Nome do Projeto
DIZ AÍ: CONVERSANDO SOBRE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Ênfase
Extensão
Data inicial - Data final
14/08/2017 - 17/05/2020
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências da Saúde
Eixo Temático (Principal - Afim)
Saúde / Saúde
Linha de Extensão
Saúde humana
Resumo
O presente projeto integra uma das ações do Núcleo de Estudos É’LÉÉKO do curso de Psicologia da UFPel e será realizado em parceria com a Clínica Psicológica do curso. Tem como objetivo construir um espaço coletivo de escuta terapêutica, diálogo e empoderamento para pessoas cujo sofrimento psíquico está transversalizado por violências produzidas pelo racismo, sexismo, homofobia e transfobia. O projeto está organizado em duas etapas: a primeira consiste no levantamento do referencial teórico dos estudos decoloniais e no aprofundamento sobre conceitos como colonialismo, colonialidade do poder, do ser e do gênero; a segunda trata da realização de entrevistas iniciais com pessoas em sofrimento psíquico e formação de um grupo terapêutico para seu atendimento. Ele tem como princípio a interseccionalidade entre raça, gênero e sexualidade, de modo que um dos principais motes de discussão do grupo terapêutico serão as diferentes violências que se entrelaçam no cotidiano das relações sociais e interpessoais, tornando-se, às vezes, imperceptíveis por estarem naturalizadas e terem sido transformadas em hábitos legitimados na sociedade. Os relatos particulares e o diálogo coletivo terão a potência de visibilizarem a colonialidade do poder, do ser e do gênero na produção de subjetividades subalternas que mantém viva a não existência desses sujeitos no seio social.

Objetivo Geral

Construir um espaço coletivo de escuta terapêutica, diálogo e empoderamento para pessoas cujo sofrimento psíquico está transversalizado por violências produzidas pelo racismo, sexismo, homofobia e transfobia.

Justificativa

O presente projeto integra uma das ações do Núcleo de Estudos É’LÉÉKO do curso de Psicologia da UFPel e será realizado em parceria a Clínica Psicológica do curso. O É’LÉÉKO propõe-se a construção de uma Clínica Política Decolonial a partir de estudos e intervenções sobre sofrimento psíquico e subjetividades subalternas.
A psicologia enquanto ciência da modernidade está mergulhada nos propósitos de controle e domínio colonial, a partir de suas teorias, métodos experimentais e modelos de análises quantitativas que deram sustentabilidade a reivindicação do status de cientificidade. Ou seja, a psicologia se constituiu enquanto disciplina da norma, como refere Foucault (1999), reafirmando a existência de uma humanidade universal.
Essa universalização da humanidade e, consequentemente, homogeneização no modo de compreender o mundo leva-nos à negação do que Santos (2010a, p. 543) chama de “diversidade epistemológica do mundo”, e ao “fascismo epistemológico”. O autor salienta que o “fascismo epistemológico existe sob a forma de epistemicídio, cuja versão mais violenta foi a conversão forçada e a supressão dos conhecimentos não ocidentais levados a cabo pelo colonialismo europeu” (p.544), invisibilizando, portanto, modos de ser, estar e observar o mundo.
A “universalidade abstrata” da humanidade (DUSSEL, 2007, p. 76), nega a existência de qualquer outra expressão do humano, de modo que a visibilidade do que é discutido na ótica dos direitos humanos está assentada na abstrabilidade e invisibilidade de algumas humanidades. Afinal, na humanidade abstrata e invisível, “não há conhecimento real, existem crenças, opiniões, magia, idolatria, entendimentos intuitivos ou subjetivos, que, na melhor das hipóteses, podem tornar-se objetos ou matéria-prima para a inquirição científica” (SANTOS, 2010b, p. 34).
Santos (2010b, p. 39) afirma que “a negação de uma parte da humanidade é sacrificial, na medida em que constitui a condição para a outra parte da humanidade se afirmar enquanto universal”, ou seja, como a única humanidade real e detentora das próprias prerrogativas existenciais. Para Nobles (2009, p. 281) o grande infortúnio vivido pelos africanos, por exemplo, a partir da colonização europeia está expresso na negação da humanidade africana, “acompanhada do desprezo e do desrespeito, coletivos e contínuos, ao seu direito de existir”.
Trata-se de humanidades de concessão e subjetividades subalternas orquestradas pelo colonialismo e atualizadas pela colonialidade do poder, do ser e do gênero. Conforme Fanon (2005, p.288), o colonialismo “é uma negação sistematizada do outro, uma decisão obstinada de recusar ao outro todo atributo de humanidade” e, deste modo, “obriga o povo dominado a perguntar-se constantemente: ‘Quem sou eu, na verdade?’”.
A colonialidade do poder é um dos elementos constitutivos de um padrão mundial eurocêntrico, que consolida uma “concepção de humanidade segundo a qual a população do mundo diferencia-se em inferiores e superiores, irracionais e racionais, primitivos e civilizados, tradicionais e modernos” (QUIJANO, 2010). Um exemplo de colonialidade do poder é o racismo institucional que “penetra, participa e se naturaliza na cultura da organização/instituição como um elemento estruturante das relações entre pessoas e instituição”, fazendo com que o trabalhador contribua com “a manutenção da colonialidade na esfera pública” (ALVES, JESUS & SCHOLZ, 2015, p.870).
A humanidade de concessão se expressa na negação de direitos de grupos subalternizados, cujo olhar preconceituoso, racista, machista, homofóbico, transfóbico lançado a eles rompe relações e perspectivas civilizatórias, étnico-raciais, de gênero e sexualidade. Humanidade de concessão que produz uma cidadania de concessão evidenciada na invisibilidade, no não acesso, na falta de oportunidades aos subalternizados. Humanidade edificada mediante ações de violência e brutalidade que, por sua vez, produzem uma subjetividade subalterna como fator de vulnerabilidade dos grupos invisibilizados, que consequentemente leva ao sofrimento psíquico.
A violência do inexistir é consequência das assimetrias e iniquidades históricas produzidas pela hierárquica relação de poder colonial. Nesse sentido faz-se imprescindível a problematização da interseccionalidade entre raça, gênero e sexualidade (LUGONES, 2007; ESPINOSA-MIÑOSO, 2014) para visibilizar as violências que se entrelaçam no cotidiano das relações interpessoais e sociais, tornando-se, às vezes, imperceptíveis por estarem naturalizadas e terem sido transformadas em hábitos legitimados na sociedade. Portanto, visibilizar e empoderar humanidades subalternizadas por meio de uma metodologia de atendimento engajada e politizada se constitui no desafio desse projeto. Uma problemática, portanto, evidenciada na necessidade de se construir práticas psicológicas insurgentes ao status quo, desencadeadoras de movimentos de resistir, (re)existir e (re)viver ao propor um outro lugar de escuta e fala às humanidades subalternizadas.

Metodologia

A primeira etapa constitui no levantamento do referencial teórico dos estudos decoloniais para subsidiar a elaboração do grupo terapêutico. Dentre as principais categorias de análise destacamos: colonialismo (FANON, 2005), colonialidade do poder (QUIJANO, 2000), colonialidade do ser (MALDONADO-TORRES, 2007), colonialidade do gênero (LUGONES, 2008)
A segunda etapa consiste na formação e no desenvolvimento do grupo terapêutico, cujos procedimentos são: 1) divulgação do grupo; 2) realização de entrevistas iniciais, por estagiários/as do curso de Psicologia, com pessoas encaminhadas ao grupo ou que buscaram espontaneamente atendimento psicológico; 4) início do grupo terapêutico.
As entrevistas iniciais objetivam a escuta, a avaliação e o estabelecimento de vínculo com os/as estudantes atendidos/as e serão realizadas em três encontros de cinquenta minutos cada. A cada entrevista, o caso será levado à supervisão pelas estagiárias e discutido com a supervisora acadêmica e as supervisoras locais. No último encontro das entrevistas iniciais o/a paciente será encaminhado/a ao grupo terapêutico. Aqueles casos cuja demanda não puder ser atendida nessa proposta metodológica serão encaminhados para outros serviços da rede.
O grupo terapêutico se caracterizará como aberto, compostos por até 12 (doze) pessoas, com duração máxima de duas horas e trinta minutos. A coordenação do grupo será realizada pelos/as estagiárias de psicologia, que serão acompanhadas e orientadas pela supervisora acadêmica e supervisoras locais.

Indicadores, Metas e Resultados

1) Implementação de um grupo terapêutico na Clínica Psicológica do Curso de Psicologia;
2) Atenção à demanda reprimida de atendimento psicológico;
3) Qualificação do cuidado em saúde mental de pessoa vitimadas pelo racismo, sexismo, homofobia e transfobia;
4) Fortalecimento da clínica ampliada no curso de Psicologia;
5) Qualificação na formação de psicólogos/as para atuarem com a interseccionalidade entre raça, gênero e sexualidade.

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
ANDREZZA SILVA DA SILVA
AYO MAIÁ FREITAS SANTOS
BRUNA BARCELOS DUARTE
CRISTIANA VIGORITO AFONSO
EVELLYN GONÇALVES DA ROSA
JOICE DA ROCHA RIBEIRO
JULIANA ANTUNES SOUZA2
LISANDRA BERNI OSORIO2
MARIA LEONOR MESQUITA TARQUES DA SILVA
MIRIAM CRISTIANE ALVES3
RENICE EISFELD MACHADO
TATIANE BORCHARDT DA COSTA
THAISE CAMPOS MONDIN2

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