Nome do Projeto
PARÂMETROS DO SONO AO LONGO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA, EXCESSO DE PESO E COMPOSIÇÃO CORPORAL AOS 18 ANOS DE IDADE NA COORTE DE NASCIMENTOS DE PELOTAS DE 2004
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/07/2024 - 30/06/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Tendo em vista a crescente prevalência de excesso de peso entre crianças e adolescentes nas últimas quatro décadas, na maioria das regiões e países, há uma grande necessidade de entender melhor a etiologia da obesidade nessas faixas etárias. Apesar de o sedentarismo e a alimentação rica em alimentos ultra processados serem reconhecidos como os principais determinantes do crescente ganho de peso observado na população global, outra característica comum à maior parte das sociedades modernas é a progressiva redução no tempo total de sono observada desde a infância. Várias revisões sistemáticas e metanálises reforçam a existência de associação entre a menor duração do sono e as taxas de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes. No entanto, estudos recentes sugerem que, além da duração, outras dimensões do sono precisam ser levadas em conta, para fornecer uma compreensão mais abrangente de como o sono contribui para o desenvolvimento e manutenção da obesidade nesses grupos etários. Assim, este estudo tem como objetivo revisar a literatura pertinente e analisar longitudinalmente a associação dos parâmetros de sono ao longo do ciclo vital (6, 11, 15 e 18 anos de idade) com o estado nutricional e a composição corporal aos 18 anos na Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. Além da duração, os parâmetros do sono a serem investigados incluem: qualidade, eficiência, horário de dormir e levantar e estado de alerta. Os parâmetros do sono serão avaliados de forma subjetiva, por meio da aplicação de questionários específicos, validados para o uso na população brasileira (Questionário de Cronotipos de Munique; Escala de Sonolência de Epworth; e Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh) e de forma objetiva, por meio de actigrafia (acelerometria). O excesso de peso e a composição corporal serão avaliados, respectivamente, por meio de medidas antropométrica e por pletismografia por deslocamento de ar (BodPodÒ). A associação entre cada um dos parâmetros do sono e cada um dos desfechos será avaliada controlando potenciais fatores de confusão. Espera-se com este estudo contribuir para o corpo de evidências científicas acerca da importância do sono sobre a saúde, visando a redução das taxas populacionais de excesso de peso e de gordura corporal, bem como para a formação de recursos humanos para pesquisa, por meio da participação de alunos de pós-graduação e bolsistas de iniciação científica na implementação do projeto, além de fornecer feedback a demandas de pesquisa para a gestão da Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil 2021-2030.

Objetivo Geral

Analisar longitudinalmente a associação entre parâmetros de saúde do sono ao longo
do ciclo vital (dos 6 aos 18 anos de idade), o estado nutricional e a composição corporal
aos 18 anos na Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004.

Justificativa

Em termos globais, nas últimas quatro décadas, o índice de massa corporal (IMC) médio
e a obesidade em crianças e adolescentes de 5 a 19 anos aumentaram na maioria das
regiões e países. De 1975 a 2016, a prevalência global de obesidade aumentou de 0,7%
(0,4–1,2%) para 5,6% (4,8–6,5%) em meninas, e de 0,9% (0,5–1,3%) para 7,8% (6,7–
9,1%) em meninos.(1)
Uma revisão sistemática de estudos publicados em 2018 e 2019, sobre a prevalência de
excesso de peso em crianças e adolescentes brasileiros (7-19 anos), encontrou que a
prevalência de excesso de peso variou de 8,8% a 22,2% (meninos: 6,2-21%; meninas:
6,9-27,6%).(2) Nesta mesma revisão, a prevalência de obesidade variou de 3,8% a 24%
(meninos: 2,4-28,9%; meninas: 1,6-19,4%).(2) Uma metanálise de estudos com
adolescentes brasileiros publicados até 2020 mostrou aumento significativo na
prevalência de excesso de peso nas últimas décadas: 8,2% (7,7-8,7%) até o ano 2000;
18,9% (14,7-23,2%) de 2000 a 2009; e 25,1% (23,4-26,8%) em 2010 e posteriormente.(3)
Um estudo com dados de 730.309 adultos participantes do sistema de Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),
para examinar as tendências temporais e projetar a epidemia de obesidade no Brasil,
encontrou que, entre 2006 e 2019, houve um aumento de 30% na prevalência de
excesso de peso (de 42,6% em 2006 para 55,4% em 2019), um aumento de 72% na
prevalência de obesidade (de 11,8% para 20,3%) e um aumento de 76% na prevalência
de obesidade classes II e III (de 3,2% para 5,7%).(4) As prevalências das categorias de
IMC até 2030 foram estimadas em 68,1% para sobrepeso, 29,6% para obesidade e 9,3%
para obesidade classes II e III.(4) Tal aumento da prevalência de obesidade no Brasil é
preocupante, pois aumentará a carga de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e
seus custos associados ao Sistema Único de Saúde brasileiro.(5)
Apesar de o sedentarismo e a alimentação rica em alimentos ultra processados (AUP)
serem reconhecidos como os principais determinantes do progressivo ganho de peso
observado na população global, outra característica comum à maior parte das
sociedades modernas é a progressiva redução no tempo total de sono observada desde
a infância.(6) Em um estudo que analisou as características do sono obtidas entre as
décadas de 1970 e 1990, em coortes de base populacional conduzidas na Suíça, mostrou
que a redução no tempo total de sono nas últimas décadas é observada a partir dos
primeiros seis meses de vida.(7) Naquelas populações, a redução do tempo total de sono
está relacionada a horários de deitar mais tardios, combinados a um horário de
despertar praticamente inalterado no transcorrer das décadas. A menor duração e alterações em outros parâmetros do sono na infância e adolescência têm um potencial papel na etiologia do excesso de peso nessas faixas etárias.

Metodologia

O estudo será desenvolvido com dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004.
Por terem delineamento longitudinal, prospectivo, caracterizado pelo
acompanhamento dos participantes e pela avaliação de exposições anteriormente ao
desenvolvimento dos desfechos de interesse, os estudos de coorte permitem
contemplar a temporalidade, um dos principais critérios de Bradford Hill para inferência
de causalidade em estudos com humanos.(60)
10
O acompanhamento dos participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004
vem ocorrendo desde o seu nascimento, em 2004, totalizando até o momento oito
visitas. A média de idade (desvio padrão) nesses acompanhamentos foi de 3,0 (0,1), 11,9
(0,2), 23,9 (0,4), 49,5 (1,7) meses, e aos 6,7 (0,2), 10,3 (0, 5), 15,7 (0, 2) e 18,0 (0,3) anos.
A população da coorte original foi constituída por 4.231 recém-nascidos,
correspondendo a 99,2% dos nascimentos em Pelotas, naquele ano, de mães residentes
na área urbana do município e no bairro Jardim América, contíguo a Pelotas, mas
pertencente ao município vizinho de Capão do Leão. Tal como as demais Coortes de
Nascimentos de Pelotas (1982, 1993 e 2015), a Coorte de 2004 acompanha os seus
participantes com dois objetivos principais: investigar o impacto de exposições precoces
na vida em desfechos de saúde e estudar iniquidades nas condições de saúde. São
exemplos das exposições precoces investigadas: condições pré-natais e perinatais, nível
socioeconômico materno, características demográficas e ambientais, amamentação,
desenvolvimento infantil, infecções e acidentes, bem como acesso, utilização e
financiamento de serviços de saúde.(61)
As entrevistas realizadas no período perinatal ocorreram nos hospitais, logo após o
nascimento, utilizando um questionário padrão e pré-codificado, baseado nas Coortes
de Nascimentos de Pelotas de 1982 e 1993, mas com informações adicionais.(61) Até os
48 meses, os acompanhamentos foram realizados nos domicílios e, a partir da visita dos
6 anos, inclusive, as visitas vêm sendo realizadas em uma clínica de pesquisa, localizada
no Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas,
especialmente montada para o acompanhamento dos participantes das quatro coortes
de nascimentos. Uma série de informações sobre a família e especificamente sobre a
mãe e o participante da coorte têm sido coletadas ao longo dos anos. Maiores detalhes metodológicos do estudo podem ser encontrados em outra publicação.(61)
Este projeto propõe a utilização de dados já coletados no nascimento e nos
acompanhamentos de 6, 11, 15 e 18 anos de idade da Coorte de 2004. As taxas de
seguimento desses acompanhamentos foram de 90,2%, 86,6%, 50,4% e 85,0%,
respectivamente, aos 6, 11, 15 e 18 anos de idade. O acompanhamento de 15 anos, que
foi iniciado em novembro de 2019, teve que ser prematuramente interrompido em
março de 2020, devido à transmissão doméstica no Brasil do vírus SARS-CoV-2,
responsável pela pandemia de COVID-19, o que explica a menor taxa de
acompanhamento naquela idade.

Indicadores, Metas e Resultados

METAS
• Analisar criticamente a literatura disponível sobre a relação entre parâmetros de
sono, excesso de peso e composição corporal na infância e adolescência;
• Avaliar e comparar as prevalências do sono de má qualidade autorreferida,
sonolência diurna, baixa eficiência do sono e duração insuficiente, bem como a variação
do horário de dormir, no curso da vida (aos 6, 11, 15 e 18 anos de idade), entre
aproximadamente 3.500 indivíduos participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas
de 2004;
• Medir a prevalência de excesso de peso (sobrepeso e obesidade), aos 18 anos de
idade, conforme as trajetórias dos cinco parâmetros de saúde do sono (qualidade
autorreferida, sonolência diurna, horário de dormir, eficiência e duração) entre 6 e 18
anos de idade, controlando para fatores de confusão, em aproximadamente 3.500
participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004;
• Avaliar a composição corporal (MG, MLG, %MG, %MLG, IMG e IMLG) por
pletismografia por deslocamento de ar, aos 18 anos de idade, conforme as trajetórias
dos cinco parâmetros de saúde do sono (qualidade autorreferida, sonolência diurna,
horário de dormir, eficiência e duração), entre 6 e 18 anos, controlando para fatores de
confusão, em aproximadamente 3.500 participantes da Coorte de Nascimentos de
Pelotas de 2004;
• Contribuir para o corpo de evidências científicas acerca da importância do sono
sobre a saúde, visando a redução das taxas populacionais de excesso de peso e de
gordura corporal;
• Dar feedback a demandas de pesquisa para a gestão da Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis
no Brasil 2021-2030.

RESULTADOS ESPERADOS
1. Redação de artigo de revisão sistemática e metanálise (se possível) sobre a relação
entre parâmetros de sono e composição corporal na infância e adolescência
2. Redação de artigo científico comparando as prevalências do sono de má qualidade
autorreferida, sonolência diurna, baixa eficiência do sono e duração insuficiente do
sono, bem como a variação do horário de dormir, no curso da vida (aos 6, 11, 15 e 18
anos de idade), entre os participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004
3. Redação de artigo científico avaliando a prevalência de excesso de peso (sobrepeso
e obesidade), aos 18 anos de idade, conforme as trajetórias dos cinco parâmetros de
saúde do sono (qualidade autorreferida, sonolência diurna, horário de dormir, eficiência
e duração) entre 6 e 18 anos de idade, controlando para fatores de confusão, entre os
participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004
4. Redação de artigo científico avaliando a composição corporal (MG, MLG, IMG e
IMLG) por pletismografia por deslocamento de ar, aos 18 anos de idade, conforme as
trajetórias dos cinco parâmetros de saúde do sono (qualidade autorreferida, sonolência
diurna, horário de dormir, eficiência e duração), entre 6 e 18 anos, controlando para
fatores de confusão, entre os participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de
2004
5. Contribuir para a formação de recursos humanos para a pesquisa, por meio da
participação de alunos de doutorado, pós-doutores e bolsistas de iniciação científica na
implementação da proposta
6. Divulgação dos resultados da pesquisa ao público leigo nos meios tradicionais de
comunicação (jornal e TV) e no site do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia
da Universidade Federal de Pelotas
7. Divulgação dos resultados da pesquisa no meio científico, por meio da publicação
dos artigos científicos e participação em congressos, conferências e reuniões de caráter
técnico e/ou científico.

RELEVÂNCIA E IMPACTO DO PROJETO PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO OU DE INOVAÇÃO
• As informações coletadas serão utilizadas para conhecer a composição corporal
dos participantes e, portanto, auxiliar na identificação de problemas nutricionais como
o excesso de peso e gordura corporal.
• Será possível a descrição dos parâmetros de saúde do sono, em diferentes
idades, da infância à adolescência.
• O estudo possibilitará avaliar se a menor duração do sono, menor eficiência e o
horário tardio de dormir na infância tendem a persistir na adolescência.
• A proposta poderá corroborar, atendendo a um critério importante de
causalidade – a temporalidade, com as atuais recomendações de duração do sono nas
24 horas, e sua relação com desfechos nutricionais desfavoráveis.
• Pretende-se avaliar o papel das características do sono sobre o estado
nutricional, o que poderá apontar caminhos para o planejamento de intervenções que
visem a prevenção da obesidade e outras doenças crônicas dela decorrentes.
• O estudo poderá dar feedback a demandas de pesquisa para a gestão da Plano
de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não
Transmissíveis no Brasil 2021-2030.
21
• O estudo contribuirá para a formação de recursos humanos para a pesquisa na
área de saúde nutricional por meio da participação de alunos de pós-graduação, pósdoutores
e bolsistas de iniciação científica.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ALICIA MATIJASEVICH MANITTO
ALUISIO JARDIM DORNELLAS DE BARROS1
INA DA SILVA DOS SANTOS3
ISABEL OLIVEIRA BIERHALS
LUCIANA TOVO RODRIGUES1
Priscila da Silva Echevarria

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