Materiais
Para a realização do presente estudo será utilizado bagaço de azeitona da cultivar “Arbequina”, fornecido por duas indústrias de processamento de azeite de oliva extra virgem, da Região da Campanha Gaúcha/RS do Bioma Pampa, uma da cidade de Bagé/RS (latitude: 31°22'55.2"S, longitude: 54°06'33.1"W) Agroindústria Azeites do Pampa e outra da cidade de Pinheiro Machado/RS (latitude: 31°30'01.4"S, longitude: 53°30'40.4"W) Estância Guarda Velha.
As amostras de bagaço de azeitona bruto serão coletadas no mês de março dos anos de 2023, 2024 e 2025, logo após a extração do azeite de oliva extra virgem, e armazenadas em ultrafreezer (-80 ºC) até o uso.
Os demais ingredientes utilizados para a elaboração dos produtos serão adquiridos no comércio local de Pelotas, RS. Os reagentes utilizados para as análises serão de grau de pureza analítica.
Métodos
Para a secagem do bagaço será utilizada uma estufa com circulação de ar (Quimis®, modelo Q314M242, 220 V - 1500 W) na temperatura de 60 °C durante 48 horas e também um liofilizador da marca LIOTOP®, modelo L101, durante 48 horas, sob condições de alto vácuo e temperatura próxima a – 55 oC.
Obtenção das farinhas de bagaço de azeitona
Após a secagem será realizada a separação das frações (polpa e caroço) com o auxílio de um agitador de peneiras marca BERTEL® com a definição da peneira com malha 20 Mesh/Tyler com abertura de 850 mm/µm, com agitação mecânica de 5 rpm por 15 minutos.
Caracterização das farinhas de bagaço de azeitona
As farinhas obtidas a partir do bagaço de oliveira in natura serão caracterizadas quanto a sua composição centesimal (umidade, cinzas, proteínas, lipídios, fibras totais e carboidratos) seguindo as indicações da AOCS (2005), sendo os resultados expressos em porcentagem; avaliação de cor, utilizando um colorímetro MINOLTA CR 400, através do sistema de leitura CIELAB (Comission Internatinale de E'eclairage); compostos fenólicos totais, de acordo com a metodologia descrita por Singleton et al. (1965); atividade antioxidante por captura dos radicais DPPH, conforme método descrito por Brand-Willians (1995), e ABTS através do método de Rufino et al. (2007).
Determinações do óleo remanescente
O óleo remanescente do bagaço de azeitona será extraído e analisado. Para a extração deste óleo serão utilizados solventes, realizando-se os procedimentos propostos por Bligh Dyer (1959).
As análises envolverão a determinação do índice de acidez, que seguirá a metodologia proposta por American Oil Chemists Ca5a-40 (AOCS, 1992); determinação do índice de iodo, utilizanda a metodologia proposta por Adolfo Lutz (LUTZ, 1985); índice de refração, utilizando um refratômetro de bancada tipo Abbê (40ºC). A metodologia descrita por AOCS cd-18-90 (1989) será utilizada para quantificar os aldeídos por p-anisidina. O índice de peróxidos será determinado de acordo com AOCS Cd-8-53 (1992). O valor total de oxidação (Totox) será obtido aplicando a fórmula Valor Totox = 2 (IP) + (IpA). O coeficiente de extinção específica (K232 e K270) será realizado seguindo a metodologia proposta por IOOC (2008). A análise de carotenoides totais será realizada de acordo com o proposto por Rodriguez-Amaya (2001), com modificações. A análise de clorofilas totais será realizada de acordo com Lichtenthaler (1987). Na avaliação do sistema β-caroteno/ácido linoleico, será seguida a metodologia desenvolvida por Marco (1968), modificado por Miller (1971), baseada na oxidação do β-caroteno, induzida pelos produtos de degradação oxidativa do ácido linoleico.
Para determinação do perfil de ácidos graxos, o óleo será derivatizado com trifluoreto de boro (BF3), e a fase orgânica separada com hexano. O excesso de hexano será evaporado no rotaevaporador e o remanescente diluído com 1 mL de hexano, para ser transferido ao vial que seguirá para análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM).
As análises de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM) serão realizadas em equipamento da marca Shimadzu, modelo GC-MS-QP 2010SE, equipado com auto injetor AOC-20i. Será utilizada uma coluna capilar Rtx-5MS 30 m x 0,25 mm x 0,25 μm.
Desenvolvimento dos produtos alimentícios
Para elaboração dos dois produtos alimentícios: macarrão talharim e bolo de chocolate serão utilizados as formulações padrão de cada produto e outras três variações das receitas originais, apenas com a substituição parcial da farinha de trigo por farinha de bagaço de azeitona. A formulação padrão será elaborada para permitir a avaliação comparativa dos resultados. Na formulação do macarrão talharim será substituída a farinha de trigo de semolina grano duro por farinha de bagaço de azeitona (FBA) nas seguintes proporções de 5%, 15% e 25% de FBA (Tabela 2), a formulação do bolo de chocolate terá a substituição da farinha de trigo comercial tipo 1 por 20%, 30% e 40% da FBA.
Análises químicas, físicas e tecnológicas dos produtos
Serão determinadas a composição centesimal (umidade, cinzas, proteínas, lipídios, fibras totais e carboidratos); a avaliação de cor da crosta e do miolo dos produtos; de compostos fenólicos totais e atividade antioxidante por captura dos radicais DPPH e ABTS e pelo método de β-caroteno/ácido linoleico, todas seguindo as metodologias indicadas anteriormente.
As características dos alvéolos serão obtidas em imagem digitalizada em scanner, medindo o tamanho médio dos alvéolos presentes em 1 cm² (GONZALES-BARRÓN; BUTLER, 2006; ROSALES-JUÁRES et al., 2008).
A determinação da textura dos produtos será avaliada com base no método padrão da AACC International Method (74-09) (American Association of Cereal Chemists, 1988), com o uso do Texturômetro TA. XT Plus (Stable Micro Systems, Texture Exponent 32 software, Surrey, Reino Unido), com célula de carga de 50 kg e probe cilíndrico de 40 mm de diâmetro.
O volume específico do produto final será determinado segundo método de deslocamento de sementes de painço (HSIEH et al., 1991), expresso em cm³.g-1.
Análises microbiológicas
Serão realizadas as análises de bolores e leveduras, Salmonella spp. e Escherichia coli, segundo o que é preconizado para pães, bolos, bolachas, biscoitos e outros produtos de panificação, estáveis à temperatura ambiente (BRASIL, 2019), seguindo a metodologia descrita por Downes e Ito (2001).
Análises sensoriais
A avaliação sensorial dos dois produtos será conduzida no Laboratório de Análise Sensorial do CCQFA/UFPel, com a participação de no mínimo 50 julgadores não treinados, de ambos os sexos, pertencentes à comunidade acadêmica da UFPel.
Para a aplicação do teste de aceitabilidade sensorial será utilizada escala hedônica estruturada de 9 pontos (abrangendo de “desgostei extremamente” correspondendo ao valor 1, e “gostei extremamente” correspondendo ao valor 9) para os atributos aparência, cor, sabor, textura e impressão global. Os dados de impressão global serão utilizados para o cálculo do índice de aceitação (MEILGAARD; CIVILLE; CARR, 2007). Será solicitado também aos julgadores que expressem sua preferência pelas amostras, ordenando-as da mais preferida (1) a menos preferida (4) (GULARTE, 2009).
As análises serão realizadas com a aprovação do Comitê de Ética da FAMED/UFPel, com Parecer Consubstanciado do CEP (6.892.194).
Avaliações nutricionais
A digestão in vitro será simulada de acordo com método proposto por Dartois et al. (2010), utilizando modelo simulado de digestão de duas fases, em condições gástricas e do intestino delgado.
Será utilizado um fator de conversão (a partir do amido em glicose) de 0,9 o qual é geralmente calculado a partir do peso molecular do monômero de amido/peso molecular de glicose (162/180 = 0,9) (GARCIA-ALONSO; SAURA-CALIXTO, 1997; DARTOIS et al., 2010; GOÑI; BORDOLOI; KAUR; SINGH, 2012).
O índice glicêmico estimado será calculado de acordo com metodologia proposta por Goñi et al. (1997).
Análise estatística
Os resultados serão obtidos no mínimo em triplicata e serão expressos em médias e desvio padrão, sendo a comparação entre as amostras realizada por meio de análise de variância (ANOVA), complementada por teste de Tukey, ao nível de 5 % de significância, com utilização do programa Statistix versão 7.0.