A formação de profissionais da área de saúde no Brasil, em nível superior, acontece em diferentes contextos curriculares, com forte tendência à Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), ao ensino clínico e com emersão da proposta de ensino voltada ao Sistema Único de Saúde (SUS) desde o início da graduação (KANG; JORDAN; PORATH, 2009; SANTOS; LEITE, 2011).
A teorização de Basil Bernstein sensibiliza o docente para compreender o dispositivo pedagógico. Com a inspiração da alma investigativa em Bernstein, observou-se que os diálogos cotidianos com os demais colegas docentes do DM inquietam as classificações e os enquadramentos dos discursos reguladores e instrucionais das disciplinas de Anatomia Humana para cada área da saúde. As inquietações se sobrepõem aos anseios pedagógicos de aperfeiçoamento docente e demonstram a necessidade de recontextualizar os dispositivos pedagógicos e o trabalho docente na formação em saúde tendo como base as identidades profissionais de cada área da saúde e as respectivas especificidades curriculares imersas num contexto de mundo globalizado. A necessidade de ter critérios de seleção de materiais didáticos e a possibilidade de elaboração e/ou adequação de referenciais bibliográficos seguros e específicos voltados a cada área profissional com a finalidade da aplicabilidade funcional do conhecimento é uma das intenções que mobilizam o corpo docente da Anatomia Humana. Os para-efeitos deste cenário instigam vários questionamentos: (a) de uma certa forma, será que isto poderia estabilizar os discursos instrucionais e reguladores?; (b) ou, simplesmente, a Anatomia Humana é ministrada para todos os cursos da mesma forma, a morfologia pura?; (c) estas inquietações afetam as práticas pedagógicas?; (d) como a reverberação destas práticas pedagógicas atingem as identidades profissionais e curriculares?; e, (e) como se dará a seleção e a elaboração de materiais bibliográficos em Anatomia Humana para cada especificidade da área de saúde?
Com estas ideias ampliadas em outros projetos de ensino já desenvolvidos, a perspectiva deste projeto de ensino almeja contribuir para organizar os dispositivos pedagógicos da Anatomia Humana em níveis adequados ao currículo e às identidades profissionais porque a morfologia perpassa as mais diferentes áreas da saúde em variantes discursivas unidirecionais e também multidirecionais. Assim, o presente estudo precisará do recurso científico da pesquisa pedagógica para contribuir com o aperfeiçoamento do ensino em Anatomia Humana.
O professor de anatomia Dr. Mario San Martin, durante a explanação sobre os modelos pedagógicos para o ensino em anatomia no Congresso Argentino de Anatomia, denotou que há uma sensação permanente por parte dos docentes que o aluno não estuda. Do outro lado, a participação nas aulas teórico-práticas em Anatomia Humana tem possibilitado um espaço reflexivo ideativo levando a pensar que o ensino da Anatomia tem como recurso o estudante como centro da atenção. Nas atividades da sala de aula em Anatomia Humana aparecem estas divergências, caracterizando cenários dinâmicos e que, em várias instâncias, envolvem as práticas pedagógicas, as interfaces curriculares, as identidades profissionais e os dispositivos pedagógicos. Pode-se perceber que as observações dos estudantes neste contexto obnubilado inquietam a alma desse projeto de ensino. Nesta perspectiva, o adquirente é contemplado também como foco da investigação, percebendo que a reverberação das suas ações são partes integrantes da relação ensino-aprendizagem que se estabelece nas práticas pedagógicas.
Com estas considerações, o projeto de ensino terá como embasamento metodológico o estudo de caso por meio de uma investigação-ação educacional, apresentando caráter qualitativo, exploratório e participante (BOGDAN; BIKLEN, 1994; GIL, 1996; MINAYO et al, 1998; MION, 2002; MELLO, 2005). A imersão enquanto docente nas atividades junto ao Departamento de Morfologia, ao Curso de Fisioterapia e as demais atividades universitárias permitirão perceber mais elementos no campo educacional a fim de qualificar a formação em Fisioterapia que se iniciará no ano de 2020.
A avaliação será construída após o término do projeto, tendo em vista o caráter participante, intervencionista e dialogado com a prática pedagógica em que os participantes do projeto irão desenvolver. Para isso, será utilizado registros em diários de campo, imagens, fotografias, entrevistas abertas e semi-estruturadas utilizando o recurso da informática. Também, pretende-se avaliar a intervenção junto com os estudantes envolvidos, utilizando um questionário fechado sobre as interfaces de aprendizagem desenvolvidas, exploradas e disponíveis para a Anatomia Humana junto à Instituição. As teorizações de Basil Bernstein a cerca do dispositivo pedagógico, o ciclo de análise de políticas de Stephen Ball, as interfaces com as metodologias problematizadoras para a área da saúde e a aproximação da teorização de Ernesto Laclau e a metodologia de análise de imagens serão elementos norteadores para avaliar o projeto de ensino como espaço-tempo curricular de aprendizado. Os diálogos estabelecidos com o Colegiado do Curso de Fisioterapia serão fundamentais para o andamento da investigação-ação educacional, assim como os recursos desenvolvidos até então junto aos projetos 2069, 7067, 7188, 4447 e 3636.
As atividades semanais semanais estão agendadas presencialmente nas segudas-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras entre as dezoito e vinte duas horas no Laboratório de Anatomia, conforme disponibilidade dos integrantes e agenda de atividades orientadas.