Nome do Projeto
Aproximação dos conhecimentos populares e científicos a respeito da biologia dos principais recursos pesqueiros do estuário da Lagoa dos Patos em Pelotas
Ênfase
Extensão
Data inicial - Data final
01/08/2024 - 30/04/2026
Unidade de Origem
Coordenador Atual
Área CNPq
Ciências Biológicas
Eixo Temático (Principal - Afim)
Meio ambiente / Educação
Linha de Extensão
Educação Ambiental
Resumo
O cenário atual, resultado do pensamento antropocêntrico e da exploração desenfreada dos recursos naturais, evidencia diversos problemas ambientais. Nesse sentido, a educação ambiental torna-se crucial, mas a pouca discussão dessa temática na Política Nacional de Educação e na Base Nacional Comum Curricular cria uma lacuna, especialmente em relação aos ecossistemas marinhos e costeiros que não são abordados no currículo da educação básica. Estudos indicam que a conscientização ambiental pode ser fortalecida por atividades práticas no ar livre como a pesca, assim o projeto pretende discutir com estudantes e pescadores sobre o ciclo de vida de espécies de pescado de seu ambiente e dia-a-dia para facilitar esse processo. O projeto propõe pesquisas sobre a biologia reprodutiva de peixes, integrando conhecimentos prévios culturais de pescadores e estudantes de escolas situadas em comunidades pesqueiras, com conhecimentos científicos através do desenvolvimento de materiais didáticos e palestras com o intuito de promover a conscientização, causando um impacto positivo não apenas os alunos, mas toda a comunidade local.

Objetivo Geral

Buscar e dividir conhecimentos científicos e populares a respeito da biologia dos principais recursos pesqueiros com comunidades do estuário da Lagoa dos Patos, em Pelotas.

Justificativa

A exploração desenfreada dos recursos naturais em virtude do sistema capitalista, trouxe consequências como a poluição, o aquecimento global, contaminação da água e diminuição da biodiversidade. Por isso, a educação ambiental faz-se imprescindível nas escolas e nas comunidades para auxiliar no combate desta problemática. Segundo a UNESCO (2005, p. 44), “Educação ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente”.
No entanto, de acordo com Frizzo e Carvalho (2018), a Política Nacional de Educação (PNE) não contempla a educação ambiental. Da mesma forma, a Base Nacional Comum Curricular não coloca a EA como “Objetivos de conhecimento”. Considerando que é a partir de documentos como este que irão guiar o que é ensinado nas escolas, e que no Rio Grande do Sul, professores relatam que não tiveram treinamento durante a graduação para a aplicação da EA (GASTMANN, JAEGER e FREITAS, 2022) entende-se que há uma lacuna que necessita ser preenchida quando a temática é educação ambiental, principalmente quanto ao assunto de ecossistemas marinhos e costeiros (EMC), já que esses não são abordados no currículo da Educação Básica nem mesmo em regiões costeiras. Desta forma, projetos de ensino, pesquisa e extensão de universidades assumem um importante papel, o qual é transmitir a informação gerada na academia.
Estudos precursores sobre pesca e educação ambiental sugerem que a construção de um senso de administração ambiental na juventude pode ser aprimorado pelo aprendizado prático em atividades ao ar livre, como a pesca. Apontam que cidadãos são mais propensos ao zelo ambiental quando são participantes ativos em uma atividade aquática. Assim, discutir com estudantes e pescadores sobre o ciclo de vida de espécies de pescado de seu ambiente e dia-a-dia, pode facilitar o processo de conscientização ambiental (Kelch & Berry (1993); Lichtkoppler, 1995). Com o mesmo intuito, informações sobre as capturas de pescadores desportivos geram informações relevantes para o manejo de estoques pesqueiros locais (Zheming & Clapp, 2013) Diários de pescadores amadores são ferramentas para estimar dados de pesca (Wolf-Christian et al.2023), estudar o manejo de espécies migratórias (Lerner, Levesque & Talaue-McManus, 2017), o acompanhamento de doenças (Hasegawa & Koizumi, 2023) ou mesmo a distribuição de espécies exóticas invasoras (Nelson at al., 2023).
Nesse sentido, o projeto prevê pesquisas sobre a biologia reprodutiva dos peixes da região, entrelaçando com os conhecimentos prévios culturais dos pescadores e estudantes para atender escolas situadas em regiões pesqueiras. Busca trabalhar a temática através de materiais didáticos e palestras, e assim promover a conscientização, ampliar os saberes científicos dessas pessoas, e causar um impacto positivo não apenas nos alunos, mas em toda a comunidade local.
Estudos da biologia reprodutiva das espécies de pescado abarcam informações indispensáveis para estimar o seu potencial reprodutivo, sua resiliência, e assim, aportar subsídios científicos para o manejo dos estoques e a maximização das capturas com sustentabilidade (Ofori-Danson et al, 2015; Kant et al, 2016).
A determinação de parâmetros reprodutivos como a fecundidade, índice gonadosomático (IGS)
e fator de condição corporal (K) são importantes variáveis de acompanhamento da capacidade reprodutiva de peixes e do manejo sustentável dos estoques (Armstrong & Witthames, 2012). O acompanhamento de parâmetros reprodutivos também tem sido reportado como biomarcadores (endpoints) da exposição de peixes a poluentes, especialmente os xenoestrógenos e fármacos antidepressivos de amplo uso (Prado et al, 2014; Vera-Chang et al, 2019).
Dentre as espécies de interesse comercial na pesca no extremo sul do Brasil, a traíra Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) merece destaque. Possui a maior importância comercial em lagoas costeiras da região em estudo. A espécie tem reprodução sazonal sincronizada a fatores ambientais (Loro, 2010), com desova parcelada, estendendo-se de setembro à fevereiro no estado do Paraná (Vazzoler, 1996). Estudos sobre a biologia reprodutiva dessa espécie no Rio Grande do Sul ainda são escassos, destacando-se apenas os estudos de Braun (2005) e Milani & Fontoura (2007) que abordam a biologia reprodutiva da traíra na Lagoa do Casamento. Entretanto, não existem estudos sobre a reprodução e manejo pesqueiro dessa importante espécie no estuário da Lagoa dos Patos, bem como para as Lagoas Mirim e Mangueira. Nestas lagoas a traíra é a espécie que predomina nas capturas, representando cerca de 70% do total capturado e também constitui o pescado de maior valor comercial (Corrêa et al. 2016). Piedras (1994) registrou que do total capturado na Lagoa Mirim em 1993, a traíra representou 40%, já nos registros do IBAMA (2005) a traíra representou 50,2% do total capturado. Da mesma forma que a traíra, as duas espécies de peixes-rei que ocorrem na região, Odontesthes bonariensis e O. humensis, contribuem significativamente na pesca artesanal, alcançando cerca de 6% do total pescado nas lagoas costeiras do RS. Porém, esse grupo de peixes tem recebido especial atenção e valorização nas atividades da pesca desportiva e na piscicultura, já sendo cultivado na Argentina, Bolívia e Japão.(citação).
Da mesma forma que para traíra, não são conhecidos dados da capacidade reprodutiva das espécies de peixe-rei locais.
Com os resultados da abordagem educacional, e das pesquisas com a biologia reprodutiva das espécies, pretende-se complementar e reconfigurar as ferramentas de repasse de conhecimento na forma do jogo didático e a cartilha dos pescadores como a atividade de extensão desse projeto.




Metodologia

Materiais didáticos são incorporados às estratégias de ensino para contribuir com a construção do conhecimento e dar sentido aos conceitos curriculares (CHASSOT, 2003). Seguindo esse conceito, para trabalhar os assuntos observados na pesquisa, e aproximar conhecimentos prévios culturais dos pescadores e estudantes, o projeto será implantado em regiões pesqueiras, tanto nas escolas quanto na comunidade, onde serão utilizados recursos como jogos, palestras e uma cartilha contendo informações sobre peixes da região.

Palestras
Serão realizadas duas palestras por semestre em duas escolas de ensino fundamental/médio. As escolas-alvo do projeto estão localizadas no Laranjal e na colônia de pescadores de Pelotas (Z3), onde as palestras, com cerca de 50min, terão enfoque no ciclo de vida das espécies de maior importância comercial: a corvina Micropogonias furnieri, a tainha Mugil cephalus, o linguado Paralichthys orbignyanus, o peixe-rei odonthestes bonariensis e a traíra Hoplias malabaricus. Ao término das palestras, serão apresentados a cartilha e o jogo de trunfo como complemento didático.

Jogo Super Trunfo
O jogo escolhido é inspirado no “super trunfo”, e consiste nas mesmas regras, porém além do divertimento, tem por objetivo a aprendizagem. O baralho possuirá em torno de 16 cartas com as espécies de pescado locais, com foto, nome comum, nome científico e características biológicas marcantes do ciclo de vida relacionadas a sua importância como recurso pesqueiro e como fatores determinantes quando se pensa na preservação desses estoques, quais sejam: safra, longevidade, tamanho máximo, fecundidade, tamanho primeira desova, habitat, alimentação, abundância e tolerância à salinidade. A competição dar-se-á pela comparação entre os valores em módulo apresentados para cada um desses fatores, entre as espécies. As espécies incluídas nas cartas serão a corvina Micropognias furnieri, a tainha Mugil platanus, a traíra Hoplias malabaricus, o linguado Paralichthys orbignyanus, o jundiá Rhandia aff. quellen, os peixes-rei de água-doce Odontesthes bonariensis e Odontesthes humensis, o pintado Pimelodus maculatus, a enxova Pomatomus saltatrixas, as tambicas Oligosarcus jenynsii e Oligosarcus robustus, o papa-terra Menticirrhus americanus, o cará-cará Geophagus brasiliensis, o peixe-rei estuarino Atherinella brasiliensis, o bagre Genidens barbus, a miragaia Pogonias courbina, sendo essas duas últimas classificadas como em risco de extinção.Os baralhos serão repassados aos alunos para que levem para suas casas e apresentem a familiares.

A Cartilha de pesca
A cartilha, abordará fotos e informações gerais e especialmente aquelas de relevância para gestão dos recursos pesqueiros a serem tratados, incluindo as mesmas espécies e informações do jogo proposto, porém de forma mais aprofundada. Incluirá uma chave dicotômica simplificada para identificação das espécies por leigos, bem como o contato do laboratório, por e-mail para retirada de dúvidas e troca de informações. Além de ser utilizada no ambiente escolar, cópias serão distribuídas gratuitamente para pescadores artesanais e desportistas na praia do Laranjal e na Colônia Z3, e estará disponível em website. Inicialmente pretende-se imprimir e distribuir 100 cópias das cartilhas. As cartilhas serão repassadas aos alunos para que levem para suas casas e apresentem a familiares, bem como a pescadores profissionais ou desportistas.

Site de atendimento ao público
Será mantido um "site" para acesso público as palestras, jogos e cartilhas, além do atendimento à dúvidas e sugestões. O site deverá ser disponibilizado junto à página do Instituto de Biologia durante a vigência do projeto.


Determinação do tamanho de primeira maturação e da fecundidade
As pesquisas sobre a biologia reprodutiva traíra H. malabaricus e o peixe-rei O. bonariensis. Para tanto, serão realizadas amostragens bimensais sob coleta com redes de emalhe, com malhas de 20,30,35,40 e 50mm entre nós, medindo 50m de comprimento por 1m de altura. As redes serão dispostas, por 24h consecutivas (sendo revisadas a cada 6h), na praia do Laranjal (31°45'37"S 52°13'31"W). Os peixes coletados, separados por malha de rede, serão pesados, medidos e dissecados para análise descritiva do grau de desenvolvimento gonadal, cálculo do índice gonadosomático (IGS), amostragem para estudos histológicos e cálculo da fecundidade total e relativa. A fecundidade será inferida pela identificação e contagem das diferentes classes de ovócitos em desenvolvimento, por grama de gônada e peso de peixe. O fígado será pesado para cálculo do índice hepatosomático (IHS). As amostras de gônada serão fixadas em formol tamponado 4%, por 24h e conservadas em álcool 70%. A histologia seguirá as técnicas clássicas de preparo e coloração em hematoxilina eosina. Peixes ainda vivos, no momento da coleta, serão sacrificados por sedação aprofundada, em banho de benzocaína a 200mg/L, atendendo os princípios éticos do uso de animais na pesquisa. As coletas serão realizadas sob licença do ICMBio no. 87247.




Avaliação
O projeto não se limita a utilização das ferramentas didáticas propostas, o intuito é gerar debates a respeito da temática escolhida, para isso anteriormente a aplicação dessas atividades, será realizado uma roda de conversa nas escolas atendidas, que terá por intuito identificar os saberes prévios desses estudantes para aprimorar o processo de ensino aprendizagem. Tais conhecimentos servem como ponto de ancoragem e possibilitam a aquisição de novas ideias, que serão confrontadas com a nova realidade dos saberes após a aplicação da metodologia proposta. Para isso, será aplicado um questionário aos alunos durante essa primeira roda de conversa e após a aplicação da metodologia, para confronto dos saberes.

Indicadores, Metas e Resultados

Os indicadores serão o número de palestras realizadas, o número de jogos distribuídos, de sessões de jogos realizadas, o número de cartilhas entregues e de correspondências mantidas por e-mail com o público alvo.
As metas incluem a popularização dos conhecimentos científicos da biologia das espécies de pescado local, a determinação do tempo de puberdade e da fecundidade da traíra e do peixe-rei;

Equipe do Projeto

NomeCH SemanalData inicialData final
CAROLINE DA SILVA ABRAAO
DIEGO MOREIRA DE SOUZA2
GILSON DE MENDONCA2
JOAO PEDRO LEAL GOMEZ DE VARGAS
KAILANE FLORES MARTINS
MAIRA LOPES DA SILVA
MONIKE AMORIM DA SILVEIRA
RICARDO BERTEAUX ROBALDO5

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