográfica a partir de uma análise histórica, enredada em relações de poder-saber - logo, com base em autores como Nietzsche e Foucault; 3) relacionar a docência à noção kantiana de maioridade, discutindo vias filosóficas que reflitam sobre as condições de possibilidad do conhecimento geográfico-escolar; 4) conjecturar o ensino de Geografia como uma oficina de conceitos. Desses deslocamentos, não se pleiteia a constituição de um campo hermético e que pretenderia implementar um rigoroso cerceamento teórico-metodológico. Ao contrário, pretende-se mas colocar em questão uma Geografia escolar autônoma e aventada enquanto problema filosófico, portanto que pensa sobre si mesma para emancipar a si e aos outros.

Objetivo Geral

O objetivo desse projeto unificado é o de constituir caminhos teóricos e metodológicos para a Geografia com base na literatura da Filosofia da Educação. Para tanto, estabelece-se as seguintes metas:

1) Inventariar autores e referenciais filosóficos que contribuam para a criação de uma Filosofia do ensino de Geografia;
2) Intercambiar os conceitos geográficos fundamentais com a literatura filosófica-educacional;
3) Discutir a formação de professores de Geografia na contemporaneidade à luz de autores que perspectivem a atualidade fora do quadrante pedagógioco constituído pela didática e pela psicologia da eduação;
4) Identificar, sob o enfoque da arqueogenealogia de Foucault e do perspectivismo de Nietszsche, o que torna possível os currículos de Geografia no presente;
5) Explorar a docência de Geografia no contexto de uma vontade de potência nietzschiana, em que a autoria e a criação são condições fundamentais para a prática do professor.

Justificativa

Nos últimos 20 anos vem intensificando-se uma transformação que inverte o liberalismo clássico: essa política não crê que o mercado engrene através das trocas naturais, mas sim por intermédio da competição. Por conseguinte, muitas instituições vêm azeitando as relações de mercado a partir da promoção de subjetividades flexíveis, competitivas e empreendedoras, já que não há espaço para
todos e alguns vão vencer enquanto a maioria perderá. A ênfase é no sujeito econômico, representado como empreendedor que investe sobre si mesmo, toma decisões, assume riscos e realiza cálculos e prognósticos (FOUCAULT, 2008; BATISTA, 2019, 2022c). Nessa batalha, os indivíduos comparam e hierarquizam coisas e pessoas, sendo eles também passíveis de classificação e desclassificação (HAN, 2018).
Para tanto, o neoliberalismo depende de uma introjeção: a expansão do ethos neoliberal demanda uma escola sintonizada com tais ditames. Neoliberalismo escolar: uma escola subordinada à competitividade, estruturada enquanto um mercado e gerida como uma empresa cuja mercadoria é a educação, perpassada pois por uma soma de aspectos (atendimento ao cliente, espírito empreendedor, financiamento privado, custo-retorno) que definem critérios comparativos, boas práticas gerenciais e aprendizagens exigidas pelo universo econômico (VEIGANETO, 2018). Nesse segmento, as matrizes curriculares não responderiam à transmissão de elementos históricos, culturais, artísticos e científicos. O currículo se torna perecível e flexível. Perecível, porque tem prazo de validade curto. Flexível, porque responde à lógica mercadológica.
Transmuta-se num cardápio oferecido aos estudantes, que elegem técnicas que lhes serão úteis e não lhes entediarão. É daí que as escolas devem estimular a formação de operadores-de-cálculos, que realizam a equação custo-benefício em todos os âmbitos da existência (SAFATLE, 2020).
Em tempos de hegemonia da racionalidade neoliberal, nada é validado se não puder ser mensurado em termos de incremento ao capital humano. O neoliberalismo vem introduzindo parâmetros para ordenar, classificar e avaliar a educação com base nos interesses do capitalismo avançado. Compete à escola transformar-se numa empresa, regida por indicadores exteriores de eficácia e eficiência; deve estar disponível para ser auditada e ranqueada, como um produto a mais no balcão do mercado soberano; do currículo se exige correspondência direta com os arranjos regionais dos setores produtivos – e que forme empreendedores, habilitados para gerir suas carreiras; o professor deve transformar-se num gestor de habilidades, adaptando sua disciplina aos projetos pessoais dos alunos.
Sob a pressão dessas condições de possibilidade políticas, econômicas, culturais e sociais, esse projeto de pesquisa se justifica pelas questões que coloca, estabelecendo como problema o que para muitos é habitual e sentido como um cenário posto. Mas ao contrário de entender o neoliberalismo educacional e a instrumentalização pedagógica e docente daí decorrentes, esse projeto traz outros questionamentos, vias e perspectivas de trabalho. Como essa psicopolítica vem reverberando no currículo geográfico? De que
maneira a Geografia escolar é perspectivada por dispositivos como as Matrizes de Referência, a Base Nacional Comum Curricular e a recente Reforma do Ensino Médio? Em termos pedagógicos e epistemológicos, o ensino de Geografia vem sendo poroso ou resistente aos princípios do neoliberalismo? Não menos crucial: como elaborar estratégias de combate à essa política de sociedade?
Tais questões aventadas pela Filosofia da Educação se justificam devido ao fato de pertencerem a preocupações genealógicas, pois operam com uma crítica que pode desconstruir o próprio chão sob o qual tecemos nossas pretensões, carreiras, pesquisas, valores. Crítica, diga-se de passagem, que não livra do estado de vigilância nem mesmo o ensino de Geografia, que em certas conjunturas é entendido como um regime de verdade que obriga o pensamento a pensar de uma determinada maneira.

Metodologia

Espera-se que a Filosofia do ensino de Geografia pode ser constituída com o suporte de quatro etapas analítico-conceituais e metodológicas (BATISTA, 2018, 2020a, 2020b, 2022a, 2022b):

a) PRIMEIRA ETAPA: estabelecer um giro operado pela razão crítica, a fim de que o pensamento geográfico-escolar realize um trabalho sobre o seu próprio pensamento. Essa questão pode ser colocada de duas formas. Em meio à tradição kantiana, tratar-se-ia de examinar as condições de possibilidade no campo do ensino, das metodologias de ensino e do currículo, partindo da premissa de que existem limites às proposições tidas como epistemologicamente verdadeiras. Na esteira da crítica, valer-se de autores que avançaram os pressupostos de Kant com a intenção de diagnosticar o presente. É o caso de Michel Foucault, Nietzsche e outros, para os quais as condições prévias ao conhecimento são históricas, decorrentes de relações de poder e saber;
b) SEGUNDA ETAPA: um giro operado em termos éticos. Mediante certas disposições, como nos tornamos professores de Geografia? E o que nos caberia fazer, caso desejarmos uma docência emancipada e autoral, forjada por nossas regras? Mediante a implementação de grupos de estudo e seminários semanais com estudantes de pós-graduação (algo já realizado em projeto unificado anterior), procurar-se-á introduzir os estudantes no universo da Filosofia da Educação, bem como apresentá-los às produções recentes do coordenador do grupo;
c) TERCEIRA ETAPA: Na guarida das disciplinas de metodologia de ensino e dos estágios supervisionados (que são de atribuição do coordenador do projeto), trata-se de experimentar conceitos, teorias e metodologias que aventem a Geografia escolar na perspectiva filosófica. a Filosofia do ensino de Geografia deve constituir-se como uma oficina do pensamento. Como as ideias que possuímos acerca do ensino e da aprendizagem não são transcendentes e foram construídas contingencialmente, identificar o significado dos conceitos em contextos singularmente situados é uma das tarefas da atividade filosófica. Tal prisma tem a ver, portanto, com a usinagem de ferramentas para pensar de outros modos a educação geográfica.
d) QUARTA ETAPA: Documentar, por intermédio de artigos, obras temáticas, relatórios e formações continuadas para as redes de ensino, os desdobramentos teórico-metodológicos do projeto de pesquisa.

É importante que se frise que tais etapas não são sequenciais, cronológicas e diacrônicas, mas intercambiadas simultaneamente ao longo do processo de construção do conhecimento e das investigações propriamente ditas.

Indicadores, Metas e Resultados

Panoramicamente:
a) Espera-se que o projeto contribua para o amadurecimento e a expansão de perspectivas da Filosofia da Educação na Geografia escolar, conjecturando-a assim para além da hegemonia da didática e das psicologias educacionais;
b) Antevê-se que o projeto dê sequência à plataforma de trabalho que vem sendo levada a cabo pelo proponente desde a sua tese de doutorado e que, tanto na instituição anterior de trabalho (Instituto Federal Catarinense) quanto na UFPel, deu luz a dezenas de publicações em periódicos indexados, bem como na organização de três livros - sendo o último deles publicado pela editora dessa universidade (BATISTA, 2022c);
c) Acredita-se que a disciplina "Filosofia do Ensino de Geografia", lecionada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPel, continue no seu processo de consolidação, bem como se renove em termos metodológicos.
d) Projeta-se um maior número de estudantes que trabalhem nessa perspectiva de trabalho, utilizando-se desses referenciais teórico-metodológicos e conceituais nos seus trabalhos de conclusão de curso, monografias e dissertações;
e) Planeja-se publicar os resultados da pesquisa em periódico de indexação tanto em autoria solo quanto em co-autoria com estudantes da graduação e da pós-graduação. Outrossim, pretende-se a organização de um novo livro decorrente desses movimentos.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
BRUNO NUNES BATISTA10
CESAR AUGUSTO FERRARI MARTINEZ3
JULIA TAVARES DA SILVA
KERLEN BRUNA GONÇALVES MARTINS
LUIS HENRIQUE CHRISTOFARI
RAYLANE MARIA SILVA LIMA

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