Nome do Projeto
Pedagogia do Ateliê: a urdidura das experiências estéticas e narrativas de constituição da docência na Educação Infantil
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
05/01/2026 - 20/12/2028
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O Projeto de Pesquisa foi contemplado pelo Edital FAPERGS 06/2025 - Programa Pesquisador Gaúcho. Este projeto de pesquisa inscreve-se no campo da Formação de Professores e tem como preocupação a constituição da docência na Educação Infantil em um cenário sócio-educacional de discrepância entre os discursos contemporâneos sobre educação democrática e participativa e as práticas efetivamente desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil, ainda marcadas por lógicas escolares tradicionais, centradas no controle e na padronização. O projeto tem como objetivo principal analisar os impactos das materialidades e relações próprias da Pedagogia do Ateliê na aprendizagem da docência de professores da infância. A proposta orienta-se pela seguinte problemática: Quais conhecimentos, memórias e práticas estão em (des)construção na formação inicial de professores da infância? De que modo a escuta sensível das necessidades e experiências formativas dos futuros professores da infância pode favorecer a transformação das concepções sobre o ensinar e o aprender com as crianças? Esta pesquisa é de natureza qualitativo-hermenêutica e adota os princípios metodológicos da pesquisa-formação para empreender um movimento de produção de conhecimento assumido como indissociável dos processos de (auto)formação dos sujeitos envolvidos. Trata-se de uma proposta colaborativa, a ser desenvolvida com acadêmicos dos Cursos de Pedagogia da UFPel, tendo como principal estratégia a composição de um ateliê como um lugar-método em que a vida e a prática pedagógica se entrelaçam em processos de escrita, experimentação estética e partilha de experiências. Espera-se que a pesquisa fortaleça uma disposição responsiva sobre a própria formação, na medida em que rememorar, narrar e compreender a própria história redistribui lugares de fala no cotidiano escolar e avança na construção de práticas pedagógicas mais reflexivas, dialógicas e emancipatórias. Além disso, busca-se ampliar a compreensão sobre as materialidades e suas potencialidades estéticas nas práticas participativas com crianças na Educação Infantil, favorecendo a produção de uma documentação pedagógica sensível que torne visíveis os processos de criação e aprendizagem compartilhados.

Objetivo Geral

Analisar os impactos das materialidades e relações próprias da Pedagogia do Ateliê na aprendizagem da docência de professores da infância.

Justificativa

Este projeto de pesquisa inscreve-se no campo da Formação de Professores e dá continuidade às investigações desenvolvidas no âmbito do Grupo de Pesquisa Laboratório de Formação e Reconhecimento das Infâncias (Labforma/CNPq) por uma equipe consolidada de docentes e discentes vinculados a programas de pós-graduação stricto sensu da UFPel, UNILASALLE e UNIPAMPA. As pesquisas que compõem esse coletivo têm se dedicado à compreensão dos processos de constituição da docência na Educação Infantil e à problematização das práticas formativas no campo da Pedagogia. De caráter interdisciplinar, esta proposta articula contribuições da Filosofia da Educação, da Pedagogia e das pesquisas (auto)biográficas, com o propósito de produzir conhecimento sobre a formação e a constituição da docência para a Primeira Infância no curso de Pedagogia, ampliando o diálogo entre experiência, narrativa e materialidades pedagógicas.
Nas últimas décadas, o espaço na Educação Infantil tem assumido papel central como dimensão constitutiva dos processos educativos. A abordagem pedagógica de Reggio Emilia, inspirada nos estudos de Loris Malaguzzi, consolidou a compreensão do espaço como o “terceiro educador” (Gandini et al., 2019), capaz de comunicar valores, favorecer relações e provocar aprendizagens. Nessa perspectiva, o Ateliê surge como lugar simbólico e concreto de experimentação e pensamento, onde múltiplas linguagens se encontram e dialogam. Hoyuelos (2020) observa que, para Malaguzzi, o Ateliê na universidade é também um espaço de resistência — um contraponto à escolarização precoce que privilegia a escrita e a matemática em detrimento das linguagens expressivas, estéticas e sensíveis. É nesse movimento de resistência e reinvenção que se inscreve a Pedagogia do Ateliê, concebida como movimento insurgente de criação pedagógica: um território de pesquisa e criação que convida a observar, perguntar, imaginar, formular estratégias e tomar decisões, produzindo sentido e conhecimento de modo colaborativo e poético.
No entanto, no contexto brasileiro, ainda predominam nas escolas de Educação Infantil ambientes organizados de forma normatizada e pouco responsiva às linguagens da infância. Tais espaços reforçam uma visão adultocêntrica do tempo e do aprender, pautada por lógicas de controle, homogeneização e padronização das práticas pedagógicas. Essa configuração impacta diretamente a formação inicial e continuada das professoras da infância, que, em muitos casos, não reconhecem o espaço como elemento pedagógico e formativo. A ausência dessa compreensão empobrece o potencial do ambiente como mediador ético, estético e epistêmico, limitando a experiência educativa de crianças e adultos.
Nesse horizonte, Vecchi (2017) descreve a Pedagogia do Ateliê como um gesto de transgressão e de reinvenção das formas tradicionais de ensinar e aprender. O Ateliê, entendido como tempo e espaço de pesquisa, abriga experiências com múltiplas linguagens, materiais não estruturados e tempos não lineares — um campo fértil para a exploração, a surpresa e a autoria. As práticas e pesquisas associadas ao Ateliê não seguem um método único; ao contrário, constroem condições para uma investigação compartilhada entre crianças e adultos, valorizando a curiosidade, o diálogo e a experimentação. Em sintonia com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 — Educação de qualidade, proposto pela ONU, a Pedagogia do Ateliê alinha-se à defesa de uma educação em ambientes seguros, inclusivos, colaborativos e esteticamente significativos. Essa concepção inspira o presente projeto, que busca articular, na formação inicial de professores, trilhas formativas ancoradas na biografização, na experiência estética e na documentação pedagógica.
No município de Pelotas, onde a pesquisa será desenvolvida, observa-se a ausência da Pedagogia do Ateliê nas escolas, bem como de práticas inspiradas em seus princípios. Trata-se de uma cidade com forte caráter universitário, abrigando três universidades e diversas faculdades que formam, anualmente, um número expressivo de professores, o que poderia favorecer um debate mais consistente sobre as pedagogias da infância e, em especial, as peculiaridades que concernem à docência na Educação Infantil. No entanto, mesmo com algumas inserções pontuais – geralmente resultantes de iniciativas individuais de determinados professores –, as 33 Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) da cidade permanecem praticamente alheias a essa proposta pedagógica, não a incorporando de modo sistemático em suas práticas, mesmo acolhendo estagiárias de Pedagogia e projetos de extensão sustentados nestas abordagens. Atribui-se esse pouco contato com a Pedagogia do Ateliê à falta de iniciativas institucionais que, assumindo um compromisso com a primeira infância, investissem na formação de professores a partir dos princípios éticos, estéticos e políticos que são próprios da Educação Infantil. Nos últimos anos, ocorreram ações formativas esparsas na rede municipal de educação (por exemplo, encontros do Programa de Atenção Precoce na Infância-PROAPI para professoras das EMEIS, curso de formação de gestores, iniciativas como formação em empreendedorismo e impacto social para docentes), mas ainda sem uma política continuada que integre a qualificação dos espaços como dimensão curricular na Educação Infantil. Ao mesmo tempo, observa-se que as políticas locais têm priorizado a ampliação de vagas e gestão de matrículas, tema recorrente nas comunicações oficiais, mas pouco têm considerado o debate sobre ambientes estético-participativos para as crianças.
Um mapeamento realizado por pesquisadores do grupo de pesquisa em cidades da região Sul do Rio Grande do Sul identificou que o município de Pelotas ainda não conseguiu consolidar práticas de pedagogias participativas, em contraste com outras cidades próximas, como Rio Grande, Cristal, Camaquã e região metropolitana, incluindo Porto Alegre. Esse dado evidencia um cenário preocupante, pois mostra a distância entre os discursos contemporâneos sobre educação democrática e participativa e as práticas efetivamente desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil. Tal discrepância aponta para uma ruptura entre as teorias que defendem o protagonismo e a escuta das crianças e a realidade de contextos educativos ainda fortemente marcados por lógicas escolares tradicionais, centradas no controle e na padronização. Conforme já apontado pelas pesquisas de Goodson (2022, p. 18), o crescente “controle político e administrativo sobre os professores” diminui sensivelmente o poder e a visibilidade destes profissionais. Frente a esse cenário, ouvir o que dizem os sujeitos da educação torna-se um gesto de resistência e de justiça, pois implica reconhecer o caráter relacional do ensinar e a importância das trajetórias pessoais na constituição docente. Afinal, como afirma o autor, “a formação e as experiências de vida obviamente são ingredientes fundamentais da pessoa que somos, do nosso sentido de individualidade” (Goodson, 2022, p. 33).
Diante desse quadro, o presente projeto ancora-se nos princípios da pesquisa (auto)biográfica e nas potencialidades da pesquisa-formação (Josso, 2007), compreendida como trabalho de transformação de si por meio da narração das histórias de vida, articulando produção de conhecimento e formação docente. Nessa perspectiva, mobilizam-se ferramentas estéticas e narrativas capazes de acompanhar, problematizar e avaliar os processos de constituição da docência. O sujeito é portador de uma biografia e, os meios pelo qual ele processa teoricamente o vivido, afetam diretamente seu processo de identificação, levando a mudanças nas estruturas processuais do seu curso de vida (Schütze, 2022) e refletindo na sua formação e no exercício de sua docência. Assim, considerando que as estruturas processuais se dão nestes processamentos, interpretações e, consequentemente, modificações do seus modos de ser e estar no mundo, se alocando como combinações sistemáticas que, “[...] enquanto tipos de destinos pessoais possuem relevância social” (Ibidem, 2022, p. 210), o espaço-tempo do ateliê biográfico supre uma lacuna da formação humana, enquanto fortalece a formação profissional – com as necessárias ressalvas sobre a indissociabilidade dessas formações. Uma vez que a docência é constituída por distintas camadas em que o eu pessoal é indissociável do eu profissional, o projeto implica diretamente na construção identitária do ser e do sentir-se professor marcados por práticas, experiências, continuidades e descontinuidades (Abrahão, 2007). A proposta busca não apenas compreender a produção da docência na Educação Infantil, mas também intervir – por meio do próprio instrumento narrativo – no campo formativo, tensionando concepções cristalizadas sobre cuidar, educar e brincar de/com crianças.
O caráter inovador e inédito da investigação nesta região pode vir a impactar significativamente tanto no campo científico, quanto no social. Cientificamente, ao articular pedagogias da infância, pesquisa-formação e práticas narrativas, o estudo contribuirá para o avanço do debate acadêmico sobre docência na Educação Infantil e sobre metodologias participativas na pesquisa em educação. Nesse horizonte, trata-se de um percurso hermenêutico que mobiliza processos pelos quais os sujeitos narram suas vidas, compreendem-se na história, refiguram experiências e atribuem sentido ao fazer docente (Almeida, 2023, p. 149). Socialmente, a pesquisa poderá constituir-se em um marco na região, ao acompanhar a formação inicial de futuros professores e criar um espaço imagético-discursivo propício à emergência de novas compreensões sobre a docência e sobre a organização das escolas de Educação Infantil. Tal movimento tem potencial para repercutir diretamente na qualificação das práticas pedagógicas e, consequentemente, na qualidade das experiências educativas vividas pelas crianças.

Metodologia

Esta pesquisa é de natureza qualitativo-hermenêutica e adota os princípios metodológicos da pesquisa-formação para empreender um movimento de produção de conhecimento assumido como indissociável dos processos de (auto)formação dos sujeitos envolvidos. Trata-se de uma proposta colaborativa, que será desenvolvida com acadêmicos dos Cursos de Pedagogia da UFPel, com o propósito de promover a formação conjunta dos participantes.
O recrutamento dos participantes será realizado entre os acadêmicos regularmente matriculados do 2º ao 6º semestre do Curso de Pedagogia da UFPel. Todos os estudantes receberão, por e-mail institucional, um convite para participar do projeto de pesquisa “Pedagogia do Ateliê”. A mensagem conterá informações gerais sobre a pesquisa, incluindo seus objetivos, período de realização, local, horários e duração dos encontros formativos a serem realizados no Ateliê. Aos estudantes que confirmarem por email a participação será agendado um primeiro encontro informativo e de tira-dúvidas. Nesse momento, será solicitado que leiam e assinem o TCLE e o Termo de Autorização de uso de imagem e som.
O principal dispositivo metodológico será o Ateliê Biografização, espaço físico estruturado como ambiente de criação, reflexão e documentação. A pesquisa que será desenvolvida neste espaço, ocorrerá a partir de três tipos de ateliês, cada qual com foco narrativo próprio:
1. Ateliês de Biografização – centrados na elaboração de narrativas e experiências autobiográficas;
2. Ateliês de Estetificação – dedicados à exploração de materialidades, linguagens expressivas e experiências estéticas;
3. Ateliês de Documentação – orientados à retomada, análise e organização dos registros produzidos.
Serão realizados três ciclos completos do Ateliê Biografização (2027/1, 2027/2 e 2028/1). Cada ciclo contará com seis encontros, sendo dois destinados a cada tipo de ateliê, com intervalo aproximado de duas semanas entre as sessões. Cada ateliê terá participação de até 15 acadêmicos, número que favorece o acompanhamento individual e a construção compartilhada das experiências.
Em cada sessão, serão observados os seis momentos dos ateliês biográficos do projeto, conforme delineados por Delory-Momberger (2006). 1º momento: informações sobre objetivos e dispositivos da experiencialidade do ateliê; 2º momento: elaboração, negociação e ratificação coletiva do contrato biográfico; 3º momento: realização da proposta-chave; 4º momento: narratividade da experiencialidade; 5º momento: socialização da narrativa autobiográfica; 6º momento: síntese: expressão do sentido da experiência em curso.
Em cada sessão, as participantes serão convidadas a mobilizar memórias, episódios significativos, narrativas orais e escritas, bem como a criar composições com materiais e imagens que expressem sentidos formativos de suas trajetórias pessoais e profissionais. O espaço do ateliê funcionará como ambiente de comunicação, escuta, produção sensível e construção coletiva de significados.
Todas as sessões serão acompanhadas por pesquisadores da equipe, que realizarão filmagens, fotografias e anotações de campo. Esses registros documentarão interações verbais e não verbais; produções materiais (desenhos, objetos, artefatos, instalações); narrativas orais e escritas das participantes; dinâmicas individuais e grupais ao longo dos ateliês. Os pesquisadores também manterão diários de bordo, registrando decisões metodológicas, percepções e acontecimentos relevantes para a interpretação dos dados.

Indicadores, Metas e Resultados

1. Promoção da cooperação entre grupos de pesquisa dedicados à investigação sobre as trajetórias de vida e trabalho docente;
A. Articulação dos estudos e práticas formativas que são desenvolvidos pelos pesquisadores em nível de graduação e pós-graduação;
B. Levantamento de leituras e materiais instrucionais acerca do Ateliê biográfico de projeto e Pedagogia do Ateliê;
C. Convite e seleção dos participantes da pesquisa-formação;
D. Realização de três seminários acadêmicos para a socialização e divulgação dos dados do projeto à comunidade acadêmica e escolar atingida pela investigação;
E. Realização de duas disciplinas centradas na discussão sobre o desenvolvimento pessoal e profissional docente na atualidade, cadastradas nos programas de pós-graduação aos quais pertencem os pesquisadores do projeto.

2. Criação e manutenção do espaço do ateliê para as práticas de experimentação estética, planejamento e reflexão docente;
A. Organização de uma sala na UFPel, de acesso público, com materiais e materialidades próprios de pedagogias participativas para a ambiência e mobilização das práticas de biografização;
B. Construção de uma coleção de jogos e aportes paradidáticos para dinamizar a produção de narrativas (auto)biográficas no ateliê;
C. Realização de Ateliês de Biografização, Ateliês de Estetificação, Ateliês de Documentação;
D. Implementação de práticas sistemáticas de documentação pedagógica colaborativa no curso de Pedagogia;
E. Elaboração de um perfil narrativo-formativo das trajetórias de vida dos futuros professores da infância, compreendendo a tessitura entre história pessoal, experiências educativas e processos de (auto)formação que dão sentido à constituição da docência;
F. Prospecção de projetos colaborativos de ressignificação de espaços em escolas infantis parceiras.

3. Organização de materiais de divulgação científica e formativa
A. Publicação dos documentos narrativos produzidos e/ou recolhidos ao longo da investigação em 2 livros-memória;
B. Elaboração de 3 artigos em parceria entre os pesquisadores da equipe proponente com os resultados da pesquisa;
C. Orientação de 1 pesquisa de tese e 2 pesquisas de dissertação relacionadas a esta proposta;
D. Participação em eventos acadêmicos e encontros de formação docente para socialização dos resultados;
E. Elaboração do relatório parcial e final da pesquisa.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ALESSANDRA LONDERO ALMEIDA
ANDRISA KEMEL ZANELLA2
ELISA DOS SANTOS VANTI4
ERIKA LEITE CARDOSO
FABIANE E SILVA DA SILVA
HELBIA REIS FERNANDES
JULIANA MARQUES DE FARIAS
LAÍS DA ROSA PEDROZO
MAIANE LIANA HATSCHBACH OURIQUE6
MOGAR DAMASCENO MIRANDA
RAFAELA LEMOS DA LUZ FURTADO
TAIANI RODRIGUES CORRÊA
TAMARA INSAURIAGA BUENO

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
FAPERGS / Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado Rio Grande do SulR$ 60.000,00Coordenador

Plano de Aplicação de Despesas

DescriçãoValor
339033 - Passagens de Despesas de LocomoçãoR$ 4.000,00
339030 - Material de ConsumoR$ 1.150,00
339014 - Diária Pessoa CivilR$ 8.500,00
339004 - Contratação por Tempo DeterminadoR$ 17.000,00
449052 - Equipamentos e Material PermanenteR$ 29.350,00

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