Nome do Projeto
Implementação das orientações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira em escolas de Pelotas, RS
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
17/01/2022 - 31/08/2023
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Resumo
Nos últimos anos tem sem observado um aumento acentuado da obesidade, principalmente em crianças e adolescentes. Tal aumento tem sido ligado ao consumo de alimentos ultraprocessados, que são densamente energéticos e apresentam alta quantidade de açúcar, gorduras saturadas e sódio. O último guia alimentar para a população brasileira, lançado em 2014 pelo Ministério da Saúde, recomenda a adoção de dez passos para uma alimentação saudável, dando ênfase a uma dieta baseada em alimentos in natura e minimamente processados, evitando-se alimentos processados e ultraprocessados. Apesar de amplamente disseminado no meio acadêmico, o guia e suas recomendações ainda são pouco conhecidos fora do contexto universitário. Crianças e adolescentes são o grupo etário mais expostos ao consumo exacerbado de alimentos ultraprocessados, por conta da exposição aos comerciais contendo esse tipo de produto. Sendo assim, a implementação e disseminação das recomendações sobre modos de alimentação saudável contidas no guia alimentar para a população brasileira no ambiente escolar é de fundamental importância para estimular a autonomia dos estudantes nas escolhas alimentares e, assim, diminuir o consumo de ultraprocessados nesse grupo etário. Sendo assim, esse trabalho terá como objetivo implementar orientações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira na rotina de escolas da rede municipal de Pelotas, Rio Grande do Sul.

Objetivo Geral

Implementar orientações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira na rotina de escolas municipais de Pelotas, a fim de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e, assim, prevenir o sobrepeso e a obesidade.

Justificativa

A prevalência obesidade têm aumentado aceleradamente, tornando essa condição um dos principais problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, até o ano de 2022, cerca de 25% da população adulta brasileira estará obesa, enquanto o excesso de peso poderá atingir mais de 60% dos indivíduos maiores de 18 anos (1). Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) de 2016, nos últimos dez anos, os casos de obesidade duplicaram no Brasil, com frequência semelhante entre os sexos (1,2). Em crianças e adolescentes o quadro é semelhante: nas últimas décadas houve um aumento vertiginoso na prevalência de obesidade nos grupos etários mais jovens no Brasil e no mundo (3–5).
A obesidade é uma doença multifatorial que se desenvolve por interação de fatores sociais, comportamentais, culturais, fisiológicos, metabólicos e genéticos. A alimentação, juntamente com a inatividade física, é talvez o determinante mais importante do sobrepeso e da obesidade, visto que o consumo calórico excessivo é responsável direto pelo acúmulo de tecido adiposo no organismo (6).
Dada a importância da alimentação no contexto do sobrepeso e da obesidade, uma nova classificação dos alimentos, baseada em seu grau de processamento, foi proposta recentemente por Monteiro et al., (7). Nessa classificação, adotada pela versão mais recente do Guia Alimentar para a População Brasileira, os alimentos são classificados em in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. Alguns fatores, como preços reduzidos, praticidade e publicidade têm levado ao aumento acelerado do consumo de alimentos ultraprocessados em todas as faixas etárias (8,9).
Por apresentarem maior densidade energética, juntamente com elevado percentual de açúcar, gorduras saturadas e sódio (7), o consumo de alimentos ultraprocessados tem sido associado à maiores prevalências de obesidade (10,11). Alguns estudos recentes têm mostrado que a grande disponibilidade de alimentos ultraprocessados pode ser um fator contribuinte para seu alto consumo, com consequente aumento nas prevalências de excesso de peso e obesidade (12–14).
Lançado em 2014, o Guia Alimentar para a População Brasileira visa a promoção de uma alimentação adequada e saudável a partir, entre outras coisas, da criação de ambientes saudáveis e do desenvolvimento de habilidades pessoais para tal (15). Apesar de amplamente disseminado no meio acadêmico, principalmente nos cursos de graduação em Nutrição, o Guia Alimentar para a População Brasileira ainda é pouco conhecido fora do contexto universitário. Um estudo conduzido na cidade de Itaqui, Rio Grande do Sul (RS), está mostrando que mesmo profissionais das Unidades de Saúde da Família do município têm pouco conhecimento acerca das recomendações contidas no Guia (dados ainda não publicados).
Como crianças e adolescentes são o grupo etário mais vulnerável à publicidade de alimentos, cuja presença predominante é de alimentos ultraprocessados (16), a implementação e disseminação das recomendações sobre modos de alimentação e nutrição saudável contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira no ambiente escolar é de fundamental importância para estimular a autonomia dos estudantes nas escolhas alimentares, visando a diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados, prevenindo e combatendo a obesidade.
Por fim, o trabalho desenvolvido no ambiente escolar também será de extrema importância para aumentar a interação comunidade-Universidade, auxiliando a faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas a desenvolver pesquisas científicas de qualidade e alto impacto, visando benefícios à saúde da população da cidade de Pelotas e região.

Metodologia

Delineamento: Estudo de intervenção, longitudinal a ser realizado utilizando conceitos gerais da ciência da implementação. Ciência da implementação é o estudo científico de métodos que promovem a captação e implementação sistemática de achados científicos e outras evidências na prática clínica e de saúde pública (17).
O presente estudo será realizado nas escolas da rede municipal da cidade de Pelotas, RS. Pelotas está situada na zona sul do RS e, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possuía cerca de 345 mil habitantes no ano de 2021 (cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/pelotas/panorama). O município possui área territorial de 1610 km2, sua economia é baseada no comércio, turismo e agronegócio. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita do município no ano de 2019 foi de pouco mais de 25 mil reais.
De acordo com informações do censo escolar, Pelotas possui 129 escolas de ensino fundamental, sendo que 95 delas possuem os anos finais do ensino fundamental. Destas 95 escolas, 80 fazem parte da rede pública (44 municipais e 36 estaduais) e 15 são privadas. Ainda de acordo com o censo escolar, em 2019 havia 3703 estudantes matriculados em turmas do 9° ano do ensino fundamental em Pelotas, sendo 1468 na rede municipal.
O presente estudo será realizado em turmas do 9° ano de 10 escolas da rede municipal da zona urbana. A seleção das escolas será feita com base no censo de base escolar, realizado com estudantes matriculados no 9° do ensino fundamental das escolas municipais da zona urbana de Pelotas e vinculadas ao Programa Saúde na Escola (PSE). As 10 escolas que apresentaram maior prevalência de consumo regular de ultraprocessados no referido censo serão selecionadas para fazer parte do presente projeto. Assim, cinco escolas serão alocadas aleatoriamente para receberem capacitações sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira e as outras cinco servirão como controle.
Todos os estudantes matriculados nas turmas do 9° ano do ensino fundamental das escolas participantes da pesquisa serão convidados a participar do estudo. Sendo assim, considerando uma distribuição equânime das matrículas no 9° ano do ensino fundamental, estima-se um tamanho de amostra de 335 estudantes que participarão das entrevistas do baseline e do follow-up do estudo. Já em relação às capacitações, que ocorrerão em metade das escolas a partir de alocação aleatória, estima-se a participação de 168 crianças nas cinco instituições selecionadas.

Equipe e treinamento: A coleta dos dados será realizada por acadêmicos da Faculdade de Nutrição da UFPel, previamente treinados antes da coleta das informações e com esquema vacinal completo para o vírus SARS-CoV-2. O treinamento da equipe e a coleta dos dados ocorrerá no período de janeiro e fevereiro de 2022 e abordará, entre outros assuntos, as informações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira. Todas as entrevistas ocorrerão nas próprias escolas selecionadas para o estudo e seguirão os protocolos sanitários estaduais e municipais em vigência.
Os acadêmicos selecionados para participar do projeto serão responsáveis, junto com os coordenadores, por realizar as capacitações com estudantes matriculados no 9° ano do ensino fundamental das escolas alocadas aleatoriamente para receber tais capacitações. As capacitações serão realizadas individualmente em cada escola e serão divididas em seis partes: 1) Princípios do Guia Alimentar; 2) Classificação dos alimentos; 3) Passos 1 a 4 do Guia Alimentar; 4) Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; 5) Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia; 6) Principais obstáculos para uma alimentação saudável e como superá-los. Ademais, nas capacitações em questão, os estudantes também serão habilitados a classificar adequadamente os alimentos de acordo com o seu grau de processamento, identificando alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados (15).

Medidas do baseline: Antes das capacitações nas escolas selecionadas, será avaliado o conhecimento dos estudantes matriculados no 9° ano das dez escolas municipais selecionadas para o estudo a respeito dos dez passos para uma alimentação saudável contidos no Guia Alimentar para a População Brasileira e sobre a classificação dos alimentos com base em seu grau de processamento. Nessa ocasião, também serão avaliados o consumo alimentar e as medidas de adiposidade dos estudantes entrevistados.
O conhecimento dos estudantes a respeito das recomendações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira será avaliado a partir de um questionário estruturado visando captar a habilidade deles em classificar determinados itens alimentares previamente identificados como sendo in natura, minimamente processados, processados ou ultraprocessados, bem como sobre os dez passos para uma alimentação saudável.
O consumo alimentar será avaliado a partir de um questionário de frequência alimentar (QFA) contendo 30 itens alimentares e oito opções de resposta correspondente a frequência de consumo semanal. O QFA a ser utilizado já foi previamente utilizado em uma pesquisa que avaliou o consumo alimentar de estudantes da cidade de Itaqui, RS. O objetivo da avaliação do consumo alimentar será verificar a frequência de consumo semanal de alimentos processados e ultraprocessados.
A adiposidade geral será avaliada a partir do índice de massa corporal (IMC). O IMC será calculado dividindo-se o peso (Kg) pela estatura (m2). O peso será coletado utilizando-se balança digital e portátil, com capacidade máxima de 150 Kg, com o estudante sem calçados e utilizando roupas leves. Já a estatura será coletada utilizando-se estadiômetro portátil, com capacidade máxima de dois metros e precisão de 1 mm, com o estudante em posição ereta, com a cabeça posicionada no plano de Frankfurt, com os braços estendidos junto ao corpo e descalço. Os estudantes terão seu estado nutricional classificado de acordo com as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo considerados com sobrepeso aqueles estudantes com IMC-para-idade entre >+1 e ≤+2 desvios-padrão, e com obesidade aqueles estudantes com IMC-para-idade >+2 desvios-padrão (18). A adiposidade central será avaliada por meio da circunferência da cintura, medida no ponto mais estreito entre a última costela e a crista ilíaca, utilizando fita métrica inelástica, como capacidade de 150 cm e precisão de 1 mm.
Além das medidas supracitadas, também serão coletadas informações socioeconômicas e demográficas dos estudantes avaliados, como nível socioeconômico, cor da pele, escolaridade dos pais, entre outros, a fim de serem utilizadas como potenciais fatores de confusão nas análises estatísticas. Todas as informações acima mencionadas serão coletadas por entrevistadores previamente treinados para tal.

Medidas do follow-up: Ao final da intervenção, quando as capacitações nas escolas tiverem sido concluídas, o conhecimento dos estudantes a respeito das recomendações contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira, o consumo alimentar e as medidas de adiposidade geral e central serão reavaliados em todas as escolas utilizando-se os mesmos instrumentos.

Análises estatísticas: Inicialmente serão realizadas análises descritivas das variáveis de interesse, apontadas nos objetivos. As variáveis categóricas serão descritas por tabelas e gráficos. As variáveis contínuas serão analisadas com o cálculo de médias, medianas, desvios­padrão e percentis.
O sucesso da intervenção proposta será avaliado a partir dos critérios de Glasgow para ciência da implementação (REAIM - Reach, Effectiveness, Adoption, Implementation and Maintenance) (19). Serão analisados quatro dos cinco critérios, a saber: o alcance (Reach) será medido a partir do percentual de alunos participantes em todas as etapas do treinamento sobre o Guia. A efetividade (Effectiveness) será verificada através da diminuição ou não do consumo de alimentos ultraprocessados, bem como na diminuição ou manutenção das medidas de adiposidade dos escolares das escolas que participarem da intervenção. A adoção e a implementação (Adoption e Implementation) serão avaliadas a partir do aumento ou não do conhecimento dos estudantes a respeito da classificação dos alimentos e das recomendações contidas no Guia. As medidas em questão serão comparadas com as informações do baseline, bem como com as escolas que não sofrerem intervenção.
É importante ressaltar que caso seja detectado que a intervenção realizada foi capaz de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e/ou as medidas de adiposidade dos adolescentes, independente dos potenciais fatores de confusão incluídos nas análises, as capacitações serão replicadas naquelas escolas que não foram selecionadas para receber a intervenção no baseline.
Os resultados gerais do presente estudo serão apresentados à Secretaria Municipal de Educação de Pelotas e à direção de todas as escolas envolvidas no estudo, no intuito de avaliar as capacitações e promover a realização nas demais escolas da rede municipal do município, em parceria com a UFPel. Os resultados gerais também serão apresentados aos pais ou responsáveis em reunião nas próprias escolas, onde serão conversadas estratégias de curto, médio e longo prazos para abordar a realidade observada.

Indicadores, Metas e Resultados

- Capacitações baseadas nas orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira irão aumentar o conhecimento dos estudantes sobre os dez passos para uma alimentação saudável contidos no Guia.

- Capacitações baseadas nas orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira irão aumentar o conhecimento dos estudantes sobre a classificação dos alimentos com base em seu grau de processamento, identificando corretamente alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados.

- Capacitações baseadas nas orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira serão capazes de fazer com que os estudantes diminuam o consumo de alimentos processados e ultraprocessados.

- Diminuição no consumo de alimentos processados e ultraprocessados acarretará diminuição ou manutenção das medidas de adiposidade geral e central nos estudantes analisados.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ADRIANE KERN VILKE
ALESSANDRA PEGORARO SCHIAVON
ANTONIO ORLANDO FARIAS MARTINS FILHO
BRUNA DO NASCIMENTO BASSI
BRUNA MADRUGA DE OLIVEIRA
CAMILA LAPISCHIES MOREIRA
CAROLINE RAPHAELLI DE MEDEIROS
CECILIA GONZALEZ SARAVIA
CRISTINA CORREA KAUFMANN6
GICELE COSTA MINTEM6
JORDANA MÜLLER GUIMARÃES
JULIA MADEIRA SOARES
JÉSSICA CAROLLINA VON SCHUSTERSCHITZ SOARES SCHIATTI
JÚLIA PORTO HEPP
JÚLIA SOARES RIBEIRO CORRÊA
KARINA DOS SANTOS ALVES
KAROLINE PORCIUNCULA DA SILVA
LARISSA MENEZES DA SILVEIRA
LAUÊNI LESSA DA LUZ
LEONARDO FERREIRA DO CARMO
LEONARDO POZZA DOS SANTOS17
LUDMILA CORREA MUNIZ6
MANUELLA SILVEIRA DE JESUS
MARIANA CORREIA DUARTE
MARIANA DE QUADROS MARCOS
MARINA BERNEIRA DA SILVA
PAOLA GIMENES CASSANA
ROSANILDE MARIA DE ALMEIDA
SHARA PEREIRA SODRE
TAINARA RADTKE DOS SANTOS
YASMIN VAN DER LAAN DOS SANTOS
ÉLEN NICOLI KONRADO KRÜGER

Fontes Financiadoras

Sigla / NomeValorAdministrador
FAPERGS / Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado Rio Grande do SulR$ 13.840,00Coordenador

Plano de Aplicação de Despesas

DescriçãoValor
339033 - Passagens de Despesas de LocomoçãoR$ 1.750,00
339030 - Material de ConsumoR$ 4.250,00
339014 - Diária Pessoa CivilR$ 940,00
449052 - Equipamentos e Material PermanenteR$ 6.250,00
339039 - Outros Serviços de Terceiro - Pessoa JurídicaR$ 650,00

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