Nome do Projeto
Viver, Envelhecer e Morrer na literatura religiosa portuguesa da primeira metade do século XVIII
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
18/06/2024 - 16/06/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O projeto tem por objetivo analisar os discursos religiosos sobre vida, envelhecimento e morte, a partir de um conjunto de obras que compõem a literatura religiosa – vernácula ou traduzida – publicada em Portugal na primeira metade do século XVIII. Em termos teórico-metodológicos, busca-se compreender os significados simbólicos e culturais que permitiam determinadas concepções religiosas e morais a respeito da vida – do efeito da passagem do tempo no corpo e nas condutas de homens e mulheres – e suas perspectivas de futuro temporal e espiritual, notadamente na e a partir da velhice. Em diálogo com a historiografia sobre espiritualidade católica do período moderno e a produção da literatura religiosa, sobre a morte/morrer e sobre os saberes médicos a respeito do corpo e das idades da vida, o projeto se volta para a análise da construção de sentidos dos efeitos da idade (avançada) no corpo, no comportamento, na saúde, atentando para os modos de nomear e entender tais efeitos na vida e na morte. E, ainda, para a análise das noções de virtudes e de vícios atribuídos aos velhos e velhas e possíveis diferenças em relação ao gênero. O projeto considera o contexto religioso de produção desses discursos, que remetiam à idealização de práticas e atitudes devotas por parte dos fiéis/leitores numa sociedade fortemente marcada pelos valores da cultura cristã-católica e de sua teologia moral, e que defendia determinados comportamentos visando à salvação da alma. Os resultados da pesquisa podem contribuir para uma melhor compreensão histórica de questões próprias do tempo presente, como o idadismo, o etarismo, os padrões estéticos rígidos e os descasos com a morte de idosos, em Portugal e no Brasil (modernos e contemporâneos), ou seja, para um entendimento da complexidade das mudanças e continuidades de atitudes, valores e crenças ao longo do tempo.

Objetivo Geral

Analisar como foi abordada e tratada a fase final da vida humana e sua relação com morte na literatura religiosa publicada em Portugal na primeira metade do século XVIII.

Justificativa

Os estudos históricos do tema “envelhecimento e morte” no discurso religioso difundido em Portugal na primeira metade do século XVIII são praticamente escassos ou quase nulos. Compreender como a literatura religiosa do período nomeava e entendia as ações e o comportamento dos velhos e velhas (e suas relações com a vida e a morte) no universo social, pode contribuir significativamente com o avanço dos estudos da literatura de espiritualidade e com a historiografia da morte/morrer.
Além disso, como toda pesquisa histórica, não deixa de cumprir o papel de partir do tempo presente. O processo de envelhecimento em Portugal alcançou o índice de 183,5% em 2022, conforme indicadores do “Pordata, estatísticas sobre Portugal e Europa” da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Portugal, atualmente, conhece a chamava revolução da longevidade, com aumento da expectativa de vida, crescimento da população idosa e diminuição das taxas de natalidade.
Desse modo, estudos históricos não alheios às transformações sociais (demográficas e culturais) contemporâneas podem dizer muito sobre as sensibilidades e as especificidades dos sentidos do envelhecimento em outros tempos. Por inúmeros motivos (ausência de fontes e variáveis diversas como a vida na cidade ou no campo, localização geográfica das cidades e freguesias, as alterações nas taxas de natalidade/mortalidade), estudos históricos e de demografia histórica do Portugal focados no período moderno não apontam com precisão o número de idosos ou a expectativa geral de vida no reino, mas algumas informações são importantes.
A proposta desse projeto é de contribuir para a configuração do que culturalmente a sociedade portuguesa do setecentos entendia por velho e velhice e como entendia a morte das pessoas velhas. Assim, delimitando o tema “velhice e morte” na literatura religiosa do período moderno, importa, como problemática do projeto, conhecer como os autores religiosos da época entendiam a velhice e o lugar (religioso e social) dos velhos, a que “velhos” eles se reportavam, como julgavam suas atividades, como projetavam comportamentos para a fase da vida mais naturalmente próxima à morte, como percebiam a morte dos velhos. Também atentar como instruíam sobre o que esperar e o que aprender com as debilidades do corpo e com a morte. Tais questionamentos compreendidos no contexto espiritual pós-tridentino em um reino ainda bastante católico permite entender as ideias dos autores selecionados conjugadas com os objetivos finais de suas produções literárias.
Feitas essas considerações que inserem as obras religiosas e seus discursos em processos históricos mais amplos de Portugal e da Europa, é necessário apontar que pautados no tempo presente, de diferentes áreas, entre as quais Antropologia, Assistência Social, Educação, História, Psicologia, Sociologia, Medicina têm se dedicado a estudar a velhice e a gerontologia em Portugal (e no Brasil), focando em temas como saúde (incluindo epidemiologia, geriatria, enfermidade, nutrição, hospitalização, transtornos/depressão, cognição e qualidade de vida), psicologia (incluindo fragilidades, cuidados, fatores psicossociais, psicoterapia, asilados), relações sociais e familiares, memórias e assistências, políticas públicas e demandas sociais, educação/pedagogias específicas, trabalho/produtividade, sexualidades, trajetórias e aposentadorias, turismo, entre tantos outros temas com grande diversidade de abordagens

Metodologia

Dentre as fontes a serem analisadas no projeto estão os dois tomos da obra A Velhice Instruída e Destruída [1742], do padre português Manoel da Consciência (1669-1739), clérigo secular da Congregação do Oratório de São Filipe de Neri, de Lisboa. Essa obra, publicada postumamente, dá continuidade e conclui um projeto do autor que, em vida, havia publicado Innocencia prodigiosa, Triunfos da Fé, e da Graça nas vidas, e martyrios de vários Meninos, e Meninas Santas [1721] e também Mocidade enganada, Desenganada [1728]. Estas duas últimas também serão consultadas. A contar pelo próprio título, A Velhice Instruída e Destruída, a obra de Manuel da Consciência aborda direta e explicitamente a fase final da vida humana, motivo pelo qual será a principal referência documental.
Não seria adequado dizer que a obra A Velhice Instruída e Destruída é desconhecida pela historiografia portuguesa, mas considerados os objetivos deste projeto, permanece inédita. Para uma compreensão mais ampla e comparativa, para a identificação das regularidades ou singularidades dos discursos, optou-se por acionar outras obras publicadas em Portugal, não necessariamente de autoria portuguesa, mas que foram traduzidas e ganharam edição impressa no reino no mesmo período. Nossa análise está basicamente centrada na primeira metade do século XVIII, embora recue eventualmente ao século XVII ou avance ao XIX para melhor compreensão de mudanças e permanências em torno dos entendimentos religiosos sobre a condução virtuosa da vida cristã e dos sentidos e efeitos da velhice no corpo. Um levantamento prévio, realizando a partir do critério de identificação de vocábulos “velho/a”, “velhice”, “envelhecer” e “envelhecimento”, pôde constatar potencialidades nas seguintes obras, que também serão consideradas na pesquisa: A Mocidade enganada, dezenganada. Duello Espiritual [1728], P. Manoel da Consciência; Innocencia prodigiosa, Triunfos da Fé, e da Graça nas vidas, e martyrios de vários Meninos, e Meninas Santas [1721], P. Manoel da Consciência; Espelho de penitentes e Chronica da Província de Santa Maria da Arrabida [1728], do Fr. Antonio da Piedade; Descripçam do Tormentoso cabo da enganosa esperança a hora da Morte [1718], P. Nicolau Fernandes Collares; Imagem da Virtude em O Noviciado da Companhia de Jesus do Real Collegio do Espirito Santo de Evora do Reyno de Portugal [1714], P. Antonio Franco; Tratado del Bien de la Vejez [1819], do Cardeal Gabriel Paleoti.
Além das fontes citadas acima, serão acionadas também as seguintes: a obra Os últimos fins do homem [1728], do padre Manoel Bernardes, e em menor ênfase, Luz e Calor [1696] e Nova Floresta [1726], do mesmo autor; alguns sermões do padre Antônio Vieira, especialmente o Sermão de São Gonçalo, publicado na obra Sermoens do P. Antonio Vieira [1689]; a obra de caráter terapêutico Remedios Stoico-Chistãos, para lograr serenidade do animo, passar a vida alegremente, e vencer sustos, medos, temores, e perturbações, e outros acidentes de que nascem enfermidades incuráveis [1736], do boticário Cosme Francez; a obra médica Polyanthea Medicinal. Notícias Galenicas, e chymicas [1716], do médico João Curvo Semedo; a obra Escola Moral, Politica, Christãa, e jurídica [1759], do doutor Diogo Guerreiro Camacho de Aboym; e, por fim, as obras Primicias Evangelicas, ou sermoens, e panegyricos [1685] e Vocabulario portuguez & latino [1712-1728], de Raphael Bluteau. Essas fontes serão situadas no seu tempo e lugar, bem como verificadas as aproximações entre si, especialmente aqueles que são textos de mesma natureza (religiosa). Entende-se que elas podem revelar regras e mecanismos similares de produção, formas específicas de pensar e aspectos culturais próprios das concepções de relações sociais estabelecidas pela Igreja Católica.

Indicadores, Metas e Resultados

O projeto foi pensado para ser desenvolvido ao longo de quatro anos, a contar de março de 2024, tempo necessário para a análise das fontes, a leitura da bibliografia, a discussão com os estudantes, a produção de artigos científicos em parceria com os pesquisadores que formam a equipe deste projeto e a divulgação dos resultados à comunidade historiadora por meio de participação em eventos e da publicação em revistas científicas da área.
Sistematizando o que foi dito acima em tópicos, realizaremos as seguintes atividades:

 Leitura, sistematização e análise da documentação levantada (por todo o período do projeto);
 Revisão da bibliografia pertinente e incorporação de novas obras (por todo o período do projeto);
 Participação em eventos científicos da área com apresentação dos resultados parciais da pesquisa (ao menos um evento por ano);
 Encontros quinzenais, em períodos letivos conforme o calendário da universidade, com alunos envolvidos no projeto;
 Reunião trimestral da equipe do projeto;
 Elaboração de, ao menos, um artigo científico por ano, a ser encaminhamento para publicação em revistas científicas da área;

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Alexandra Patrícia Lopes Esteves
Claudia Rodrigues
EDUARDA WILLE ZARNOTT
ELIANE CRISTINA DECKMANN FLECK2
GUILHERME DOS SANTOS LYSAKOWSKI
Jean Luiz Neves Abreu
LOREN CANTILIANO XIMENDES
LUIZA OLIVEIRA LOPES
MAURO DILLMANN TAVARES2
Rony Centeno Soares Júnior

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