As inundações do maio de 2024 foi o principal desastre climático sofrido pela região do Rio Grande do Sul. O evento alcançou diversas regiões do Rio Grande do Sul, ocasionado pelo volume de chuvas sobre a bacia hidrográfica que abastece o rio Guaíba e que depois se deslocou para a bacia costeira da Lagoa dos Patos, foi responsável por mortes de pessoas e animais, destruição de prédios, equipamentos, moradias e plantações na zona rural e nas cidades destas regiões. Para fins de comparação, os 900 mm de chuva no centro da bacia hidrográfica ao longo de 35 dias entre o final de abril e maio de 2024 é praticamente 10 vezes maior do que a precipitação média típica do mês de abril ou do mês de maio nesta região, que está entre 80 e 100 mm, aproximadamente (IPH/UFRGS, 2024). A mancha de impacto de enchentes, deslizamentos de terra e lama atingiu uma área de aproximadamente 16.126 km², alcançando 484 municípios do Rio Grande do Sul. Em todos os 418 municípios em estado de calamidade ou de emergência, estima-se que pelo menos 876,2 mil pessoas em 420,1 mil domicílios (8,8% da população e 8,8% dos domicílios nesses municípios) tenham sido diretamente atingidos. Estima-se que ao menos 9,7% da população (310,4 mil pessoas) e 9,7% das famílias (138,8 mil famílias) que se encontravam em situação de vulnerabilidade socioeconômica antes das enchentes foram atingidas (IPEA, 2024).
Diante dos dados estatísticos deste evento climático, se torna urgente estarmos atentos para suas consequências humanas e econômicas, assim como para o impacto na vida das pessoas. Esses impactos podem ser medidos de diversas formas pelas estatísticas, mas esta não é a única forma de reconhecer sua grandeza. No nosso entendimento, para sustentar e aprofundar o debate sobre esses acontecimentos, junto às abordagens estatísticas, é fundamental dimensionar os impactos do mesmo na vida das pessoas. Para isso, o destaque na experiência das pessoas é importante para alertar para aspectos e consequências que muitas vezes passam desapercebidos pelas leituras quantitativas. É esse nosso objetivo ao propor essa mesa-redonda focada na experiência de profissionais das ciências sociais que se dispuseram, a partir de suas distintas experiências das inundações, produzir reflexões que levantem questões capazes de abrir caminhos para o pensamento e para a ação. Nossa preocupação é contribuir para o fomentar discussões sobre temas urgentes a que os eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, impõem às nossas sociedades. Diante de situações como essas, é importante evitar que a normalidade desejada após as crises produza um “esquecimento” de suas graves consequências para coletividades desatentas.