Arte e arqueologia possuem longa história de fertilizações cruzadas e partilhas. Desenvolvimentos de estéticas e poéticas, com inspiração arqueológica, encontra-se na literatura, na ópera, no cinema. Arqueólogos contemporâneos, contudo, raramente trabalham em sinergia com artistas. Nesse projeto, procurando superar essa lacuna, daremos vazão, prioritariamente, às relações entre o Projeto O Pampa Negro: arqueologia da diáspora africana na região meridional do RS, desenvolvido desde 2010 na UFPel, e a companhia da Dança Afro Daniel Amaro, sediada na cidade de Pelotas.
Temos vasta experiência adquirida com a Dança dos Orixás, espetáculo coreografo e dirigido por Daniel Amaro. Desde 2017, totalizando-se 19 edições , encenamos a Dança dos Orixás na Charqueada São João, palco, também, de nosso trabalho arqueológico.
Integrando-se ao percurso cenográfico da Dança dos Orixás, montamos uma exposição intitulada O Encantamento do Mundo: objetos dos escravizados da Charqueada São João. 5.000 pessoas já assistiram ao nosso espetáculo, no qual frisamos a beleza das culturas africanas e afrodescendentes em Pelotas. Proporcionamos ao público, formado por pessoas de Pelotas e, também, por turistas, o senso estético profundo das culturas afro. Ao acionar no mesmo enredo dança e arqueologia, nossa narrativa enfatiza a poética que nossos antepassados inventaram para encantar o mundo.
Dessa maneira, esse projeto dará sequência a essa experiência que complementará 3 anos.
Temos, inclusive, outros dois espetáculos, já encenados, pelo menos, uma dezena de vezes. Tais são eles: Reminiscências dos Tambores do Corpo e Ogum.
Ogum, por exemplo, assim como A Dança dos Orixás, está plenamente baseado nos achados arqueológicos da senzala da Charqueada São João. Ritmos e movimentos da coreografia, em momentos diversos do espetáculo, representam as cosmogonias relacionadas a Ogum, bem como
o trabalho arqueológico e o encontro dos objetos dos escravizados na Charqueada São João. A apoteose do espetáculo é a simulação da descoberta do assentamento de Ogum, conotando-se a profundidade temporal das práticas espirituais afros em Pelotas. O espetáculo, assim, articula presente e passado, narrando a cosmogonia de Ogum desde a África até o assentamento revelado pelo trabalho arqueológico em Pelotas. O espetáculo contará, ainda, com exposição arqueológica. Aproveitaremos, desse modo, a experiência adquirida no espetáculo Dança dos Orixás.
No futuro, pretendemos construir novos espetáculos de Dança, bem como incorporar outros artistas (plásticos, por exemplo) que possam inspirar-se em nosso trabalho arqueológico a fim de ensejar a criação de narrativas antirracistas e obras de valorização da cultura Afrobrasileira.