Nome do Projeto
HEDUCA - História e Educação: textos, escritas e leituras
Ênfase
Pesquisa
Data inicial - Data final
01/06/2022 - 31/12/2025
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Humanas
Resumo
O projeto de pesquisa tem por objetivo compreender a circulação e os usos públicos da história, nos diferentes espaços e instituições sociais, expressos em textos, escritas e práticas de leitura de conteúdos históricos. Nessa direção, os objetivos específicos tangenciam diferentes dimensões para a compreensão de como o passado relaciona-se com as experiências do presente e as perspectivas de futuro, a partir de três possíveis abordagens: A) Textos de história – textos cujo conteúdo façam circular o conhecimento histórico sobre o passado da humanidade, assim como textos sobre os métodos de ensino da disciplina de história, em variados suportes, formatos e gêneros. Podendo ser contemplados na análise textos impressos ou digitais de conteúdo histórico, científico ou não, destinados aos mais variados públicos, tais como: livros e/ou materiais didáticos, manuais pedagógicos, revistas especializadas, livros historiográficos, coleções de história, enciclopédias, entre outros textos; considerando os processos de produção e circulação destes. B) Práticas de escritas da história – escrita, enquanto prática cultural, expressa em textos manuscritos (físicos ou digitais), decorrentes da apropriação do conhecimento histórico e da memória histórica, expressão da consciência histórica. Assim, tais práticas podem ser resultado dos processos de ensino e aprendizagem escolares ou acadêmicos, ou mesmo, de conhecimentos/saberes históricos que circulam em variadas instâncias sociais (família, espaços religiosos, associações, bibliotecas, mídias e redes sociais). Tais narrativas históricas podem ser observadas e analisadas em cadernos escolares, textos escolares avulsos, páginas da web, comentários de internautas em redes sociais, cartas, expressões artísticas (música, pichações), diários, textos memoriais, entre outros, que não tenham sofrido a intervenção de outros agentes que constituem o processo de edição e publicação, e que por esse motivo expressam apropriações históricas do próprio autor. C) Práticas de leitura da história – leitura, enquanto prática cultural, que compreende a apropriação dos leitores sobre textos científicos que fazem circular o conhecimento histórico e/ou textos diversos que contemplem no conteúdo narrativas do/sobre o passado da humanidade, promovidas por instituições escolares ou não, realizadas de forma individual ou coletiva, em diferentes suportes, formatos e gêneros textuais. A análise pode contemplar as práticas de leitura realizadas nas aulas de história, nos espaços públicos ou privados, em diferentes instancias sociais. De modo mais amplo, ao indicar três possíveis abordagens que podem estar associadas, interessa-nos compreender como os atores sociais historicamente apropriam-se do passado em processos de constituição da consciência histórica, por meio da cultura escrita. A partir do aporte teórico da História Cultural, com viés histórico, sociológico e/ou antropológico, os recortes temáticos realizados para a organização metodológica deste projeto, dialogam com os campos de pesquisa da História do Ensino de História, da Didática da História, da História do Livro e da Leitura e da Cultura Escrita.
Objetivo Geral
Compreender a circulação e os usos públicos da história, em diferentes instâncias sociais, contemplados em textos, escritas e práticas de leitura, ao analisar como os atores sociais historicamente apropriam-se do passado em processos de constituição da consciência histórica por meio da narrativa escrita.
Justificativa
O projeto contempla as investigações que vêm sendo realizadas no âmbito do Grupo de Pesquisa heduca (História e Educação: textos, escritas e leituras), cadastrado em 2020 no Diretório de Grupos do CNPQ, e vinculado ao PPPGH/UFPel. A investigação proposta tem como aporte teórico o referencial advindo da História Cultural, com viés histórico, sociológico e/ou antropológico, em diálogo com os campos de pesquisa da História do Ensino de História, da Didática da História, da História do Livro e da Leitura, e da Cultura Escrita. O objetivo geral está centrado em compreender a circulação e os usos públicos da história, em diferentes instâncias sociais, expressos em textos, escritas e práticas de leitura de conteúdos históricos, de modo mais específico, analisar como os atores sociais historicamente apropriam-se do passado em processos de constituição da consciência histórica por meio da narrativa escrita. Nessa direção, pelo menos três possíveis abordagens podem contribuir para a abrangência da problemática apresentada, a saber: a análise dos textos, das escritas e das leituras de conteúdo histórico.
Para compreender a circulação e usos públicos do passado, busca-se embasamento teórico na Didática da História, a partir do referencial oferecido por autores como Rüsen (2010, 2015), e Bergmann (1990). Para Rüsen a formação histórica consiste em “todos os processos de aprendizagem em que a “história” é o assunto e que não se destinam, em primeiro lugar, à obtenção de competências profissionais”. (2010, p.48). Neste sentido, a disciplina Didática da História entendida como a ciência da aprendizagem histórica, se ocupa de analisar “as formas e funções do raciocínio e conhecimento histórico na vida cotidiana, prática. Isso inclui o papel da história na opinião pública e as representações nos meios de comunicação de massa”. (RÜSEN, 2011, p. 32). Assim, o campo de pesquisa em Didática de História busca compreender a formação complexa da consciência história dos indivíduos, entendida como a “constituição de sentido da experiência do tempo”. (RÜSEN, 2010, p.59). Ou seja, investigar através das narrativas histórica a consciência histórica dos indivíduos, compreendia como a “suma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo (RÜSEN, 2010, p.57). Não se trata, portanto, da simples referência ao passado, mas de uma consciência do passado que possui relação com o entendimento do presente e com a expectativa de futuro.
Assim, a compreensão alargada de história e, por conseguinte de conhecimento histórico, discutida por Bergmann e Rüsen, consiste na relação que os indivíduos estabelecem com o passado ao produzirem sentido para vida prática, a partir de aprendizagens desenvolvidas em diferentes práticas sociais, como:
a) história vivida e experimentada no seu devir de todos os dias; b) história não experimentada nem vivida imediatamente, ou seja, transmitida, cientificamente ou não; c) história apresentada pela Ciência Histórica como uma disciplina específica, com as suas problemáticas específicas, intenções, hipótese e os seus pressupostos, teorias, métodos, categorias e resultados. (BERGMANN, 1990, p.30).
Ainda, para Rüsen (2010a), o aprendizado histórico ocorre quando o movimento de busca do conteúdo empírico do saber histórico nasce do próprio sujeito, de sua curiosidade empírica. Uma vez que o “aprendizado histórico não ocorre apenas no ensino de história, mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos aprendizes, nos quais a consciência histórica desempenha um papel." (2010a, p.91). Nesse sentido, a cultura histórica, definida como o modo pelo qual uma dada sociedade promove usos do passado, considerando a produção, transmissão e recepção do conhecimento histórico, consiste em sentidos históricos compartilhados (Rüsen, 2015). A Cultura Histórica como a articulação prática e operante da consciência histórica na vida de uma sociedade, expressa a forma como o passado torna-se relativamente coerente e vivo em uma dada sociedade, contemplando, contudo, múltiplas narrativas e distintos enfoques. Esse conjunto de ideias e representações do passado circulam nos mais variados formatos e suportes, a exemplo, dos romances históricos, dos filmes, dos livros didáticos, revistas de história, entre outros, que constituem a cultura histórica e que orientam as ações práticas no presente.
Como bem questiona Cerri (2011), por que se investe tanto em história atualmente? Quanto de passado há em nosso presente, e o quanto esse investimento determina nosso futuro? E ainda:
Para que a mobilização de um complexo empresarial de distribuição do conhecimento histórico, que vai de editoras de livros acadêmicos a livros de divulgação para o grande público, além de conteúdos digitais nas mais diversas mídias? Sobretudo, como explicar que esse movimento social do conhecimento histórico não faça conta da estrutura tradicional que, imaginamos, vai da produção de textos especializados à sua divulgação no sistema escolar?(CERRI, 2011, p. 22).
Por certo que a representação do passado e os sentidos do passado, mobilizam investimentos na produção, distribuição e consumo de textos históricos, que ultrapassam o consumo cultural, atingindo interesses econômicos e políticos, de forma sistematizada na sociedade atual. Tal perspectiva não pode ser negligenciada, visto que a consciência histórica dos indivíduos é constituída pela cultura histórica na qual esses estão imersos, diante dos diferentes (des)usos do passado. Neste sentido, o exercício de compreensão das formas de circulação e apropriação do passado na sociedade atual, contribui para que de forma propositiva e dialógica, o ensino escolar e acadêmico da história possa orientar os sujeitos no tempo, evitando usos indevidos e concepções históricas superadas (BERGMANN, 1990).
Ainda, em diálogo com o campo de pesquisa em História da Educação, mais especificamente no que ser refere a História do Ensino de História, percebe-se como significativo investigar as maneiras como a história constituiu-se como disciplina escolar, as concepções de ensino, as funções deste conhecimento escolar, as mudanças e permanências ao longo do tempo, entre outros processos históricos que possibilitam compreender as concepções teóricas e metodológicas do ensino e aprendizado da história. Para tanto, os textos escritos para esse universo, direcionados tanto para os professores quanto para os estudantes, se revelam como importantes objetos e fontes que pesquisa. Conforme apresenta Rüsen (2011), a concepção de que a didática da história compreende o ensino da história escolar colocando a pesquisa histórica e a educação histórica em campos opostos, é totalmente equivocada e limita a prática historiográfica. Ainda,
Para aqueles que estão atentos à história da disciplina de história, especialmente acerca da sua transformação em uma atividade profissionalizada, acadêmica, não deveria ser surpreendente que a didática possa desempenhar um papel na escrita e na compreensão histórica. (...) Ensino e aprendizagem eram considerados no mais amplo sentido, como o fenômeno e o processo fundamental na cultura humana, não restrito simplesmente à escola. (...) Durante o século XIX, quando os historiadores definiram sua disciplina, eles começaram a perder de vista um importante princípio, a saber, que a história é enraizada nas necessidades sociais para orientar a vida dentro da estrutura tempo. (Rüsen, 2011, p. 24, 25).
A “história mestra da vida” que até o século XIX norteou a historiografia ocidental, como princípio básico da escrita da história, posteriormente foi sendo desconsiderada em nome da institucionalização e profissionalização da história. Nesse processo histórico várias questões podem ser colocadas, entre elas: Quais princípios nortearam a escrita acadêmica e a escrita didática da história? Quais os distanciamentos possíveis de serem dimensionados, a partir da análise da historiografia didática e acadêmica da história? Quais as possibilidades de interconexão oferecidas, discutidas e praticadas no campo da Didática da história?
No que se refere aos meios de circulação das ideias e percepções de como o passado da humanidade se relaciona com experiências do presente e perspectivas de futuro, observa-se o quão rica é a aproximação com as pesquisas realizadas no campo da Cultura Escrita, ou Culturas do Escrito . Chartier (2001) conceitua e exemplifica o que compreende a cultura do escrito:
E a cultura do escrito vai desde o livro ou o jornal impresso até a mais ordinária, a mais cotidiana das produções escritas, as notas feitas em um caderno, as cartas enviadas, o escrito para sim mesmo, etc.[...]. Na cultura do escrito há um continuum desde a prática das escritas ordinária até a prática da escrita literária (CHARTIER, 2001, p. 84).
Em uma sociedade grafocêntrica em que todas as relações, de algum modo, são mediadas pelo escrito, compreender como os indivíduos se apropriam do passado por meio do escrito, pode enriquecer o processo de pesquisa levando a resultados mais consistentes sobre a constituição da consciência histórica. De igual modo, em uma perspectiva histórica ou sociológica, a História do Livro e da Leitura, ao investigar como as ideias eram transmitidas através do registro escrito, em diálogo com a oralidade, possibilita problematizar os modos de pensar historicamente de determinada sociedade. Neste sentido, ao analisar os textos, as escritas e as leituras de conteúdo histórico, em diálogo com conceitos próprios do campo de pesquisa das Culturas do Escrito, considera-se possível investigar a maneira pela qual as sociedades, grupos e/ou indivíduos ofereciam/oferecem sentido ao passado com a finalidade de orientar a vida prática através do tempo, ao produzirem e/ou apropriarem-se de narrativas históricas por meio do escrito.
Para compreender a circulação e usos públicos do passado, busca-se embasamento teórico na Didática da História, a partir do referencial oferecido por autores como Rüsen (2010, 2015), e Bergmann (1990). Para Rüsen a formação histórica consiste em “todos os processos de aprendizagem em que a “história” é o assunto e que não se destinam, em primeiro lugar, à obtenção de competências profissionais”. (2010, p.48). Neste sentido, a disciplina Didática da História entendida como a ciência da aprendizagem histórica, se ocupa de analisar “as formas e funções do raciocínio e conhecimento histórico na vida cotidiana, prática. Isso inclui o papel da história na opinião pública e as representações nos meios de comunicação de massa”. (RÜSEN, 2011, p. 32). Assim, o campo de pesquisa em Didática de História busca compreender a formação complexa da consciência história dos indivíduos, entendida como a “constituição de sentido da experiência do tempo”. (RÜSEN, 2010, p.59). Ou seja, investigar através das narrativas histórica a consciência histórica dos indivíduos, compreendia como a “suma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo (RÜSEN, 2010, p.57). Não se trata, portanto, da simples referência ao passado, mas de uma consciência do passado que possui relação com o entendimento do presente e com a expectativa de futuro.
Assim, a compreensão alargada de história e, por conseguinte de conhecimento histórico, discutida por Bergmann e Rüsen, consiste na relação que os indivíduos estabelecem com o passado ao produzirem sentido para vida prática, a partir de aprendizagens desenvolvidas em diferentes práticas sociais, como:
a) história vivida e experimentada no seu devir de todos os dias; b) história não experimentada nem vivida imediatamente, ou seja, transmitida, cientificamente ou não; c) história apresentada pela Ciência Histórica como uma disciplina específica, com as suas problemáticas específicas, intenções, hipótese e os seus pressupostos, teorias, métodos, categorias e resultados. (BERGMANN, 1990, p.30).
Ainda, para Rüsen (2010a), o aprendizado histórico ocorre quando o movimento de busca do conteúdo empírico do saber histórico nasce do próprio sujeito, de sua curiosidade empírica. Uma vez que o “aprendizado histórico não ocorre apenas no ensino de história, mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos aprendizes, nos quais a consciência histórica desempenha um papel." (2010a, p.91). Nesse sentido, a cultura histórica, definida como o modo pelo qual uma dada sociedade promove usos do passado, considerando a produção, transmissão e recepção do conhecimento histórico, consiste em sentidos históricos compartilhados (Rüsen, 2015). A Cultura Histórica como a articulação prática e operante da consciência histórica na vida de uma sociedade, expressa a forma como o passado torna-se relativamente coerente e vivo em uma dada sociedade, contemplando, contudo, múltiplas narrativas e distintos enfoques. Esse conjunto de ideias e representações do passado circulam nos mais variados formatos e suportes, a exemplo, dos romances históricos, dos filmes, dos livros didáticos, revistas de história, entre outros, que constituem a cultura histórica e que orientam as ações práticas no presente.
Como bem questiona Cerri (2011), por que se investe tanto em história atualmente? Quanto de passado há em nosso presente, e o quanto esse investimento determina nosso futuro? E ainda:
Para que a mobilização de um complexo empresarial de distribuição do conhecimento histórico, que vai de editoras de livros acadêmicos a livros de divulgação para o grande público, além de conteúdos digitais nas mais diversas mídias? Sobretudo, como explicar que esse movimento social do conhecimento histórico não faça conta da estrutura tradicional que, imaginamos, vai da produção de textos especializados à sua divulgação no sistema escolar?(CERRI, 2011, p. 22).
Por certo que a representação do passado e os sentidos do passado, mobilizam investimentos na produção, distribuição e consumo de textos históricos, que ultrapassam o consumo cultural, atingindo interesses econômicos e políticos, de forma sistematizada na sociedade atual. Tal perspectiva não pode ser negligenciada, visto que a consciência histórica dos indivíduos é constituída pela cultura histórica na qual esses estão imersos, diante dos diferentes (des)usos do passado. Neste sentido, o exercício de compreensão das formas de circulação e apropriação do passado na sociedade atual, contribui para que de forma propositiva e dialógica, o ensino escolar e acadêmico da história possa orientar os sujeitos no tempo, evitando usos indevidos e concepções históricas superadas (BERGMANN, 1990).
Ainda, em diálogo com o campo de pesquisa em História da Educação, mais especificamente no que ser refere a História do Ensino de História, percebe-se como significativo investigar as maneiras como a história constituiu-se como disciplina escolar, as concepções de ensino, as funções deste conhecimento escolar, as mudanças e permanências ao longo do tempo, entre outros processos históricos que possibilitam compreender as concepções teóricas e metodológicas do ensino e aprendizado da história. Para tanto, os textos escritos para esse universo, direcionados tanto para os professores quanto para os estudantes, se revelam como importantes objetos e fontes que pesquisa. Conforme apresenta Rüsen (2011), a concepção de que a didática da história compreende o ensino da história escolar colocando a pesquisa histórica e a educação histórica em campos opostos, é totalmente equivocada e limita a prática historiográfica. Ainda,
Para aqueles que estão atentos à história da disciplina de história, especialmente acerca da sua transformação em uma atividade profissionalizada, acadêmica, não deveria ser surpreendente que a didática possa desempenhar um papel na escrita e na compreensão histórica. (...) Ensino e aprendizagem eram considerados no mais amplo sentido, como o fenômeno e o processo fundamental na cultura humana, não restrito simplesmente à escola. (...) Durante o século XIX, quando os historiadores definiram sua disciplina, eles começaram a perder de vista um importante princípio, a saber, que a história é enraizada nas necessidades sociais para orientar a vida dentro da estrutura tempo. (Rüsen, 2011, p. 24, 25).
A “história mestra da vida” que até o século XIX norteou a historiografia ocidental, como princípio básico da escrita da história, posteriormente foi sendo desconsiderada em nome da institucionalização e profissionalização da história. Nesse processo histórico várias questões podem ser colocadas, entre elas: Quais princípios nortearam a escrita acadêmica e a escrita didática da história? Quais os distanciamentos possíveis de serem dimensionados, a partir da análise da historiografia didática e acadêmica da história? Quais as possibilidades de interconexão oferecidas, discutidas e praticadas no campo da Didática da história?
No que se refere aos meios de circulação das ideias e percepções de como o passado da humanidade se relaciona com experiências do presente e perspectivas de futuro, observa-se o quão rica é a aproximação com as pesquisas realizadas no campo da Cultura Escrita, ou Culturas do Escrito . Chartier (2001) conceitua e exemplifica o que compreende a cultura do escrito:
E a cultura do escrito vai desde o livro ou o jornal impresso até a mais ordinária, a mais cotidiana das produções escritas, as notas feitas em um caderno, as cartas enviadas, o escrito para sim mesmo, etc.[...]. Na cultura do escrito há um continuum desde a prática das escritas ordinária até a prática da escrita literária (CHARTIER, 2001, p. 84).
Em uma sociedade grafocêntrica em que todas as relações, de algum modo, são mediadas pelo escrito, compreender como os indivíduos se apropriam do passado por meio do escrito, pode enriquecer o processo de pesquisa levando a resultados mais consistentes sobre a constituição da consciência histórica. De igual modo, em uma perspectiva histórica ou sociológica, a História do Livro e da Leitura, ao investigar como as ideias eram transmitidas através do registro escrito, em diálogo com a oralidade, possibilita problematizar os modos de pensar historicamente de determinada sociedade. Neste sentido, ao analisar os textos, as escritas e as leituras de conteúdo histórico, em diálogo com conceitos próprios do campo de pesquisa das Culturas do Escrito, considera-se possível investigar a maneira pela qual as sociedades, grupos e/ou indivíduos ofereciam/oferecem sentido ao passado com a finalidade de orientar a vida prática através do tempo, ao produzirem e/ou apropriarem-se de narrativas históricas por meio do escrito.
Metodologia
Para dar conta do programa de pesquisa que se propõe, serão necessários diferentes procedimentos metodológicos, que contemplem os sujeitos, espaços e objetos que possibilitam compreender a circulação e os usos públicos da história. Uma das possibilidades que se apresenta para analisar como os indivíduos sociais apropriam-se do passado em processos de constituição da consciência histórica, por meio do escrito, é a análise de trajetórias individuais. Neste caso, o aporte metodológico advindo da sociologia à escala individual, na qual o social é abordado individualmente (LAHIRE, 2002, 2004, 2005), mostra-se bastante pertinente. A análise individual permite entender que existe uma pluralidade de pertenças sociais que constituem diferentes identidades históricas. Para tanto, a realização de uma série de entrevistas, notas de campo, e documentos pessoais disponibilizados pelos atores sociais, constituem as principais fontes de pesquisa. É importante considerar que ao se tratar da sociologia à escala individual a análise é realizada no sentido vertical, ou seja, no cruzamento de diversos dados que correspondem à trajetória de um mesmo indivíduo, estabelecendo assim, oposição à metodologia tradicional, cujos os dados são cruzados de forma horizontal, e os indivíduos são relacionados e comparados a partir das fontes que apontam as semelhanças e as diferenças pertinentes entre todas as trajetórias, fornecendo um resultado equivalente ao grupo investigado.
No que se refere à análise de textos que fazem circular o conhecimento histórico, o Acervo de Impressos e Livros Didáticos de História do Laboratório de Ensino de História (LEH/UFPel), coloca-se como um importante espaço para a realização destas pesquisas. O acervo possui cerca de 1700 livros didáticos de História, com data de publicação da segunda metade do século XIX aos dias atuais, além de revistas, coletâneas e coleções históricas. Assim, constitui-se como espaço de salvaguarda de materiais destinados às práticas de ensino e aprendizagem da disciplina de História e as mais diversas investigações sobre a circulação e usos do conhecimento histórico, considerando a produção, circulação e recepção dos livros didáticos e demais impressos de conteúdo histórico, conforme apresenta o artigo produzido por Manke e Alflen (2021).
Doravante, pesquisas que já vem sendo realizadas no âmbito deste projeto, que contemplam os textos impressos que fazem circular o conhecimento histórico têm buscado abarcar a materialidade e o conteúdo dos textos, em diálogo com a metodologia de análise de conteúdo desenvolvida por Laurence Bardin (1997), especialmente quando se trata de realizar uma análise temática, que “consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (BARDIN, 1977, p.105).
No que se refere às práticas de leitura realizadas no contexto escolar, de modo mais específico nas aulas de história, as pesquisas de cunho etnográfico se constituem como um importante aporte metodológico. A observação e descrição densa das práticas, somada a entrevistas e análise de materiais didáticos e cadernos escolares coloca-se como significativo para compreender os processos de aprendizagem, as apropriações e as narrativas históricas empreendidas no contexto escolar.
Ainda, as escritas contendo narrativas históricas ou proposta pedagógicas para o ensino de história, em ambos os casos, possibilitam analisar a cultura histórica de indivíduos ou coletividades, podendo ser analisadas em manifestações expostas em ambientes virtuais de comunicação. Sendo a internet um lugar de ampla circulação de informações, cada dia mais presente nas práticas educacionais, as investigações que se ocupam em compreender os processos de produção e apropriação do conhecimento histórico voltam-se necessariamente para esse espaço.
Em termos metodológicos ocorre a seleção e busca de sites que tenham publicado a respeito do caso, assim como de comentários de internautas em sites de notícias sobre o episódio, para posterior análise do conteúdo.
Portanto, as ações investigativas empreendidas por esta pesquisa, ao investigar e analisar a circulação e os usos da histórica, estão centradas no método historiográfico (CERTEAU, 1982), enquanto um conjunto de procedimentos de análise e sistematização de fontes histórias para a escrita da história, especialmente quando se debruça a compreender aspectos circunscritos na história do ensino de história, assim como estabelece o diálogo com outras áreas do conhecimento, como a educação, a antropologia e a sociológica, que oferecem suporte teórico e metodológico para o levantamento empírico sobre o ensino e aprendizagem da história, em espaços escolares e não escolares, produção, difusão e utilização do conhecimento histórico, com vistas a uma análise qualitativa dos dados.
No que se refere à análise de textos que fazem circular o conhecimento histórico, o Acervo de Impressos e Livros Didáticos de História do Laboratório de Ensino de História (LEH/UFPel), coloca-se como um importante espaço para a realização destas pesquisas. O acervo possui cerca de 1700 livros didáticos de História, com data de publicação da segunda metade do século XIX aos dias atuais, além de revistas, coletâneas e coleções históricas. Assim, constitui-se como espaço de salvaguarda de materiais destinados às práticas de ensino e aprendizagem da disciplina de História e as mais diversas investigações sobre a circulação e usos do conhecimento histórico, considerando a produção, circulação e recepção dos livros didáticos e demais impressos de conteúdo histórico, conforme apresenta o artigo produzido por Manke e Alflen (2021).
Doravante, pesquisas que já vem sendo realizadas no âmbito deste projeto, que contemplam os textos impressos que fazem circular o conhecimento histórico têm buscado abarcar a materialidade e o conteúdo dos textos, em diálogo com a metodologia de análise de conteúdo desenvolvida por Laurence Bardin (1997), especialmente quando se trata de realizar uma análise temática, que “consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (BARDIN, 1977, p.105).
No que se refere às práticas de leitura realizadas no contexto escolar, de modo mais específico nas aulas de história, as pesquisas de cunho etnográfico se constituem como um importante aporte metodológico. A observação e descrição densa das práticas, somada a entrevistas e análise de materiais didáticos e cadernos escolares coloca-se como significativo para compreender os processos de aprendizagem, as apropriações e as narrativas históricas empreendidas no contexto escolar.
Ainda, as escritas contendo narrativas históricas ou proposta pedagógicas para o ensino de história, em ambos os casos, possibilitam analisar a cultura histórica de indivíduos ou coletividades, podendo ser analisadas em manifestações expostas em ambientes virtuais de comunicação. Sendo a internet um lugar de ampla circulação de informações, cada dia mais presente nas práticas educacionais, as investigações que se ocupam em compreender os processos de produção e apropriação do conhecimento histórico voltam-se necessariamente para esse espaço.
Em termos metodológicos ocorre a seleção e busca de sites que tenham publicado a respeito do caso, assim como de comentários de internautas em sites de notícias sobre o episódio, para posterior análise do conteúdo.
Portanto, as ações investigativas empreendidas por esta pesquisa, ao investigar e analisar a circulação e os usos da histórica, estão centradas no método historiográfico (CERTEAU, 1982), enquanto um conjunto de procedimentos de análise e sistematização de fontes histórias para a escrita da história, especialmente quando se debruça a compreender aspectos circunscritos na história do ensino de história, assim como estabelece o diálogo com outras áreas do conhecimento, como a educação, a antropologia e a sociológica, que oferecem suporte teórico e metodológico para o levantamento empírico sobre o ensino e aprendizagem da história, em espaços escolares e não escolares, produção, difusão e utilização do conhecimento histórico, com vistas a uma análise qualitativa dos dados.
Indicadores, Metas e Resultados
A partir de um conjunto de estudos que vem sendo realizados no âmbito do grupo de pesquisa heduca, em respostas as carências de orientação histórica que vivenciamos, objetivamos contribuir com a história pública e a aprendizagem histórica. Ao compreendermos a circulação e os usos da história e, por conseguinte, as funções da narrativa histórica para indivíduos e grupos sociais, apontamos meios para fortalecer os processos escolares de aprendizagem da histórica que tenham sentido e significado para vida prática, e contribuam para o fortalecimento da identidade histórica e a atuação cidadã. De igual modo, almejamos ampliar o diálogo com a comunidade em geral, no que tange a história produzida na acadêmica, em um processo de circularidade entre os saberes históricos, a memória histórica e o conhecimento histórico científico.
Equipe do Projeto
Nome | CH Semanal | Data inicial | Data final |
---|---|---|---|
ALESSANDRA GASPAROTTO | |||
ARTHUR GARCIA BETEMPS | |||
Alvanir Ivaneide Alves da Silva | |||
Amanda Nunes Moreira | |||
CYRO LEONARDO DA ROSA SILVA | |||
DANIEL SIAS DA SILVA | |||
DANILO DE VASCONCELLOS FERREIRA | |||
ERIKA DOS SANTOS GILLMEISTER BONOW | |||
FÁBIO ALEXANDRE DA SILVA | |||
JOÃO PAULO GAMA OLIVEIRA | |||
JÉSSICA RENATA SANTOS SILVA | |||
KRISLEY HEPP DECKER | |||
LISIANE SIAS MANKE | 4 | ||
MARA INÊS ALFLEN | |||
MARIA PORTILHO BAGESTEIRO | |||
RAYANNE MATIAS VILLARINHO | |||
THAYNA LUIZA UHDE DALSASSO | |||
Vitória Gonçalves do Nascimento | |||
WILIAN JUNIOR BONETE | 3 |
Fontes Financiadoras
Sigla / Nome | Valor | Administrador |
---|---|---|
PROAP/CAPES / Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior | R$ 3.000,00 | Coordenador |
PROAP/CAPES / Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior | R$ 3.864,00 | Coordenador |