A temática “Estudo de Aula como processo formativo de professores que ensinam Matemática na Educação Básica” se inscreve nas discussões e investigações sobre a formação continuada de professores que ensinam Matemática na Educação Básica (FIORENTINI et al., 2002; FIORENTINI, NACARATO, 2005; PASSOS et al., 2006; CRECCI; FIORENTINI, 2018), pelo viés do estudo de aula (Lesson Study), como um processo formativo de desenvolvimento profissional (PONTE et al., 2015; QUARESMA, PONTE, 2017; RICHIT, PONTE, QUARESMA, 2021). Ao trazermos essa temática, destacamos a necessidade de aproximar a formação de professores dos contextos educacionais, da prática profissional e das aprendizagens dos alunos (PONTE et al., 2016, PONTE et al., 2017).
Pontuamos a necessidade de discutirmos a formação de professores da Educação Básica, pois a Pandemia da Covid-19 trouxe o afastamento social, o fechamento das escolas, o ensino remoto, o ensino híbrido e a reabertura das escolas trouxeram muitas problemáticas em relação ao ensino e a aprendizagem de Matemática (SILVA et al., 2021; HASSTENTEUFEL; PERTILE, 2021). Muitos efeitos foram produzidos pela pandemia, mas antes dessa situação, havia a necessidade de problematizar a docência, a formação continuada, os processos de desenvolvimento profissional e, principalmente as aprendizagens dos alunos.
Defendemos a formação continuada, na perspectiva do desenvolvimento profissional, em que o estudo de aula é entendido como um processo formativo, centrado na prática profissional, com caráter colaborativo e reflexivo (PONTE et al., 2015; QUARESMA, PONTE, 2015; PONTE et al., 2022). O estudo de aula é um processo formativo comum no Japão, fazendo parte do planejamento anual das escolas e tem sido disseminado para vários países, principalmente a partir da publicação do livro The Teaching Gap (STIGLER, HIEBERT, 1999). No Japão, os professores desde o início da sua carreira profissional são responsáveis pelo processo de formação, que é um processo contínuo de desenvolvimento profissional.
Um dos componentes desse processo de desenvolvimento profissional é desencadeado pelo estudo de aula, entendido como um processo formativo, que envolve a colaboração, a partilha e a reflexão, de um grupo de professores que se reúnem, na perspectiva de planejar uma aula, de discutir sobre as estratégias de resolução dos alunos, de lecionar e de refletir sobre o processo desenvolvido (RICHIT; PONTE, 2017; QUARESMA; PONTE, 2019). Perry e Lewis (2009) consideram que o estudo de aula incorpora as características do desenvolvimento profissional, usado há muitos anos no Japão, com histórico de sucesso, tanto para o desempenho dos alunos como para o aperfeiçoamento profissional dos professores de modo individual e coletivo.
Em Portugal, várias pesquisas foram e são realizadas envolvendo o estudo de aula como processo de desenvolvimento profissional, na formação contínua e na formação inicial de professores e em diversas disciplinas do ensino básico e secundário (PONTE et al., 2018). Mas como alertam os autores, o estudo de aula difere de um país para outro e mesmo de uma vivência para outra, devido as diferenças de contexto, as condições locais, os objetivos, dentre outros aspectos.
No Brasil, o estudo de aula pode ser denominado, como informam Bezerra e Morelatti (2018), como “Pesquisa de Aula” ou “Estudo e Planejamento de Lições”. E apenas três grupos de pesquisas têm se dedicado aos estudos de aula como campo de investigação, de acordo com Utimira, Borelli e Curi (2020) e Richit, Ponte e Tomkelski (2019). Como dizem os autores, apesar do estudo de aula ter se disseminado por vários países, no Brasil ainda são poucas as pesquisas com essa temática, principalmente no estado do Rio Grande do Sul (RS). Destacamos no RS, as pesquisas da professora Dra. Adriana Richit, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), no município de Erechim.
Desse modo, a proposta deste Projeto está vinculada com a realização do projeto de pós-doutoramento na Universidade de Lisboa, no Instituto de Educação, em que participamos de processos formativos de estudo de aula desenvolvido em uma escola, em Sintra, Portugal e organizamos outro, no Brasil, em uma escola, em Pelotas/RS. Isso nos levou a organizar um projeto que possa continuar as discussões iniciadas no pós-doutoramento e ampliar essas investigações, pois acreditamos na potencialidade de envolver os professores que ensinam Matemática, em exercício nas escolas de Educação Básica, em processos formativos desencadeados pelos estudos de aula. Argumentamos que o estudo de aula como processo formativo pode contribuir para os professores trabalharem de modo colaborativo, no sentido de identificarem as dificuldades dos alunos, e preparam em detalhe uma aula que depois observam e analisam em profundidade”, ou seja, “realizam uma pequena investigação sobre a sua própria prática profissional, em contexto colaborativo” (PONTE et al., 2016, p. 869). Consideramos que pode contribuir com a prática profissional, oportunizando aos professores planejarem as aulas de forma colaborativa, antecipando as dificuldades e as estratégias de resolução dos alunos, além de ministrarem a aula planejada, de refletirem sobre a vivência na sala de aula, na perspectiva de relacionarem a prática docente com as aprendizagens anteriores e com o desenvolvimento dos conhecimentos (MARTINS; PONTE; MATA-PEREIRA, 2023).
Assim, com esta investigação, intencionamos investigar e analisar a formação de professores que ensinam Matemática na Educação Básica, em processos formativos de estudo de aula. Para tanto, pretendemos responder os seguintes questionamentos: a) Como os estudos de aula colaboram com a formação e o desenvolvimento profissional de professores que ensinam Matemática na Educação Básica? b) De que modo os processos formativos, desenvolvidos por estudos de aula, possibilitam melhorias no ensino e na aprendizagem de Matemática?