Nome do Projeto
Memórias e trajetórias de vida de mulheres artesãs em países ibero-americanos
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/07/2025 - 31/12/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
A obra da mexicana Eli Bartra (2005) mostra o quanto o artesanato, enquanto arte popular, é menosprezado e discriminado nas maiorias das culturas. A isso se soma a questão de gênero, pois a produção realizada por mulheres possui uma maior desvalorização. É necessária uma aproximação e um diálogo entre artesanato e feminismo, por se percebe nessa atividade um espaço importante de ação-reflexão, pois ali se percebe o exercício de um conhecimento que pode ser emancipatório para as mulheres, desde que tendo essa intencionalidade. O projeto proposto aqui propõe uma pesquisa que se constrói a partir de narrativas (auto)biográficas de mulheres artesãs pertencentes a localidades diversas da região da ibero-américa, mais especificamente do Brasil, Equador, Peru, México e Portugal. Na perspectiva do campo epistemológico e metodológico das pesquisas (auto)biográficas, o processo de se narrar se constitui num momento de formação para as participantes que, através do uso de uma metodologia adequada, podem ressignificar e refazer suas trajetórias de mulheres artesãs, agora com a contribuição da perspectiva feminista decolonial. Dessa forma, a pesquisa (auto)biográfica ultrapassa o processo de coleta de dados para a pesquisa, mas se torna também um espaço de formação, tanto individual como coletiva, constituindo-se como uma experiência acadêmica que tem a intencionalidade de trazer uma colaboração na construção de uma educação feminista decolonial, alicerçada nos saberes das mulheres ibero-americanas, que problematiza as histórias de vida das mulheres, partindo de uma compreensão crítica sobre os processos de colonialidade do saber e do poder patriarcal, que sabemos que invisibiliza os saberes-fazeres das mulheres em geral, especialmente das mulheres em maior vulnerabilidade social.

Objetivo Geral

O objetivo geral da proposta é que a pesquisa (auto)biográfica com o uso das narrativas
(que trazem à tona as memórias) possa contribuir para um processo emancipatório das
mulheres, enquanto constituição de espaços de formação, na compreensão que a investigação
narrativa trata diretamente com as histórias de vida das pessoas, não no sentido de apenas
guardá-las ou contá-las, mas de também formá-las, no sentido pedagógico do termo.
Dessa forma, o projeto se propõe a realizar uma investigação que incorpore mulheres artesãs
desses quatro países – Brasil, Peru, Equador, México e Portugal – de forma que considera-se
a perspectiva ibero-americana na construção do olhar científico sobre esses lócus de
pesquisa diversos.
Para isso tem-se como principais objetivos específicos:
1) Trazer à tona as trajetórias de vida de mulheres, através do trabalho de coleta e
análise de suas narrativas (auto)biográficas, a partir de algumas categorias básicas que
nos auxilie a problematizar a vida das mulheres ibero-americanas, como família, formação
e/ou escolaridade, trabalho, conjugalidade, entre outras; 

2) Implementar e organizar um banco de dados das narrativas coletadas; 

3) Fotografar e arquivar imagens de objetos e/ou utensílios que possam ser significativos
no trabalho de resgate das memórias coletadas;
4) Contribuir para a construção de uma epistemologia feminista decolonial, que incorpore os
conhecimentos e a cultura das mulheres ibero-americanas;
5) Contribuir para a construção de um pensamento educacional feminista decolonial e ibero-
americano, que se alimente da contribuição advinda da educação popular, dialogue com ela e
a reelabore na perspectiva de gênero;
6) Contribuir na consolidação do grupo de pesquisa D’Generus: núcleo de estudos feministas
e de gênero, do CNPq, fortalecendo as pesquisas que vem sendo implementadas pela equipe de
pesquisadores/as vinculados/as ao grupo;
7) Colaborar na construção de conteúdos e/ou conteúdos que reverberem em disciplinas tanto
da Graduação como da Pós-Graduação na área de Educação, possibilitando inserção no ensino,
tanto da graduação como da pós-graduação no campo da educação;
8) Ampliar o processo de internacionalização da ciência brasileira, aumentando as parcerias
internacionais, o que amplia e qualifica a pesquisa.

Justificativa

A sociedade ocidental hegemônica patriarcal invisibilizou as mulheres, incluindo seus
conhecimentos, considerando-os não aptos para a ciência, o espaço público ou o mundo do
trabalho. Dessa forma, as mulheres e tudo o que elas faziam (e ainda fazem) foram
considerados como sendo de menor importância, insignificantes. As mulheres artesãs são
diretamente atingidas por essa visão.
A pesquisa proposta se constitui num contraponto a isso, pois percebemos as mulheres
envolvidas em temas de suas comunidades, como trabalho, educação e saúde. Suas biografias e
seus saberes estão inseridos em uma dinâmica cultural e social típicas do modo de vida de
suas culturas e denotam experiências de vida de mulheres pertencentes a grupos populares,
incorporando uma perspectiva decolonial de saberes e de vivências, que o projeto busca
trazer à tona em forma de narrativas.
A proposta que apresentamos aqui é interdisciplinar, incorporando elementos dos estudos de
gênero, articulados com a sociologia do trabalho e tendo como alicerce o campo da educação,
mais especificamente da educação popular numa perspectiva feminista e decolonial. O projeto
se propõe a se construir a partir de narrativas (auto)biográficas de mulheres artesãs
pertencentes a localidades diversas da região da ibero-américa, mais especificamente do sul
do Brasil, do Equador, do Peru, do México e de Portugal. Como objetivo busca-se contribuir
para um processo de emancipação e autonomia das mulheres envolvidas, através do resgate de
suas memórias, que visibilizam suas trajetórias de vida.
Sabemos que a pedagogia feminista de caráter popular não é algo totalmente novo, pois
existem inúmeras experiências populares realizadas com mulheres. No entanto, o que vemos de
forma recorrente são inúmeras iniciativas que se constituem em práticas dispersas, como
oficinas e/ou rodas de conversas que, por vezes, carecem de uma elaboração e reflexão
teórica mais aprofundada. Portanto, é fundamental que se sistematize essas experiências, de
forma a construir-se uma base teórica, metodológica e epistemológica de uma pedagogia
feminista de cunho popular. Luz Ochoa (2008) lança ideias que contribuem para a construção
dessa pedagogia e essa perspectiva inspira esta pesquisa.
Aqui as experiências com as mulheres não se colocam de forma isolada, mas compondo amplo
leque de possibilidades, tanto políticas como investigativas. Dessa forma, a proposta se
coloca na construção de uma epistemologia feminista, valorizando as biografias ibero-
americanas, especialmente a partir de experiências com mulheres no Brasil, no Equador, no
México, no Peru e em Portugal. Pretende-se, com isso, contribuir para a construção de um
campo teórico educacional feminista decolonial e popular.

Metodologia

No que se refere ao aspecto metodológico adotado nessa experiência, nosso ponto de partida
é a pesquisa participante, pois essa metodologia investigativa nasce na educação popular e
coloca os saberes populares em outro patamar, trazendo para o mundo acadêmico essas
representações do mundo de forma respeitosa, valorizando as experiências populares. Minha
caminhada como investigadora começa e se desenvolve nesse campo metodológico, acrescentando
novas/outras contribuições sobre essa forma de pesquisar.
No entanto, a pesquisa em educação vem aumentando seus referenciais metodológicos e seus
métodos, ampliando o leque de estudos autobiográficos, tendo o uso de narrativas como
elemento central, pois a narrativa é o que possibilita que as pessoas possam organizar suas
histórias de vida numa totalidade. Podemos afirmar que é a narrativa que dá forma e sentido
as nossas histórias de vida, sendo fundamental em sua estruturação. Assim, concordo com
Delory-Momberger quando afirma que “[...] não fazemos a narrativa de nossa vida porque
temos uma história; temos uma história porque fazemos a narrativa de nossa vida” (2008,
p.37).
Portanto, a metodologia empregada nessa investigação está situada no campo das pesquisas de
cunho qualitativo, tendo como ponto de partida a experiência da pesquisa participante e
adotando ferramentas da pesquisa-formação (situada no campo metodológico das histórias de
vida), especialmente do referencial de Marie-Christine Josso (2004), pois nessa perspectiva
compreende-se o processo investigativo como parte de uma trajetória de vida das envolvidas,
constituindo-se a pesquisa como uma experiência formativa, com a possibilidade de se
constituir em um espaço para se refletir sobre sua própria trajetória, visando se
apropriar-se de sua vida, elaborando e reelaborando sua trajetória, visando a construção do
futuro. Dessa forma, “[...] as experiências individuais das mulheres artesãs funcionaram
nessa investigação como pano de fundo para a análise de situações mais abrangentes de
enfrentamento ou submissão à lógica, tanto do capital quanto do patriarcado” (Eggert;
Silva, 2011, p.61).
Nessa perspectiva, apresento a seguir as etapas metodológicas a serem cumpridas no que se
refere ao exercício da pesquisa:
a) Identificação e seleção dos grupos de mulheres artesãs participantes, em localidades do
sul do estado do RS - Brasil, do Equador, do Peru, do México e de Portugal (sendo grupos já
contatados e no qual temos algum vínculo já estabelecido, algumas sendo organizadas em
associações sociais ou cooperativas);
b) Coleta de narrativas de mulheres, por meio de entrevistas individuais ou grupos focais;
c) Análise qualitativa das narrativas, identificando padrões, temas recorrentes e impactos
das experiências educacionais e de trabalho das mulheres;
d) Avaliação do acesso à educação formal, às oportunidades educacionais e suas correlações;
e) Comparação das narrativas e dados para obter uma compreensão abrangente das interações
entre educação e mundo do trabalho nos três países pesquisados;
f) Realização de oficinas de artesanato com as mulheres participantes, articulando a
extensão acadêmica com a pesquisa (auto)biográfica proposta;
g) Implementação e organização um banco de dados das narrativas coletadas;
h) Fotografar e arquivar imagens de objetos e/ou utensílios que possam ser significativos
no trabalho de resgate das memórias coletadas;
i) Realizar e organizar um banco de imagens com as fotografias coletadas;
j) Construção de uma plataforma online da pesquisa, que se constitua em um espaço de
formação e informação sobre artesanato e feminismos.

Indicadores, Metas e Resultados

A relevância do projeto se dá a partir da iniciativa de se ter como objetivo a construção
de uma pedagogia feminista de caráter ibero-americano, na construção de um processo
emancipatório das mulheres. Essa perspectiva coloca em destaque na cena a educação como
ferramenta de libertação das mulheres e incorpora a perspectiva decolonial, articulando os
diversos contextos e culturas, problematizando-os na perspectiva do pensamento decolonial,
situando a historicidade da colonialidade do poder e do saber.
A originalidade da proposta ocorre no sentido de se tratar de uma iniciativa de colaborar
na construção de um campo científico que pensamos estar em processo de construção, que se
refere a pedagogia feminista decolonial ibero-americana. Dessa forma, para além da
contribuição efetiva aos grupos de mulheres participantes dos cinco países envolvidos,
pensamos que a potencialidade de elaboração teórica dessa construção, fortalecendo-se a
perspectiva ibero-americana, é original e singular.
Sabemos que existe uma construção científica no campo da pedagogia popular feminista
latino-americana. No entanto, o Brasil, embora tenha uma grande e consolidada construção no
campo da educação popular, nos parece possuir essa construção ainda de forma um tanto
incipiente, em relação a outros países latino-americanos, como México e Argentina por
exemplo, no que se refere a teoria feminista no campo pedagógico e popular.
Dessa forma, a proposta que apresentamos busca colaborar nessa construção, ampliando foco
para a perspectiva feminista ibero-americana. Pensamos que esse trabalho coletivo torna
mais potente a iniciativa, articulando e incorporando diferentes contextos e experiências
distintas. Apostamos que essa soma de esforços apresenta forte possibilidade de sucesso,
haja vista a possibilidade pedagógica de diálogo e aprendizagens mútuas.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
Lissette Eliana Torres Arévalo
Ana Cristina de Moraes
Carmen Cavaco
Damiana Ballerini
EDLA EGGERT
GRAZIELA RINALDI DA ROSA
MARCIA ALVES DA SILVA3
Maria Guadalupe Huacuz Elías
María Isabel Gutiérrez Chávez
PATRÍCIA MATTEI
RENATA NASINHAKA TEX DE VASCONCELLOS
SILVIA TRISCH DOS SANTOS ACUNHA2

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