Nome do Projeto
Mais Lâminas: Um Manual da Diversidade Morfológica da Fauna Regional
Ênfase
Ensino
Data inicial - Data final
04/06/2025 - 04/06/2029
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Biológicas
Resumo
O projeto visa à criação de um acervo morfológico ilustrado e funcional, composto por lâminas histológicas e registros anatômicos da fauna local de Pelotas e região. A iniciativa visa subsidiar múltiplas frentes de ensino e pesquisa no Instituto de Biologia da UFPel, com ênfase na morfologia funcional e fisiologia comparada, promovendo uma abordagem integrada entre forma, função e contexto ecológico das espécies. O projeto também busca ampliar e diversificar o acervo histológico do Laboratório de Microscopia do Departamento de Morfologia, de forma a atender, de modo mais abrangente, às demandas de disciplinas que envolvam a biologia estrutural e funcional comparada, como anatomia, fisiologia, zoologia, ecologia funcional e ensino de ciências. Atualmente, o acervo encontra-se limitado a representantes de mamíferos, com poucas exceções, o que restringe as possibilidades de análises comparativas e de compreensão das adaptações morfofisiológicas em diferentes táxons. A ampliação do acervo contemplará a inclusão de exemplares de vertebrados e invertebrados, como peixes, anfíbios, répteis, aves, crustáceos, insetos, aracnídeos e moluscos, possibilitando práticas laboratoriais mais ricas e diversificadas. Cada exemplar será processado por meio de técnicas histológicas específicas, variando sua fixação, tempo nos processos de desidratação, diafanização e inclusão, com testes de diferentes colorações, visando à clareza e à didática. Espera-se que essa diversidade fomente o desenvolvimento do raciocínio comparativo e estimule o engajamento de estudantes e docentes em atividades práticas, promovendo uma formação mais crítica e integrada. Como produto final, será elaborado um guia prático e ilustrado de morfologia funcional comparada, que servirá como recurso didático transversal, aplicável a diferentes áreas das ciências biológicas, com ênfase na fauna endêmica do bioma Pampa e ecossistemas costeiros do extremo sul do Brasil. Essa abordagem territorial complementa acervos existentes em outras instituições, que tradicionalmente privilegiam espécies-modelo de distribuição cosmopolita.

Objetivo Geral

Criar um acervo de lâminas histológicas para o Laboratório de Histologia do Departamento de Morfologia da UFPel, com exemplares que representem os diferentes táxons animais, visando subsidiar práticas de ensino e pesquisa que integrem morfologia, fisiologia e evolução, relacionando estrutura e função em diferentes táxons.

Justificativa

A abordagem comparativa entre estrutura e função é fundamental para a construção de uma formação científica crítica, integrada e conectada com a diversidade biológica. Atualmente, na UFPEL, a restrição do acervo a representantes majoritariamente de mamíferos tem sido percebida como um fator limitante na assimilação de conceitos relacionados à morfologia funcional e à fisiologia comparada, impactando a proposta pedagógica de disciplinas que se baseiam na comparação entre diferentes grupos de animais. A análise isolada de tecidos dentro de um único grupo animal tende a restringir a compreensão sobre a variedade de formas, funções e adaptações presentes ao longo da evolução.
Em contrapartida, a comparação entre diferentes sistemas, como o nervoso, sensorial, endócrino, tegumentar, circulatório, respiratório e digestivo, entre distintos grupos taxonômicos, permite identificar estruturas conservadas, modificações funcionais e adaptações morfofisiológicas moldadas por pressões ecológicas e ambientais específicas. Por exemplo, ao comparar o sistema respiratório de um peixe, com brânquias altamente especializadas, ao de anfíbios – que apresentam pulmões simples, mas que realizam respiração cutânea – ou ainda ao sistema altamente eficiente de trocas gasosas das aves, os estudantes conseguem perceber como a estrutura está diretamente relacionada à função, ao ambiente e ao modo de vida de cada grupo. O mesmo raciocínio se aplica ao sistema tegumentar, ao se observar as variações entre escamas, pele glandular, penas, exoesqueletos quitinosos e outras estruturas com funções adaptativas específicas.
Dessa forma, a proposta visa à construção de um acervo diversificado que permita uma análise comparativa abrangente dos principais sistemas biológicos entre os grupos animais de maior relevância nas áreas biológica e veterinária. Isso contribuirá significativamente para o desenvolvimento do raciocínio morfofuncional, da observação crítica e da formação interdisciplinar dos estudantes em suas respectivas áreas de atuação. Além disso, o projeto culminará na produção de um guia ilustrado de morfologia funcional comparada, com o objetivo de consolidar e democratizar o acesso ao conhecimento, tornando-o mais duradouro e acessível às futuras gerações de estudantes em sua trajetória acadêmica.
Este projeto diferencia-se por três eixos inovadores: o enfoque em espécies sub-representadas em acervos nacionais, porém ecologicamente dominantes no bioma Pampa; a integração sistemática entre dados morfológicos e informações ecológicas locais; e a produção de um material didático hierarquizado, que permite comparações em níveis como interfilos, para análise de padrões evolutivos. Esta abordagem multidimensional não foi identificada em manuais convencionais, como Junqueira & Carneiro (2008) ou Kiernan (2015), que focam em descrições taxonômicas isoladas.

Metodologia

O projeto será desenvolvido por meio da colaboração entre docentes do Instituto de Biologia da UFPel e de outras unidades acadêmicas relacionadas à área da Zoologia. As amostras biológicas serão obtidas a partir da substituição de descarte de aulas práticas e projetos de pesquisa que envolvam coleta, eutanásia ou doações provenientes do acervo pessoal de docentes colaboradores. Todos os procedimentos seguirão rigorosamente as normas éticas e regulamentações vigentes para o uso de animais em pesquisa e ensino, com a devida documentação e aprovação dos comitês competentes, quando aplicável.
A preparação histológica seguirá os protocolos estabelecidos pelo Departamento de Morfologia da UFPel. Inicialmente, as amostras serão fixadas em soluções adequadas, como formaldeído a 10%, Solução de Bouin ou outro fixador específico, com o objetivo de preservar a estrutura celular e prevenir a autólise. Após a fixação, será realizada a desidratação progressiva em séries crescentes de álcool (70%, 80%, 90% e 100%), seguida da diafanização em xilol, que torna os tecidos translúcidos e compatíveis com a parafina (Junqueira, 1983).
A inclusão em parafina será realizada com três banhos sucessivos, garantindo a penetração completa do meio de inclusão. As amostras serão, então, emblocadas e seccionadas em micrótomo, em espessuras adequadas (5 ± 0,5 µm), e montadas em lâminas histológicas. A coloração será feita utilizando corantes específicos, conforme a natureza do tecido e o objetivo da análise, priorizando clareza e contraste morfológico. As lâminas serão posteriormente identificadas, catalogadas e armazenadas, conforme os critérios de Behmer (1976).
A etapa final do projeto consiste na elaboração do Manual Morfofuncional da Fauna de Pelotas e Região, que será disponibilizado em formatos impresso e digital. O material incluirá imagens obtidas por microscopia óptica, identificadas até o nível de espécie, com legendas explicativas, comentários morfofuncionais e notas ecológicas relevantes. As análises considerarão a perspectiva funcional das estruturas, enfatizando as adaptações morfológicas ao modo de vida e ao ambiente de cada táxon.
Procedimentos específicos serão adotados conforme o grupo zoológico analisado, recomendando-se testes-piloto com cada novo tipo de material. A padronização será rigorosamente supervisionada pela coordenação e equipe docente, assegurando qualidade e comparabilidade das lâminas, de forma a constituir uma base de dados robusta e confiável.
Os protocolos sugeridos por grupos serão os seguintes:
• Moluscos (Amarilladesma mactroides): fixação em formol tamponado a 10% por 4 horas e coloração com hematoxilina e eosina (HE) (Carvalho, 2015).
• Crustáceos (camarões): fixação em paraformaldeído a 4% por 24 horas e coloração com HE (Nunes, 2011).
• Peixes: fixação em solução de Davidson por 12–24 horas e coloração com HE (Mumford, 2007).
• Aves e morcegos: seguirão protocolo similar ao dos mamíferos, com fixação prolongada da pele (24–48 horas). Utilizar-se-á HE como corante principal e, opcionalmente, Tricrômico de Mallory para análise de músculos e tecido conjuntivo (Maina, 2025).
• Anfíbios: pele com glândulas mucosas fixada em Bouin ou formol tamponado a 10%; coloração com PAS e Azul de Alcian para glândulas dérmicas, e Sudan Black B para glândulas lipídicas dorsais (Junqueira & Carneiro, 2008; Kiernan, 2015).
• Lepidópteros: fixação em Bouin por 24 horas e coloração com HE para avaliação geral (Suludere et al., 2019).
• Aracnídeos: fixação em Bouin por 24–48 horas; coloração com HE para estruturas gerais e Azul de Toluidina a 1% para glândulas de veneno (Palmer et al., 2021).
Todos os grupos seguirão os procedimentos de desidratação, diafanização e inclusão em parafina, com cortes histológicos de 5 µm obtidos em micrótomo. Eventuais modificações nos protocolos poderão ocorrer com base em novos estudos, revisão bibliográfica ou conforme os objetivos específicos de cada análise morfofuncional.
Controle de Qualidade
Cada lâmina produzida será classificada conforme critérios adaptados de Behmer (1976) e Kiernan (2015):
• Grau 1 (Excelente): estruturas celulares completamente preservadas, cortes com 5 ± 0,5 μm, coloração homogênea.
• Grau 2 (Aceitável): presença de pequenos artefatos de processamento ou discreta falha na coloração.
• Grau 3 (Rejeitado): autólise evidente, artefatos intensos ou coloração inadequada.
Apenas lâminas Grau 1 e 2 serão consideradas válidas. Amostras com lâminas Grau 3 deverão ser reprocessadas. Será criado um banco de imagens de referência com base em Junqueira & Carneiro (2008) e demais fontes atualizadas para padronização interobservadora.
Atualização e Gestão do Manual
Será instituída uma Equipe Dinâmica de Atualização do Manual, coordenada por um docente do Departamento de Morfologia, com participação de docentes da equipe, um técnico de laboratório, dois discentes e especialistas convidados conforme a necessidade. As principais atribuições da equipe serão:
• (a) coordenar revisões bienais do manual, incorporando novas espécies e técnicas, com base em feedbacks coletados;
• (b) avaliar e implementar melhorias nos protocolos com base em avanços técnico-científicos;
• (c) manter a versão digital atualizada, com encontros periódicos durante os ciclos de revisão, e emissão de relatórios de progresso para divulgação interna.

Indicadores, Metas e Resultados

INDICADORES DE DESEMPENHO

Número de lâminas histológicas produzidas e catalogadas: Pelo menos 100 lâminas de boa qualidade para cada órgão/sistema/animal representante de cada grupo.

Número de táxons animais representados no novo acervo: Pelo menos oito filos/classes distintas.

Criação e disponibilização de guia didático ilustrado: Pelo menos um guia finalizado e distribuído internamente.

Participação de discentes em atividades práticas com material produzido: Pelo menos duas turmas utilizando as novas lâminas para teste de aproveitamento.

Registro fotográfico/documental das lâminas e dos procedimentos: Pelo menos 100% do material de boa qualidade devidamente registrado.

Integração de docentes/parceiros externos no fornecimento de espécimes: Interação/parceria com ao menos dois docentes/laboratórios.

Apresentação dos resultados do projeto em evento acadêmico: Apresentações anuais da Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE) e demais eventos se possível.

Atualização digital do acervo: Base de dados em planilha com todas as lâminas disponível no Departamento de Morfologia.

Avaliação da Qualidade e Impacto Pedagógico: Feedback positivo de docentes e discentes sobre a melhoria na compreensão das disciplinas contempladas, avaliado por meio de questionários específicos ao final do projeto.

RESULTADOS ESPERADOS

Ao término deste projeto, espera-se a criação de um acervo significativo de lâminas histológicas que ficarão disponíveis no Laboratório de Histologia do Departamento de Morfologia, pertencente ao Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas. Essa criação será voltada para a inclusão de grupos representativos de diversos clados de animais, abrangendo diferentes filos e classes que, até então, não estavam contemplados no atual acervo da instituição.
A diversidade taxonômica a ser incorporada permitirá a construção de um acervo robusto e didaticamente eficiente, capaz de favorecer a análise morfofuncional comparativa entre os diferentes sistemas, como o tegumentar, respiratório, circulatório, digestório, excretor, sensorial e reprodutor, em diferentes contextos evolutivos e ecológicos. Com isso, pretende-se potencializar o ensino e a pesquisa em disciplinas que envolvem a morfologia funcional, a fisiologia animal e a biodiversidade comparada, proporcionando aos discentes uma compreensão mais ampla das variações estruturais entre os táxons e possibilitando o desenvolvimento de habilidades analíticas e pensamento integrativo.
Espera-se, ainda, que a implementação deste projeto contribua para um maior engajamento dos estudantes e docentes nas atividades das aulas práticas de laboratório, promovendo um ambiente de ensino mais integrado entre teoria e prática. O engajamento será monitorado por meio de feedback qualitativo de docentes e discentes, por meio de questionários de satisfação, percepção de melhora na identificação de tecidos, compreensão de conceitos adaptativos e observação da frequência de uso do laboratório. A possibilidade de explorar diferentes estruturas e tecidos de organismos variados durante as aulas práticas deve estimular o interesse, a curiosidade e o raciocínio comparativo dos discentes.
Como produto final, será desenvolvido um material didático complementar, em formato de manual e ilustrado, contendo imagens das lâminas, descrições histológicas, legendas e comentários técnicos sobre as estruturas observadas. Esse guia servirá como recurso transversal para disciplinas relacionadas à morfologia, fisiologia e patologia animal, como anatomia comparada, zoologia, fisiologia e ecologia funcional, ampliando o impacto pedagógico do projeto para diferentes áreas do currículo dos cursos envolvidos.
A estratégia de divulgação operará em três frentes: científica, com a submissão de artigos técnicos sobre os métodos desenvolvidos para periódicos como o Brazilian Journal of Morphological Sciences; educacional, com parcerias para oficinas utilizando as lâminas como recurso; e comunitária, com a produção de uma série de postagens ilustradas para redes sociais, destacando curiosidades sobre as adaptações regionais

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