Nome do Projeto
Tecnologias ancestrais e Inteligência Artificial (IA): Correspondências multiespécies em um mundo de mutações climáticas e fenômenos extremos
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
28/03/2025 - 28/02/2027
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
Este projeto de pesquisa e desenvolvimento tecnológico é movido pela seguinte pergunta: como a antropologia e o uso de tecnologias, como a inteligência artificial (IA), podem apoiar a preservação do meio ambiente e a promoção da saúde e do bem-estar (ODS 3) das comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas e ribeirinhas), ao mesmo tempo em que contribuem para a redução das desigualdades (ODS 10), o combate às mudanças climáticas (ODS 13) e a conservação da vida terrestre (ODS 15). A antropologia não se limita a entender a diversidade, mas empenha-se em aprender com as comunidades e buscar respostas conjuntamente — ou seja, em contribuir para a resolução dos problemas identificados em campo, rompendo com o colonialismo euroamericano fundante. Em diálogo com a prática ativista e descolonizadora de Sylvia Cusicanqui (2018) a pesquisa busca identificar problemas enfrentados por comunidades tradicionais, relacionados às mudanças climáticas, sobretudo aqueles associados a eventos recentes como o acumulado de chuvas, inundações, ciclones, chuvas de granizo e as altas temperaturas, problemas que têm assolado o Rio Grande do Sul, interferindo sobre a segurança, a qualidade de vida e a saúde, bem como prejudicando o cultivo de agricultura sustentável. Para tanto, a pesquisa será desenvolvida com a comunidade quilombola do Rincão das Almas, em São Lourenço do Sul (RS), a comunidade indígena da Retomada Gah-Ré, no Morro Santana em Porto Alegre (RS), que integra a Teia dos Povos e a comunidade de pescadores do Pontal da Barra em Pelotas (RS), que vive às margens da Laguna dos Patos, e foi fortemente afetada pela enchente deste ano de 2024. Além do registro de narrativas orais, buscando preservar memórias sobre as vivências difíceis relacionadas aos eventos extremos, enfrentados pelas comunidades, a pesquisa tem como escopo mapear práticas ancestrais de enfrentamento em situações de crise nas três comunidades. Como propõe Donna Haraway (2023, p.173), “ficar com o problema e desejar o ressurgimento [de outras formas de vida possíveis] requer que herdemos histórias difíceis para todos — mas não igualmente difíceis, nem da mesma maneira”. Assim, uma atenção cuidadosa às memórias, às tecnologias e conhecimentos populares é imprescindível para compreender quais comunidades são afetadas, de que modos, quais os impactos sobre a saúde e a sustentabilidade, como essas comunidades enfrentam as crises climáticas desencadeadas pelo modelo antropocêntrico e capitalista moderno. Finalmente, o que podemos aprender e colaborar com elas?

Objetivo Geral

A partir de uma perspectiva multiespécie, sistêmica e engajada com as pessoas e com o meio
ambiente, o projeto busca desenvolver novos entendimentos sobre as interações entre humanos e
não humanos, investigando as relações entre cosmologias locais e práticas de sustentabilidade.
Ademais, sob o ponto de vista da teoria antropológica, a pesquisa busca avançar ao explorar como os
saberes tradicionais de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, ancorados em práticas de
reciprocidade, mutualidade e interdependência ecológica, podem informar o debate sobre a
resiliência ambiental, reconfigurar o papel da antropologia na formulação de estratégias de
enfrentamento à crise climática, promovendo abordagens colaborativas que priorizem práticas
sustentáveis e a valorização dos saberes tradicionais. Além disso, diante das potencialidades e
agenciamentos mobilizados pelas redes sócio-técnicas, almeja-se contribuir para a preservação, a
valorização e a difusão de saberes e tecnologias ancestrais, a partir do trabalho etnográfico e da
criação de uma plataforma web, possibilitando que saberes, tecnologias, estratégias de enfrentamento e práticas de sustentabilidade destas comunidades sejam difundidos e aplicados em
outros contextos

Justificativa

Diante da emergência climática que estamos vivenciando, tornou-se urgente e imperativa a compreensão e a valorização de saberes localizados, situados (Haraway, 1995; CASTRO, 2002), para desenvolvermos estratégias compartilhadas de enfrentamento coletivo. A partir de uma perspectiva engajada com o meio ambiente e a vida, a presente pesquisa propõe fazer frente às urgências climáticas do planeta, que impactam não apenas dimensões relacionadas à sustentabilidade e à segurança da vida, mas também ao bem-estar e à saúde das pessoas, sobretudo aquelas em situações de vulnerabilidade.
Pesquisas antropológicas realizadas com povos tradicionais, como quilombolas, indígenas e ribeirinhos (BISPO DOS SANTOS, 2015; 2023; PINHEIRO et al., 2018; CASTRO, 2015; KOPENAWA, ALBERT, 2015; KRENAK, 2019; ESCOBAR, 2016) ensinam não apenas que essas comunidades são impactadas de maneira severa pelo capitalismo, que leva ao arrasamento dos recursos naturais e ameaça todas as formas de vida, mas também mostram que as comunidades ligadas à terra são resilientes em preservar suas cosmologias de modo “contra-colonial” e em buscar formas orgânicas de vida em comunidade (BISPO DOS SANTOS, 2015; 2023). Essa cosmovisão pode nos ensinar a buscar formas alternativas de “viver nas ruínas do capitalismo” (TSING, 2022). Com as comunidades tradicionais, aprendemos que a vida ressurge em terrenos aparentemente devastados, desde que não seja domesticada. Nessa direção, Liao (2012) propõe a teoria da “resiliência urbana” para abordar a problemática das inundações e destaca a importância do aprendizado com experiências pregressas para preparar cidades e comunidades, tanto para a reorganização após eventos extremos quanto para o desenvolvimento de estratégias de adaptação diante das mudanças climáticas e outras ameaças ambientais. No contexto desta pesquisa, a resiliência refere-se também aos modos de enfrentamento, às soluções encontradas em momentos de crise, à circulação de narrativas relacionadas às condições de vida e saúde, e ao desenvolvimento de práticas de correspondência.

Metodologia

A partir de uma perspectiva multimodal (COLLINS, DURINGTON e GILL, 2017; DATTATREYAN e MARRERO, 2019; ALVAREZ, RIVERA e ATHIAS, 2023), o presente projeto propõe a criação de um aplicativo interligado a uma plataforma digital online (site web) que conecte as comunidades envolvidas a partir de suas “experiências” (BENJAMIN, 1987; SCOTT, 1998; 2019), inspirando práticas plurais. A plataforma se caracteriza tanto como um espaço para a preservação e o compartilhamento da memória coletiva (POLLAK, 1989; HALBWACHS, 2004; HUYSSEN, 2001) - uma espécie de “memória prótese” (LANDSBERG, 2004), que guarda a memória das comunidades e serve para a sua extroversão, - como um lugar de troca de experiências e um repositório para o compartilhamento de tecnologias ancestrais e estratégias de enfrentamento das crises que evidenciam práticas de resistência (SELIGMANN-SILVA, 2016; DIDI-HUBERMAN, 2017) e a resiliência das comunidades com as quais estudamos. Ou seja, trata-se de “[...] uma práxis ao mesmo tempo reflexiva e material, que reatualiza o passado enquanto abre caminho para o novo” (CUSICANQUI, 2018, p. 139). (Livre tradução).

Indicadores, Metas e Resultados

Os resultados e impactos do projeto abrangem avanços teóricos, tecnológicos, sociais e
ambientais que fortalecem a atuação da antropologia e o uso de tecnologias para a sustentabilidade
e o enfrentamento das crises climáticas a partir da preservação de saberes tradicionais.
Primeiramente, destaca-se o impacto teórico e epistemológico, pois o projeto posiciona a
antropologia como uma ciência engajada às urgências climáticas e sociais, promovendo uma relação
de correspondência com as comunidades tradicionais envolvidas e aprendendo com suas práticas de
adaptação e resiliência. Além disso, o desenvolvimento de um aplicativo com sistema de alerta
representa uma inovação projetada para a segurança e autonomia dessas comunidades,
possibilitando respostas rápidas em situações de risco ambiental.
Outro impacto significativo é a preservação e valorização das memórias coletivas. A criação
de uma plataforma digital7 multimodal atua não apenas como um repositório de saberes tradicionais,
mas também como um canal interativo de difusão e troca de experiências entre comunidades.
Estima-se que a plataforma web, além de preservar conhecimentos tradicionais, possa inspirar
práticas de resiliência e aumentar a conscientização sobre a importância dos saberes ancestrais na
sustentabilidade.
Modelos preditivos de IA, fundamentados em práticas locais de uso sustentável da terra, são
aplicados para identificar e fortalecer métodos de adaptação climática. A difusão dessas estratégias
de resiliência em outras regiões amplia o impacto do projeto, promovendo práticas sustentáveis para
além das comunidades envolvidas. Ao disponibilizar dados etnográficos e com os modelos preditivos, tanto o aplicativo quanto o repositório digital tornam-se ferramentas relevantes para a formulação
de políticas públicas mais integradas e informadas, orientadas para a preservação ambiental e a
adaptação climática, potencializando o uso de saberes locais como elementos fundamentais na
construção de estratégias globais de enfrentamento às crises ambientais.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ADRIANE BORDA ALMEIDA DA SILVA3
ALEXANDRE OLIVEIRA CARDOSO JUNIOR
ANA PAULA SIGA LANGONE
ANA PAULA SIGA LANGONE
CLAUDIA TURRA MAGNI12
DANIELE BORGES BEZERRA60
EDEMAR DIAS XAVIER JUNIOR
FREDERICO DAL SOGLIO RECKZIEGEL
GLENIO CALMON DE AQUINO RISSIO
GUILHERME RIBEIRO CORRÊA18
ISABEL CRISTINA VARGAS DOS SANTOS
ISABEL FERREIRA VARGAS
Jean Segata
Liza Bilhalva Martins da Silva
VALENTINA MACHADO

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